São Paulo, domingo, 20 de junho de 2010

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UM MUNDO QUE TORCE

10 anos depois

No mesmo local que recebia as festas nos Jogos Olímpicos de 2000, os torcedores australianos veem empate contra Gana

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A SYDNEY

Há dez anos, o esporte celebrava em Darling Harbour.
Eram os Jogos de Sydney, e a marina, no coração turístico da cidade, tornou-se uma espécie de subsede do lado B da Olimpíada. Ponto de encontro, de bebedeira, de pegação. De badalação entre atletas e torcedores. De celebração dos vencedores. De lamento dos derrotados. Tudo regado a muita cerveja.
O patrocínio era da cervejaria Heineken, mas a marca que ficou foi a de Inge de Bruijn. Encerrada sua participação nas piscinas, a holandesa, ganhadora de três ouros e uma prata, passou o resto das noites mergulhada na esbórnia. Outros tempos.
O mesmo Darling Harbour recebe agora a Fan Fest, o evento que a Fifa realiza em seis cidades pelo mundo -o Rio é outra delas. E a marca que fica é a da alta organização, do politicamente correto, do bom comportamento.
A começar pelo patrocínio. Sai a cerveja, entra a Coca- -Cola. Pelo local, há faixas com mensagens como "Conheça seus limites".
O clima também colabora para sossegar os ânimos.
A Olimpíada aconteceu em setembro, na primavera. Ontem, o jogo começou à meia-noite, horário local. Às portas do inverno, os termômetros marcavam 12C. As barracas que em 2000 distribuíam cerveja, ontem faturavam vendendo café.
E foi na marina, em meio a 20 mil torcedores, que a Folha assistiu a Austrália x Gana, na oitava parada da série "Um Mundo Que Torce".
Um jogo, pelo menos do lado australiano, cercado de pressão. Depois de serem goleados na estreia pela Alemanha, por 4 a 0, os Socceroos passaram o sábado respirando tudo ou nada.
"It's not Ghana be easy", escreveu o "Sydney Morning Herald", principal jornal do país, em trocadilho de gosto duvidoso para dizer que a partida não seria fácil.
"A pressão está sobre os Socceroos", dizia a TV SBS. Outra, a ABC, entrevistou Lucas Neill, capitão do time. "Estamos movidos pelo medo da eliminação", admitiu.
Na torcida, o mesmo sentimento. Ou sentimento nenhum. Fãs incondicionais do rúgbi, muitos australianos estavam ali pelo evento.
"Eles ainda estão engatinhando no futebol. Muitos só vieram aqui por causa da festa", diz o porto-alegrense Ramon Fontes Badia, morador de Sydney há seis anos.
A indiferença, porém, aos poucos foi dando lugar aos olhos grudados nos três telões. Fruto da pressão ou não, a Austrália começou o jogo no ataque e abriu o placar. O sonho da classificação inédita parecia palpável.
Durou pouco. Aos 25min, uma avalanche de más notícias. Kewell, sob o travessão, interceptou a bola com o braço. Foi expulso. Pênalti. Gana empatou o jogo, 1 a 1.
O reflexo, uma avalanche de emoções. Da impassividade à esperança, à decepção, à agonia. Mas, mesmo com dez em campo, a Austrália conseguiu segurar o empate.
Peruca verde e amarela, Luke Cakebread não quis falar, a dez minutos do fim. "Volta depois, por favor". Apito final, desabafou. "Estou desapontado. O pênalti aconteceu, mas o cartão vermelho foi injusto. Ele não teve intenção de pôr o braço."


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