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FUTEBOL
Os técnicos: Platão
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Caverna das Almas era uma
cidade estranha.
Ela possuía um grande estádio
municipal, o Cavernão, e quase
toda a população ia às suas arquibancadas para ver jogos de futebol. Mas aí é que vem a estranheza. Nos jogos de futebol do Cavernão não havia jogadores. Existia o gramado, existia o círculo
central, mas não havia jogadores.
Nem traves. No lugar de cada
uma, colocou-se uma grande televisão, e os filhos de Caverna das
Almas torciam pelos jogos que
passavam na tela.
Platão Aires era o técnico. Não
de futebol, mas dos televisores.
Não havia ninguém em Caverna
das Almas capaz de consertar os
aparelhos como ele. Bastava escutar o chiado da TV para dizer:
- É válvula.
Devo lembrar que estamos falando do tempo da televisão em
preto-e-branco, quando volta e
meia os aparelhos apresentavam
algum tipo de pane. Às vezes a
imagem ficava esticada, outras
vezes ficava gorducha. Era terrível quando ela cismava de subir,
subir, subir... ou descer, descer,
descer... sem jamais se fixar no
quadro do visor.
Mas, para todos esses problemas, havia uma solução: Platão.
Um dia, porém, Platão Aires teve que ir até uma cidade vizinha
chamada Montanha dos Anciãos.
E lá ele viu que o futebol poderia
ser diferente. Naquela cidade os
jogos no estádio municipal eram
com pessoas de verdade. Então ele
pôde ver que os jogadores suavam
em campo, pôde ouvir as torcidas
gritando, pôde ouvir as conversas
entre os jogadores, pôde até levar
uma bolada.
Quando voltou para Caverna
das Almas, Platão fez questão de
contar o que havia visto. Quando
o estádio estava lotado para mais
uma telepartida, ele foi até o círculo central e disse:
- Meus caros concidadãos,
meus irmãos de Caverna das Almas, meus queridos amigos: Estive fora desta cidade e lá aprendi
muitas coisas. Aprendi que a televisão pode ser uma excelente diversão, mas não substitui a verdadeira experiência de um jogo
de futebol. Sim, meus amigos, fui
a um lugar onde as pessoas jogam
futebol de verdade.
Naquela hora a platéia disse:
"Oh!".
- Sim, companheiros cavernosos, uma partida pela tevê nos
mostra como é o futebol, mas
uma partida ao vivo é o próprio
futebol! Um jogo jogado tem cheiro, cores, dimensões e formas, enquanto um jogo assistido nos limita a essa forma achatada e a
esse recorte quadrado e sem graça
do tubo. Um jogo jogado tem choques e encontrões, abraços e comemorações. Ele é uma celebração, e o que eu proponho agora,
amigos, é que joguemos uma partida em vez de assisti-la. O que
vocês acham?
Os munícipes se entreolharam,
coçaram suas cabeças e parece
que não acharam a idéia muito
interessante. Porém a essa altura
Platão já estava dominado pela
emoção. Tanto que foi além e
afirmou:
- Eia! Vamos! Vamos quebrar
as televisões!
Foram suas últimas palavras.
20%
Chegamos a 20% do Campeonato Brasileiro. Um quinto do
torneio já se foi. E, por enquanto, o Cruzeiro parece ser o franco favorito. O time tem bom esquema tático e bons valores individuais. Além disso, seus adversários mais próximos não
metem muito medo. Posso estar enganado (o que é muito comum), mas o Internacional parece estar com mais pontos do
que merece, assim como o Atlético-MG estava havia algumas
rodadas. Santos e São Paulo
têm bons times, mas um está
sendo atrapalhado pela Taça
Libertadores da América e outro sofre com a polêmica interna. O Corinthians varia de acordo com a lua, ao Paraná, ao
Fluminense e ao São Caetano
sobra vontade, mas falta habilidade, e com o Flamengo dá-se
justamente o contrário.
E-mail torero@uol.com.br
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