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São Paulo, sexta-feira, 20 de junho de 2003

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FUTEBOL

Repetições, repetições

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Terminado o jogo entre Santos e Independiente Medel-lín, recostei-me na velha poltrona que herdei de meu avô e abri um vinho especial, safra de 1963. Eu estava guardando a garrafa para o dia 9 de outubro, quando farei 40 anos (presentes podem ser remetidos para a Redação), mas decidi que aquela era uma ocasião mais feliz.
Tomei toda a garrafa e acabei dormindo.
Quando acordei, algo havia acontecido.
Para começar, minha poltrona estava nova, sem nenhuma das queimaduras dos charutos de meu avô. E a televisão tinha perdido as cores. Como não achei o controle remoto, levantei-me e mudei de canal. Quando não se via aquele chuvisco de tevê fora do ar, aparecia a imagem de perfil de um índio apache com um gigantesco cocar.
Fui até a garagem e, em lugar de encontrar meu Gol, dei de cara com um Fusca. Passando pelo portão, as pessoas, bem vestidas, davam-me bom-dia. Os mais velhos, pasmem, até tiravam os chapéus.
Resolvi ir até uma banca de revistas e comprei uma revista "O Cruzeiro".
A princípio não notei nada incomum, pois ela noticiava que os Estados Unidos cogitavam atacar um país distante, que o Brasil tinha um presidente de esquerda e que um líder camponês pedia a reforma agrária.
Olhando mais atentamente, porém, percebi que os Estados Unidos queriam atacar o Vietnã, que o presidente de esquerda era João Goulart e quem falava em nome das Ligas Camponesas era Francisco Julião.
Lendo a seção de esportes, descobri que o Santos iria decidir a Taça Libertadores. Estava tudo diferente, estava tudo igual.
Sentei-me num banco de praça para colocar as idéias no lugar.
Fiquei olhando para meu relógio, que agora tinha ponteiros e não era mais digital. Então sentou-se ao meu lado um simpático senhor que fumava um fétido charuto. Sim, era meu avô.
Vendo que eu usava uma camisa do Santos (não a atual, mas uma de algodão e sem patrocinador), ele perguntou:
- Você joga futebol?
- Não, sou só um torcedor.
- Eu também torço para o Santos. O senhor acha que ele vai vencer a Libertadores?
- Venceu, quero dizer, vai vencer, mas não sei se vencerá daqui a 40 anos.
- Pois eu acho que vamos ser campeões sul-americanos e, depois, mundiais!
- É, seria muito bom enfrentar o Milan do Paolo Maldini!
- Cesare, meu jovem, Cesare Maldini.
Então ele se levantou e disse que ia visitar a filha, que estava grávida. Eu entrei num bar, comprei um vinho e voltei para minha poltrona. Bebi toda a garrafa, caí no sono e voltei ao presente.
Disso tudo eu deveria tirar alguma lição, algo como "a história se repete, mas sempre de modo diferente". Porém só o que aprendi foi que as viagens pelo tempo dão uma ressaca tremenda.

Seleção sonolenta
O jogo do Brasil deu mais sono que o vinho. Foi mais sem graça que cerveja quente. O gol de Eto'o vai dar mais dor de cabeça do que uísque nacional. E não entendi por que Alex não jogar. Poderia ter entrado na vaga de Ricardinho, Gil ou Adriano.

Coxa tropicante
Quem diria, o Coritiba quase atingiu a liderança do Brasileiro. Eu não acreditava que o time chegasse tão longe. Mas Bonamigo formou uma boa equipe e já se coloca como um dos técnicos em alta no país.

Cruzeiro desvalorizado
Sem alguns de seus titulares mais importantes, o Cruzeiro caiu feio diante do Flamengo. É uma pena que o líder possa perder pontos e embalo por culpa de um calendário torto.

E-mail torero@uol.com.br


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