São Paulo, domingo, 20 de setembro de 1998

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VÔLEI
Equipe feminina aposta em desenvolvimento físico para superar Cuba, Rússia e China no Campeonato Mundial
Musculosa, seleção busca hegemonia

JOSÉ ALAN DIAS
da Reportagem Local

O oráculo do vôlei feminino teve pouco trabalho nos últimos quatro anos. "Senhoras do jogo", a Cuba, Rússia, Brasil e China coube apenas decidir a disposição das equipes, nas competições, entre o primeiro e o quarto lugar.
Por conta da insistência do técnico Bernardo Rezende em preparar um time com elevado potencial físico, o Brasil pode daqui a 44 dias, no Mundial do Japão, aplicar uma rasteira nos três rivais.
A opção pela força deixou marcas mais recentes na conquista do Grand Prix. No domingo passado, em Hong Kong, pela terceira vez, a seleção garfou o título do torneio, último encontro oficial das seleções antes do Mundial.
No lado brasileiro da rede, estava a mais alta jogadora do torneio: Janina, 1,92 m. A novata Raquel, 1,91 m, de segunda reserva de Ana Moser tornou-se nome quase certo para, em 3 de novembro, enfrentar a Rússia na estréia na competição, a segunda mais importante, depois da Olimpíada.
A gestão Bernardinho (assumiu o cargo em dezembro de 93) modificou o comportamento da equipe. A volúpia pelo ataque total, característica marcante das seleções nacionais, foi contida.
Cedeu espaço para o equilíbrio: no GP, o Brasil teve o melhor saque (Raquel), a mais eficiente jogadora de defesa (Ana Paula), a segunda maior pontuadora (Virna) e a equipe com melhor "parede", mesmo sem Márcia Fu, a mais eficiente brasileira neste fundamento no Mundial de 94 e nos Jogos Olímpicos de 96.
Neste Grand Prix, a seleção emplacou três de suas atletas (Ana Paula, Virna e Leila) entre as dez melhores bloqueadoras.
"A grande transformação do vôlei nos últimos anos diz respeito à questão física. A força hoje prepondera, quase sempre, sobre a técnica. Para enfrentar em condições de igualdade Rússia ou Cuba é preciso estar muito bem preparado", diz o técnico brasileiro.
Pouco alterada em sua base (além de Márcia Fu, a maior ausência é Ida), a seleção que deve disputar o Mundial -das 14 que voltam aos treinos amanhã, em Curitiba (PR), 2 serão cortadas, no próximo mês- é 1 cm mais alta do que a do vice-campeonato de 94, quando, na final, em São Paulo, perdeu por 3 sets a 0 para a bicampeã Cuba.
A fita métrica aponta hoje 1,84 m de média -abaixo das gigantes russas (1,86 m), mas acima das cubanas, média de 1,83 m. Está 4 cm distante da "nanica'" seleção (média de 1,80 m) que disputou os Jogos de Seul-88, na primeira Olimpíada de Ana Moser.
"Não melhoramos de uma hora para outra. É uma evolução possível por uma conjugação de fatores. As jogadoras tomaram consciência da importância da preparação física, do trabalho de musculação. Nos clubes, os técnicos têm se esforçado nesse sentido", diz Bernardinho.
"Jogar com Rússia, mesmo elas sendo mais altas, não tem diferença. O problema é Cuba. Elas são naturalmente mais fortes. Nós tivemos que trabalhar muito. Pode ser que nunca a superemos na força, mas hoje dá para encarar de igual para igual", diz a atacante Ana Moser, que se prepara para seu quarto e, muito possivelmente, último Mundial.
Levantador reserva da seleção que conquistou a prata em Los Angeles-84, Bernardinho diz incorporar ensinamentos de Bebeto de Freitas (ex-técnico da seleção masculina e que no Mundial estará à frente da Itália).
"Desde aquela época, o Bebeto tinha uma preocupação em trabalhar a força da equipe, distribuir bem tudo, não ser apenas ataque", recorda Bernardinho.
A campanha no Grand Prix, no qual acumulou oito vitórias e três derrotas (as três na rodada de abertura), de acordo com treinador, será apenas um "cartão de visitas" no Mundial.
"Todas as equipes chegarão em melhores condições. Não quer dizer que não vamos ter chances de ganhar. O Mundial é um somatório de fatores. É uma competição diferente das demais."



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