UOL


São Paulo, terça-feira, 20 de maio de 2003

Texto Anterior | Índice

FUTEBOL

Os técnicos: Platão

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Caverna das Almas era uma cidade estranha.
Ela possuía um grande estádio municipal, o Cavernão, e quase toda a população ia às suas arquibancadas para ver jogos de futebol. Mas aí é que vem a estranheza. Nos jogos de futebol do Cavernão não havia jogadores. Existia o gramado, existia o círculo central, mas não havia jogadores. Nem traves. No lugar de cada uma, colocou-se uma grande televisão, e os filhos de Caverna das Almas torciam pelos jogos que passavam na tela.
Platão Aires era o técnico. Não de futebol, mas dos televisores. Não havia ninguém em Caverna das Almas capaz de consertar os aparelhos como ele. Bastava escutar o chiado da TV para dizer:
- É válvula.
Devo lembrar que estamos falando do tempo da televisão em preto-e-branco, quando volta e meia os aparelhos apresentavam algum tipo de pane. Às vezes a imagem ficava esticada, outras vezes ficava gorducha. Era terrível quando ela cismava de subir, subir, subir... ou descer, descer, descer... sem jamais se fixar no quadro do visor.
Mas, para todos esses problemas, havia uma solução: Platão.
Um dia, porém, Platão Aires teve que ir até uma cidade vizinha chamada Montanha dos Anciãos. E lá ele viu que o futebol poderia ser diferente. Naquela cidade os jogos no estádio municipal eram com pessoas de verdade. Então ele pôde ver que os jogadores suavam em campo, pôde ouvir as torcidas gritando, pôde ouvir as conversas entre os jogadores, pôde até levar uma bolada.
Quando voltou para Caverna das Almas, Platão fez questão de contar o que havia visto. Quando o estádio estava lotado para mais uma telepartida, ele foi até o círculo central e disse:
- Meus caros concidadãos, meus irmãos de Caverna das Almas, meus queridos amigos: Estive fora desta cidade e lá aprendi muitas coisas. Aprendi que a televisão pode ser uma excelente diversão, mas não substitui a verdadeira experiência de um jogo de futebol. Sim, meus amigos, fui a um lugar onde as pessoas jogam futebol de verdade.
Naquela hora a platéia disse: "Oh!".
- Sim, companheiros cavernosos, uma partida pela tevê nos mostra como é o futebol, mas uma partida ao vivo é o próprio futebol! Um jogo jogado tem cheiro, cores, dimensões e formas, enquanto um jogo assistido nos limita a essa forma achatada e a esse recorte quadrado e sem graça do tubo. Um jogo jogado tem choques e encontrões, abraços e comemorações. Ele é uma celebração, e o que eu proponho agora, amigos, é que joguemos uma partida em vez de assisti-la. O que vocês acham?
Os munícipes se entreolharam, coçaram suas cabeças e parece que não acharam a idéia muito interessante. Porém a essa altura Platão já estava dominado pela emoção. Tanto que foi além e afirmou:
- Eia! Vamos! Vamos quebrar as televisões!
Foram suas últimas palavras.

20%
Chegamos a 20% do Campeonato Brasileiro. Um quinto do torneio já se foi. E, por enquanto, o Cruzeiro parece ser o franco favorito. O time tem bom esquema tático e bons valores individuais. Além disso, seus adversários mais próximos não metem muito medo. Posso estar enganado (o que é muito comum), mas o Internacional parece estar com mais pontos do que merece, assim como o Atlético-MG estava havia algumas rodadas. Santos e São Paulo têm bons times, mas um está sendo atrapalhado pela Taça Libertadores da América e outro sofre com a polêmica interna. O Corinthians varia de acordo com a lua, ao Paraná, ao Fluminense e ao São Caetano sobra vontade, mas falta habilidade, e com o Flamengo dá-se justamente o contrário.

E-mail torero@uol.com.br


Texto Anterior: Basquete - Melchiades Filho: Lição de casa
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.