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UM MUNDO QUE TORCE
10 anos depois
No mesmo local que recebia as festas nos Jogos Olímpicos de 2000, os torcedores australianos veem empate contra Gana
FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A SYDNEY
Há dez anos, o esporte celebrava em Darling Harbour.
Eram os Jogos de Sydney, e
a marina, no coração turístico da cidade, tornou-se uma
espécie de subsede do lado B
da Olimpíada. Ponto de encontro, de bebedeira, de pegação. De badalação entre
atletas e torcedores. De celebração dos vencedores. De
lamento dos derrotados. Tudo regado a muita cerveja.
O patrocínio era da cervejaria Heineken, mas a marca
que ficou foi a de Inge de
Bruijn. Encerrada sua participação nas piscinas, a holandesa, ganhadora de três
ouros e uma prata, passou o
resto das noites mergulhada
na esbórnia. Outros tempos.
O mesmo Darling Harbour
recebe agora a Fan Fest, o
evento que a Fifa realiza em
seis cidades pelo mundo -o
Rio é outra delas. E a marca
que fica é a da alta organização, do politicamente correto, do bom comportamento.
A começar pelo patrocínio.
Sai a cerveja, entra a Coca-
-Cola. Pelo local, há faixas
com mensagens como "Conheça seus limites".
O clima também colabora
para sossegar os ânimos.
A Olimpíada aconteceu
em setembro, na primavera.
Ontem, o jogo começou à
meia-noite, horário local. Às
portas do inverno, os termômetros marcavam 12C. As
barracas que em 2000 distribuíam cerveja, ontem faturavam vendendo café.
E foi na marina, em meio a
20 mil torcedores, que a Folha assistiu a Austrália x Gana, na oitava parada da série
"Um Mundo Que Torce".
Um jogo, pelo menos do
lado australiano, cercado de
pressão. Depois de serem goleados na estreia pela Alemanha, por 4 a 0, os Socceroos passaram o sábado respirando tudo ou nada.
"It's not Ghana be easy",
escreveu o "Sydney Morning
Herald", principal jornal do
país, em trocadilho de gosto
duvidoso para dizer que a
partida não seria fácil.
"A pressão está sobre os
Socceroos", dizia a TV SBS.
Outra, a ABC, entrevistou
Lucas Neill, capitão do time.
"Estamos movidos pelo medo da eliminação", admitiu.
Na torcida, o mesmo sentimento. Ou sentimento nenhum. Fãs incondicionais do
rúgbi, muitos australianos
estavam ali pelo evento.
"Eles ainda estão engatinhando no futebol. Muitos só
vieram aqui por causa da festa", diz o porto-alegrense Ramon Fontes Badia, morador
de Sydney há seis anos.
A indiferença, porém, aos
poucos foi dando lugar aos
olhos grudados nos três telões. Fruto da pressão ou
não, a Austrália começou o
jogo no ataque e abriu o placar. O sonho da classificação
inédita parecia palpável.
Durou pouco. Aos 25min,
uma avalanche de más notícias. Kewell, sob o travessão,
interceptou a bola com o braço. Foi expulso. Pênalti. Gana empatou o jogo, 1 a 1.
O reflexo, uma avalanche
de emoções. Da impassividade à esperança, à decepção, à
agonia. Mas, mesmo com dez
em campo, a Austrália conseguiu segurar o empate.
Peruca verde e amarela,
Luke Cakebread não quis falar, a dez minutos do fim.
"Volta depois, por favor".
Apito final, desabafou. "Estou desapontado. O pênalti
aconteceu, mas o cartão vermelho foi injusto. Ele não teve intenção de pôr o braço."
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