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São Paulo, domingo, 20 de julho de 2003

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FUTEBOL

Melhor do que ele pensava

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Após ser suspenso, merecidamente, e passar a assistir aos jogos do Cruzeiro lá em cima, de onde se vê muito melhor os detalhes, Luxemburgo conheceu mais de perto o time e deve ter ficado surpreso. A equipe é melhor do que ele pensava.
Isso não significa que o time do Cruzeiro é uma maravilha. É excelente. Maravilhoso é o futebol do Alex. Ele não pára de nos encantar. Contra o Vasco, deu até chapéu com a cabeça. Alex não vive apenas uma ótima fase. Ele não está craque. Ele é craque. Sempre foi. Surpresa foi ele ter caído de produção durante algum tempo e não ter brilhado no Mundial de 2002. Na época, não mereceu a convocação.
O Cruzeiro é forte no ataque e na defesa. Isso não é comum. O time atua com três atacantes (Alex joga livre, próximo do Deivid e Aristizábal), os laterais avançam bastante e, mesmo assim, a defesa não fica desprotegida.
Quando o time perde a bola, os três do meio-campo recuam e formam uma linha à frente dos quatro defensores. Os três do ataque se posicionam também em linha, na faixa central do campo. Ao recuperar a bola, os laterais e os atacantes chegam rápido ao ataque. No contragolpe, acontecem os melhores momentos da equipe.
A maioria dos times do mundo faz uma linha de quatro no meio-campo, na frente de quatro defensores. Isso fortalece a defesa, mas a equipe perde o meia de ligação com os dois atacantes. O Boca Juniors utilizou quatro volantes contra o Santos. O São Paulo atual joga com dois volantes e um armador de cada lado, que defendem e atacam.
Os três armadores do Cruzeiro se posicionam defensivamente como volantes. Nenhum é brucutu. Eles desarmam e iniciam as jogadas e, às vezes, chegam ao ataque. Os volantes são necessários. Brucutus é que não são.
Os times que atuam com três no meio-campo, como o Cruzeiro, geralmente são fracos na defesa, como acontecia com o São Paulo, antes do Rojas. A equipe dirigida pelo Oswaldo de Oliveira tinha o mesmo desenho tático do Cruzeiro (na prancheta), mas o único volante (Maldonado) recuava e era quase um terceiro zagueiro. Sobravam só dois armadores, que também avançavam. Havia um enorme espaço no meio-campo.
A fragilidade defensiva do São Paulo era mais de marcação coletiva do que de deficiência individual, como na época já dizia a Soninha. Rojas corrigiu o problema. Quando o time tiver todos os titulares, poderá evoluir bastante.
Outra qualidade do Cruzeiro é não ter um centroavante fixo, um único artilheiro. Os três da frente fazem gols. Isso é uma grande vantagem em relação aos rivais. Deivid é o único dos principais artilheiros do Brasileiro que não joga apenas pelo meio, perto do gol. Deivid não fica na área. Aparece na área, no momento certo.
Deivid é um atacante que faz gols, dá ótimos passes, cruza bem e nunca é considerado um jogador excepcional. Isso ocorre porque ele raramente dribla e pouco conduz a bola. Ele é mais técnico do que habilidoso e de poucas e decisivas jogadas. Deivid não parece um excepcional atacante; é.

Ruim e caro
A oposição no Palmeiras mostrou num estudo detalhado que o absurdo número de contratações feitas pela atual diretoria nos últimos anos, de jogadores considerados bons e baratos, custou caro. A receita do futebol diminuiu muito mais do que as despesas. O bom e barato era ruim e caro.
Isso não acontece só no Palmeiras. É uma característica da maioria dos clubes europeus e brasileiros, especialmente os do Rio. Se houvesse um Brasileiro de veteranos em decadência, as equipes cariocas ganhariam fácil.
A solução é investir bem nas categorias de base, contratar profissionais competentes para ajudar os garotos e buscar talentos desconhecidos em pequenas equipes do interior de todo o Brasil, como tem feito o Cruzeiro.
Muitos dirigentes ainda não perceberam as mudanças que estão ocorrendo no futebol. Com o término do passe e a esperada aprovação do Estatuto do Desporto, os clubes terão as mesmas responsabilidades de uma empresa comercial. Acabou a mamata.
Há uma crise técnica e financeira no futebol brasileiro que deve se agravar nos próximos anos. A saída de tantos jogadores para equipes fora dos principais centros da Europa mostra isso. Os grandes clubes que não tiverem administrações competentes e profissionais vão se tornar pequenos. Dentro e fora de campo.

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