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São Paulo, terça-feira, 20 de maio de 2003

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BASQUETE

Lição de casa

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Acabou a angústia do vestibular. Pela primeira vez, a taça do Nacional masculino ficará em mãos de uma universidade.
Um dos semifinalistas pertence a uma instituição de ensino -e assim está registrado no torneio: a equipe de Ribeirão Preto, propriedade da rede COC.
Os outros três classificados buscaram no dinheiro da educação a força para furar o bloqueio do eixo RJ-SP: o goiano Ajax, bancado pelo grupo Universo, e os mineiros Uberlândia e Minas Tênis, sustentados pelo grupo Universo.
(Não houve erro de digitação. Três das quatro equipes que ainda jogam pelo título vivem da mesma fonte de recurso, disparate já analisado neste espaço.)
Os mata-matas premiam, com isso, o único agente financeiro que o basquete conseguiu atrair nos últimos cinco anos.
Ganha força -até entre quem de fato trabalha pela saúde do esporte- a idéia de acabar com a "hipocrisia" do patrocínio e converter o circuito nacional em um campeonato universitário.
Inspirada na estrutura norte-americana, que há décadas consolida a força do país no esporte olímpico, ela parte do pressuposto (correto) de que as escolas são uma nascente de praticantes e aficionados -e consumidores.
Mas ignora o esfacelamento do ensino público brasileiro, hoje com outras prioridades, e o descompromisso da nova universidade privada -que, em muitos casos, traduz o discurso de inclusão social em manual de caça a matrículas. E despreza que, nos EUA, há um vínculo fortíssimo da universidade com a população do Estado onde fica sua sede, o que não ocorreria nas entidades multicampi que faturam no Brasil.
O investimento das redes de ensino foi fundamental no basquete nos últimos anos. Imagine o que teria sido do Nacional caso COC, Universo, Uniara etc. não tivessem apostado na modalidade como tiro de marketing. O Paulista, especialmente, já teria batido às portas da falência, como atesta a via-crúcis da cada vez mais endividada equipe de Franca.
Mas, exatamente por causa dessa dependência, a nova parceria também oferece perigos.
O que aconteceria se as universidades refluíssem? Quem seguraria o basquete em Araraquara? Em Porto Alegre? Em Goiânia?
Na origem de tudo, está a fragilidade do modelo administrativo.
Enquanto a CBB não organizar o campeonato como uma liga e fizer de tudo para fortalecer o vínculo das cidades (torcedor) com o esporte, este ficará sempre à mercê do mecenas do momento.
Não é por outra razão que o Nacional caminha para o segundo campeão inédito consecutivo.
O discurso oficial alegará que o basquete expandiu as fronteiras.
Mas esta coluna prefere enxergar a esquizofrenia econômica dos competidores. E lembrar a ressaca dos clubes "de futebol" do Rio, apontados pelos mesmos dirigentes como a solução há menos de cinco anos: Vasco e Flamengo despediram-se melancolicamente dos playoffs logo na primeira rodada, ao passo que Botafogo e Fluminense desistiram dos profissionais e hoje se ajoelham para manter as categorias de base.

Boletim 1
Marcelinho (Pinheiros), Hélio (Londrina) e Marquinhos (Vasco). Nenhuma revelação do Nacional pintou em time de universidade.

Boletim 2
As semifinais reúnem as quatro melhores equipes da primeira fase.

Boletim 3
Entre os basqueteiros, fala-se muito na dissolução do Vasco (de novo!) e na contratação de Hélio Rubens por uma equipe da Universo.

Boletim 4
Eliminada pelo arqui-rival COC, a Uniara define na semana que vem como (e se?) manterá os investimentos no basquete araraquarense.

E-mail melk@uol.com.br


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