São Paulo, terça, 20 de outubro de 1998

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Sugestões para um ministério grandioso

JOSÉ ROBERTO TORERO
da Equipe de Articulistas

O futebol é o principal assunto e a diversão mais comum entre os brasileiros. Nem mesmo a música popular, com seus Caetanos, Chicos, Tons e Noéis, conseguiu fazer ídolos como Didi, Vavá, Pelé, Zico, Heleno de Freitas, Ademir da Guia, Rivellino, Garrincha etc. etc. etc...
No entanto, apesar de suas muitas estrelas, até bem pouco tempo o futebol não havia conseguido colocar um de seus baluartes numa posição de destaque na vida pública. Nenhum jogador jamais havia sido prefeito, governador ou ministro. Só Pelé acabou com essa injustiça. É bem verdade que sua pasta, o Ministério dos Esportes, teve uma verba insignificante, menor até que a do Ministério da Cultura, mas isso não tem lá muita importância.
Para o próximo ano, como o reeleito FHC terá que reescolher seu ministério, acho que ele poderia dar uma oportunidade aos futebolistas. Os economistas já tiveram muitas chances e não corresponderam. Eles deveriam ser deixados no banco, ou nos bancos, e, para jogar de verdade, o presidente deveria escolher jogadores de futebol.
À primeira vista essa proposta pode parecer uma sandice, mas o leitor há de reconhecer que os jogadores são competentes, obedecem às regras e dão tudo de si pelo coletivo, qualidades fundamentais para um bom ministro. Provavelmente haveria até torcidas organizadas para os ministérios.
Para facilitar o trabalho de FHC, lanço aqui os nomes de alguns ministeriáveis:
Cultura: Para essa pasta, ninguém melhor que o Dr. Sócrates. Possui título universitário, nome de filósofo e é sabidamente um intelectual progressista. Para a secretaria de assuntos musicais, Viola. Justiça: Edmundo é o nome. Tem vasta vivência de tribunais e ultimamente vem saindo vitorioso das causas mais improváveis.
Fazenda: Para a Fazenda, nada como um beque de fazenda. Neste caso o nome de Bordon surge no topo da lista. Ele tem o estilo vigoroso e decidido.
Saúde: Serra que me perdoe, mas, em saúde, ninguém mais apropriado que Cafu, o homem mais saudável do Brasil.
Planejamento: Para este cargo é preciso um homem com visão de jogo, que perceba os movimentos do campo, que saiba ser ofensivo quando preciso, mas sem desproteger sua retaguarda. Também são aconselháveis boa postura e elegância, que sempre aumentam a credibilidade: Falcão.
Previdência: Eu indicaria Mauro Galvão, que, mesmo já tendo idade para se aposentar, é útil à nação vascaína.
Agricultura: Marco Antônio Boiadeiro. Com apoio da UDR.
Exército: Para este cargo, além da patente militar, há que se ter conhecimentos sobre defesa. Logo, o cargo só pode ser do Capitão Dunga, que já provou ser hábil em muitas batalhas.
Secretaria de Assuntos Estratégicos: Aqui, uma unanimidade. Todas as torcidas reconhecem que ninguém entende mais de estratégia neste país que o grande Telê Santana.
Esportes: Este talvez seja o único lugar onde não caiba um atleta. O assunto é por demais apaixonante. Talvez seja necessário alguém sem contato com o povo e a realidade cotidiana. Seria aconselhável um profissional com frieza e distanciamento, que tomasse as decisões com base em números e não em desejos. Um economista.
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E-mail: torero@uol.com.br



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