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FUTEBOL
Repetições, repetições
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Terminado o jogo entre Santos e Independiente Medel-lín, recostei-me na velha poltrona
que herdei de meu avô e abri um
vinho especial, safra de 1963. Eu
estava guardando a garrafa para
o dia 9 de outubro, quando farei
40 anos (presentes podem ser remetidos para a Redação), mas decidi que aquela era uma ocasião
mais feliz.
Tomei toda a garrafa e acabei
dormindo.
Quando acordei, algo havia
acontecido.
Para começar, minha poltrona
estava nova, sem nenhuma das
queimaduras dos charutos de
meu avô. E a televisão tinha perdido as cores. Como não achei o
controle remoto, levantei-me e
mudei de canal. Quando não se
via aquele chuvisco de tevê fora
do ar, aparecia a imagem de perfil de um índio apache com um gigantesco cocar.
Fui até a garagem e, em lugar
de encontrar meu Gol, dei de cara
com um Fusca. Passando pelo
portão, as pessoas, bem vestidas,
davam-me bom-dia. Os mais velhos, pasmem, até tiravam os chapéus.
Resolvi ir até uma banca de revistas e comprei uma revista "O
Cruzeiro".
A princípio não notei nada incomum, pois ela noticiava que os
Estados Unidos cogitavam atacar
um país distante, que o Brasil tinha um presidente de esquerda e
que um líder camponês pedia a
reforma agrária.
Olhando mais atentamente, porém, percebi que os Estados Unidos queriam atacar o Vietnã, que
o presidente de esquerda era João
Goulart e quem falava em nome
das Ligas Camponesas era Francisco Julião.
Lendo a seção de esportes, descobri que o Santos iria decidir a
Taça Libertadores. Estava tudo
diferente, estava tudo igual.
Sentei-me num banco de praça
para colocar as idéias no lugar.
Fiquei olhando para meu relógio, que agora tinha ponteiros e
não era mais digital. Então sentou-se ao meu lado um simpático
senhor que fumava um fétido
charuto. Sim, era meu avô.
Vendo que eu usava uma camisa do Santos (não a atual, mas
uma de algodão e sem patrocinador), ele perguntou:
- Você joga futebol?
- Não, sou só um torcedor.
- Eu também torço para o
Santos. O senhor acha que ele vai
vencer a Libertadores?
- Venceu, quero dizer, vai vencer, mas não sei se vencerá daqui
a 40 anos.
- Pois eu acho que vamos ser
campeões sul-americanos e, depois, mundiais!
- É, seria muito bom enfrentar
o Milan do Paolo Maldini!
- Cesare, meu jovem, Cesare
Maldini.
Então ele se levantou e disse que
ia visitar a filha, que estava grávida. Eu entrei num bar, comprei
um vinho e voltei para minha
poltrona. Bebi toda a garrafa, caí
no sono e voltei ao presente.
Disso tudo eu deveria tirar alguma lição, algo como "a história
se repete, mas sempre de modo diferente". Porém só o que aprendi
foi que as viagens pelo tempo dão
uma ressaca tremenda.
Seleção sonolenta
O jogo do Brasil deu mais sono
que o vinho. Foi mais sem graça
que cerveja quente. O gol de
Eto'o vai dar mais dor de cabeça
do que uísque nacional. E não
entendi por que Alex não jogar.
Poderia ter entrado na vaga de
Ricardinho, Gil ou Adriano.
Coxa tropicante
Quem diria, o Coritiba quase
atingiu a liderança do Brasileiro. Eu não acreditava que o time chegasse tão longe. Mas Bonamigo formou uma boa equipe e já se coloca como um dos
técnicos em alta no país.
Cruzeiro desvalorizado
Sem alguns de seus titulares
mais importantes, o Cruzeiro
caiu feio diante do Flamengo. É
uma pena que o líder possa perder pontos e embalo por culpa
de um calendário torto.
E-mail torero@uol.com.br
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