São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 2008

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NATAÇÃO

Tratado como celebridade, César Cielo se surpreende

Atleta teve que despistar fãs e foi assediado por crianças no Pinheiros

Primeiro nadador brasileiro a ganhar medalha de ouro em Olimpíada afirma que já sabe que terá de se preocupar com imagem


GIULLIANA BIANCONI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Ao aterrissar no aeroporto de Guarulhos, ontem, o medalhista olímpico César Cielo foi avisado pela mãe, Flávia Maria, que não poderia sair pelo portão principal do desembarque.
Era ordem da segurança do aeroporto, que temia por tumulto, já que o nadador teria que cruzar o saguão para chegar ao restaurante onde concederia entrevista coletiva. "Ele pediu para eu parar de brincadeira e disse que eu devia estar exagerando. Eu apenas o alertei: "Filho, você não tem noção do que você aprontou"."
Quando Cielo, cercado por seguranças, surgiu na entrada do restaurante, uma multidão de repórteres e fãs correu em sua direção, mas a estratégia para que o nadador pudesse almoçar já estava traçada. Escoltado, foi levado para a cozinha. Entrou pelos fundos. Minutos mais tarde, ele confirmaria: "Foi a primeira vez que tive que fugir para fazer uma refeição, mas, sem dúvida, tudo isso tem um sabor especial".
O gosto da vitória, inclusive, ele afirma que ainda está sentindo: "Às vezes paro e fico lembrando de tudo o que aconteceu. Do antes da prova, quando eu estava com as mãos dormentes, de tão ansioso, e do depois, quando vi meu nome em primeiro. Posso dizer que ser campeão olímpico é a melhor sensação do mundo".
Após a recepção no aeroporto, o dono do primeiro ouro da natação brasileira seguiu, em carro dos bombeiros, pelas ruas de São Paulo com destino ao Clube Pinheiros, onde treinou dos 16 aos 18 anos.
Na chegada ao clube, Cielo, que no aeroporto já havia experimentado um pouco da vida de celebridade, pôde constatar que os dias pacatos com os quais estava acostumado na cidade americana de Auburn, definitivamente, tinham ficado para trás. Ao lado do ex-nadador Fernando Scherer, agora seu empresário, o medalhista foi recebido com muita gritaria por cerca de 200 crianças.
Algumas abandonaram a aula de natação e, ainda de maiô molhado, correram para pedir autógrafos. Não foram repreendidas, pois os professores fizeram o mesmo. "É ótimo eles verem um campeão de perto", dizia o professor Johan Percis.
Passar pela garotada não foi fácil. Sob gritos de "é, campeão", teve a camisa puxada diversas vezes até chegar à sala reservada para mais uma entrevista. Após recuperar o fôlego, disse que estava surpreso com tamanha recepção.
Indagado sobre a possibilidade da sua conquista gerar uma "cielomania", com um "boom" de crianças nas escolinhas de natação, ele disse que ficaria muito feliz se isso acontecesse. E, acrescentou que, se junto a esse "fenômeno" viesse também mais atenção para a natação, a modalidade poderia, futuramente, ter muitos outros campeões.
"Eu tive pessoas em quem me espelhar, que foram o Gustavo [Borges], o Scherer [Fernando Scherer], e sei como isso é importante. Espero que eu possa ser isso para essas crianças. Sei que, se já era importante eu me preocupar com minha imagem, agora é mais ainda. Sei que ganhar uma medalha olímpica envolve muita coisa."


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