São Paulo, sábado, 20 de junho de 2009

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JOSÉ GERALDO COUTO

O fim de uma era


A gestão Muricy, encerrada ontem, marcou um período de hegemonia só comparável ao de Telê nos anos 90

ACABOU O casamento. Depois de três anos e meio, Muricy e o São Paulo acertaram ontem seu divórcio amigável. Foi uma união fecunda ao extremo, só comparável ao período sob o comando de Telê Santana, nos anos 90.
É o fim de uma era. Pois, assim como se fala hoje numa "era Telê", a história registrará os últimos anos no Morumbi como a "era Muricy".
A diferença entre os dois é que Telê, antes de ir para o São Paulo, tinha sido ídolo (como jogador) do Fluminense e marcara época como treinador no Atlético-MG. Muricy, ao contrário, foi criado no Morumbi, onde jogou desde a pré- -adolescência. Pouca gente sabe, mas o São Paulo também teve o seu "terrão": eram os dois campos poeirentos e esburacados que ficavam no alto de um morro (depois aplainado) dentro do terreno do clube. Nesses campos, onde se disputavam os campeonatos internos, conheci, aos 11 anos, o futebol e a personalidade forte de Muricy Ramalho, que é um ano mais velho que eu. De lá para cá, não houve nada que pudesse arranhar, para mim, a sua imagem de grande sujeito.
É difícil encontrar entre os torcedores são-paulinos alguém que não goste de Muricy, ou que ao menos não o respeite. Profissional ético e transparente como poucos, de competência mais do que comprovada, identificado até a medula com as cores do clube, Muricy sai deixando saudade e, talvez, um certo alívio.
Por que alívio? Primeiro, porque uma gestão assim longa gera um desgaste natural, um cansaço de parte a parte. De quando em quando é preciso uma cara nova, uma voz de comando diferente para sacudir uma equipe e tirá-la da inércia, quando não da letargia.
Mas alívio também porque o que caracteriza a figura de Muricy é a tensão, os nervos crispados, a concentração absoluta à beira do campo. Tenho a impressão de que muito dessa tensão se transmite ao torcedor, tornando cada partida uma experiência exaustiva.
Entre os torcedores, parece prevalecer, a par da gratidão a Muricy, um descontentamento com os dirigentes tricolores, que não souberam montar um elenco competitivo para a atual temporada. Clube que tradicionalmente contrata bem, sem aventuras e sem desperdício, desta vez tudo indica que o São Paulo meteu os pés pelas mãos. Talvez ainda seja muito cedo para avaliar.
Seja como for, Muricy deixa o Morumbi com a consciência do dever cumprido. E algo me diz que não será um adeus, mas um até logo.

Manchetes
"As múmias somos nós", estampou ontem em sua primeira página o jornal italiano "La Gazzeta dello Sport", depois da derrota da "Azzurra" para o Egito.
Alguém que, como eu, valoriza uma boa manchete daria um braço (ou pelo menos um dedinho) para fazer um título assim.
O achado da "Gazzeta" me lembrou outro exemplo feliz.
Quando a Argentina foi eliminada da Copa de 1998, o jornal portenho "Olé" saiu com a manchete: "Quando começa o torneio Apertura?". Estava tudo ali: a frustração e o humor, a crítica e a volta por cima. Uma sintonia total com o espírito dos leitores/torcedores.

jgcouto@uol.com.br


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