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Denílson é o símbolo dos novos tempos
ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas
Antes de mergulharmos nessa taça transbordante de fel ou
hidromel -isso quem nos dirá
será o time de Zagallo, na
França-, deixem-me fechar a
agenda desta primeira metade
da temporada.
Foi um tempo de generosa
safra e de prolongada estiagem
também. Quer dizer: por aqui,
tivemos um campeonato que,
no fim das contas, cumpriu
seus desígnios -os grandes foram devidamente poupados
daquela fase classificatória,
sempre extenuante e deficitária, e só entraram na hora do
filé mignon, que é, aliás, como
deve ser mesmo. Resultado:
tanto foi profícuo o primeiro
tempo do torneio, só com os
pequenos, reforçados com a
Lusa, quanto o segundo. O que
deixou um travo amargo foi
um juiz argentino que impediu a Lusa de disputar o título.
Mas, no fim, ganhou o melhor. Não apenas o time mais
bem preparado técnica, tática
e fisicamente. Mas o time que
ousou, por força das características dos jogadores escalados, praticar um futebol, ao
mesmo tempo, bonito, sintonizado com a velha escola brasileira de jogar bola, e eficiente.
E aqui, como num aceno de
até breve, elejo Denílson o jogador que simboliza esses novos tempos que, espero, advirão. Pois aos seus pés mágicos
se concentram todas as qualidades que se exigem dos verdadeiros craques: habilidade
incomum, destemor, obediência tática aliada a um grau de
individualidade invejável e,
sobretudo, senso de participação. É o mesmo Denílson irreverente, moleque, fantasista,
até mesmo debochado, que fica lá na frente brincando de
esconde-esconde com a bola e
os zagueiros inimigos, que,
quando seu time é atacado,
vem aqui atrás brigar pela recuperação do seu bem mais
precioso -o objeto do jogo e
do desejo de qualquer menino.
Eis por que fico com os cabelos eriçados quando ouço
aqueles mesmos críticos, que
há bem pouco tempo ficavam
esganiçando o chavão colhido
nas arquibancadas -"Solta a
bola, Denílson!"-, agora, sentenciando, do alto de sua cegueira, que esse menino tem de
jogar é lá na frente, aberto na
ponta, como um bibelô rococó.
Mais sábio do que todos eles,
neste caso específico, é Zagallo,
que quer se ver em Denílson.
Isto é: um jogador absolutamente integrado ao esquema
que exige participação múltipla. Meu Deus!, se ele tem fôlego, técnica e predisposição para cumprir várias tarefas, por
que limitá-lo a uma só?
Mesmo porque, vindo aqui
combater, ele pode explorar as
várias facetas de seu futebol
contagiante: os dribles em sequência, na mais alta velocidade, o passe justo, o lançamento, as tabelas, enfim, tudo
aquilo que lhe permite escapar
de uma marcação rígida e burocrática. Ora, se, ao contrário, ele ficar lá na frente, colado à linha marginal do campo,
será sempre presa mais fácil
para o marcador.
Claro que, por instinto e percepção, Denílson irá com frequência àquela zona do campo que lhe tem sido tão pródiga. Mas o fará na sequência da
jogada que nasce com ele mesmo no meio-campo, de surpresa, quando o lateral estiver à
sua caça e a defesa inimiga virada ao avesso. Aí, sim.
PS: Ah, sim, a estiagem fica
por conta do Estadual do Rio,
uma ópera bufa inacabada.
Alberto Helena Jr. escreve às quartas, domingos e segundas
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