São Paulo, quarta-feira, 20 de junho de 2001

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Com treino às 8h30, técnico da seleção já muda 1º hábito em Teresópolis

Scolari impõe "madrugada"

Antonio Gaudério/Folha Imagem
O técnico Luiz Felipe Scolari observa o atacante Romário durante treinamento da seleção na Granja Comary, ontem, em Teresópolis


Treinador, que tem fama de durão, também faz atletas ensaiarem passes e cobra marcação mais forte de Romário, a principal estrela

SÉRGIO RANGEL
ENVIADO ESPECIAL A TERESÓPOLIS

O técnico Luiz Felipe Scolari impôs ontem seu estilo na seleção brasileira. No segundo dia na Granja Comary, Scolari justificou a sua fama de durão ao comandar o primeiro treino da equipe.
O novo técnico da seleção pôs os jogadores em campo às 8h30. Nunca, na história do CT em Teresópolis (RJ), que serve de concentração para a equipe nacional desde os anos 80, a seleção havia começado a treinar tão cedo.
Wanderley Luxemburgo, que foi o último técnico a trabalhar na Granja Comary, marcava os treinos da equipe para as 10h.
O novo horário imposto por Scolari obrigou os jogadores a treinar no campo coberto de orvalho. O técnico disse que optou por adiantar o horário do treino para fugir da neblina, que toma conta da cidade após as 17h.
"Os jogadores têm que raciocinar que, com o treino começando por volta das 8h30, eu consigo acabar o último trabalho antes das 17h, quando começa a neblina", justificou Scolari
Os jogadores não esconderam o desconforto com o novo horário imposto pelo técnico. No início do treino, vários atletas estavam ainda com aparência sonolenta.
"Treinar neste horário quebra. É muito difícil, mas o homem mandou. Agora, nós temos que cumprir", afirmou o atacante Romário, que considera "madrugada" acordar antes de 9h.
Apesar das caras de sono dos jogadores, Scolari disse que manterá os treinos às 8h30.
"Não estou preocupado em desagradar os jogadores. Para o treino começar mais tarde, tenho que pedir a Deus para que a neblina não caia após as 16h30. Como eu vou falar com ele?", afirmou.
Como se não bastasse o horário do treino, o técnico foi exigente com os jogadores no campo. Ele obrigou os atletas a treinar passes, fato raro na Granja Comary.
Tradicionalmente, os técnicos da seleção não gostam de treinar esse fundamento para não irritar os atletas, a maioria consagrados.
"Gosto de treinar passes. Não posso abrir mão disso. Se errarmos um passe, vamos facilitar para os adversários", disse Scolari.
Também houve treino específico de marcação, um das principais caraterísticas dos times já comandados pelo técnico.
Durante a sessão, ele cobrava empenho dos jogadores. O atacante Romário, que não gosta de marcar adversários, foi acompanhado de perto pelo treinador.
Scolari não se intimidou com o atacante. Durante todo o treino de marcação, ele cobrava o atacante. "Vai lá Romário", orientou o técnico, em uma ocasião. "Vamos correr", gritou, em outro momento, para o atacante.
No início, o jogador deu carrinhos, arrancando elogios de Scolari, mas sentiu o ritmo no final.
Apesar das cobranças do treinador, o atacante, que deixou o campo cansado, afirmou que não acredita que terá que marcar os adversários na partida contra o Uruguai, no dia 1º de julho, em Montevidéu, pelas eliminatórias da Copa de 2002.
"Estou certo que não vou ter que marcar. Ele [Scolari] conhece as minhas caraterísticas", justificou o atacante. "Mesmo assim, eu posso fazer uma sombra em um zagueiro adversário, se o treinador me pedir", disse.


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