São Paulo, Domingo, 20 de Junho de 1999 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TOSTÃO Vaidades
Johan Cruyff, um dos melhores jogadores do mundo de todos os tempos, afirmou que jogava 85 minutos para o time e cinco para ele e o público. Fazia parte de seu show. Foram esses cinco minutos por partida que fizeram dele um inesquecível e genial jogador. Todos querem ser a estrela do espetáculo. Em 70, era mais fácil conviver com o problema, já que a estrela do Pelé estava muito distante e brilhava muito mais intensamente do que a dos outros. Na Copa de 94, Romário falava que era amigo de Bebeto em campo. Fora, eles eram apenas companheiros. O Baixinho dizia que seria o melhor do mundo e foi. No Mundial da França, a falta de uma estrela foi um dos motivos da derrota. Romário fora cortado por causa de uma contusão, e o brilho de Ronaldinho se apagara. Ronaldinho se apresentou à atual seleção dizendo que vai voltar a ser o melhor do mundo. Rivaldo também quer ir para o trono. Ele reclamou que a imprensa brasileira, ao contrário da européia, não o valoriza como um grande craque, porque é nordestino. Se todos jogarem somente para o conjunto, quem será o ou um dos artistas do espetáculo? A estrela no time é indispensável, como no cinema e no teatro, mesmo que seja somente para alegrar. O craque e o ídolo são projeções do nosso ideal -o que gostaríamos de ser e não somos. Além da técnica, o grande jogador é aquele que luta obstinadamente por seu sucesso e que reconhece a importância dos companheiros para sua glória. Se o time jogar bem e vencer, todos ganharão. "A humildade não é o desconhecimento do que somos, mas o conhecimento e reconhecimento do que não somos." Na Copa do Mundo de 58, Didi foi a principal estrela. Em 62, Garrincha. Em 66, Bobby Charlton. Em 70, Pelé. Em 74, Cruyff. Em 78, Kempes. Em 82, Paolo Rossi. Em 86, Maradona. Em 90, Matthäus. Em 94, Romário. E, em 98, Zidane. São os craques que fazem a diferença. Quando um jogador não tem talento e sua equipe ganha o título, falam que ele se sacrificou para o sucesso do time e que jogava para o clube. Quando a equipe perde, esse jogador é apenas esforçado. Orgulho-me por ter sido considerado um dos jogadores mais solidários em campo, mas queria também ser a estrela. Gosto de ser reconhecido pelos decisivos passes que dei na Copa de 70, e não por ter jogado sem a bola. Luxemburgo quer o time brasileiro unido em campo. Essa postura é essencial, mas não é suficiente para formar uma grande seleção. O técnico deve controlar a vaidade de seus jogadores, mas não acabar com ela. O narcisismo e a vaidade movem o ser humano. Quando em excesso, fazem com que o jogador perca a referência da realidade, empurrando ele e o time para o "buraco". A vaidade é mais forte do que a razão. E Luxemburgo conhece bem o assunto. Decisões regionais Ontem, Flamengo e Vasco
decidiriam o Campeonato Carioca. Escrevo esta coluna antes da partida. Quem foi o
campeão? O Vasco tinha a
vantagem, mas no futebol nem
sempre vence o time que tem
mais chance. Na quarta-feira, escrevi sobre a decisão na Copa do Brasil, entre Botafogo e Juventude, mas a partida, que seria
anteontem, foi adiada para
hoje. Então, volto ao assunto. Tostão escreve aos domingos e às quartas Texto Anterior: Futebol no Mundo - Rodrigo Bueno: Descobrimento Próximo Texto: Futebol: Troca de acusações cria clima hostil para clássico Índice |
|