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BASQUETE NO MUNDO
E daí?
MELCHIADES FILHO
Dá para imaginar o Brasil sem
um campeonato nacional de futebol? Muita gente tem aplicado
esse raciocínio quando analisa o
impasse trabalhista que ameaça
cancelar a temporada 98/99 da
NBA. É um exagero.
Os torcedores norte-americanos não esboçaram nenhuma
reação até agora, nem mesmo
depois que a liga resolveu adiar
em duas semanas o início do
campeonato, marcado originalmente para o dia 3.
Um estudo da Universidade de
Vanderbilt que será divulgado
neste mês pode ajudar a compreender essa apatia.
Ele mostra que, em 1994, o salário do torcedor que comprou
ingressos era quase 90% maior
do que a renda média de uma família dos EUA.
Em 1972, o mesmo levantamento revelava que essa diferença não chegava a 35%.
Atualmente, uma família norte-americana ganha US$ 35,5
mil por ano. A Vanderbilt concluiu que 80% dos fãs que vão
aos ginásios recebem mais do
que isso sozinhos.
O fato é que a NBA, assim como todas as ligas populares nos
EUA, elitizou as arenas e afastou
o torcedor militante.
Estima-se que quase 60% dos
assentos estejam sendo vendidos
diretamente a empresas, que repassam os bilhetes a funcionários ou convidados sem interesse
particular no esporte.
Por conta disso, é muito comum a NBA festejar lotações esgotadas enquanto as câmeras de
televisão registram centenas de
cadeiras vazias.
O ciclo está longe de terminar.
Nos anos 90, a liga torrou US$
1,2 bilhão para erguer novas arenas, de olho, é claro, na torcida
de luxo. Mais US$ 1 bilhão está
comprometido em contratos.
Ao final do ano que vem, o
Houston Rockets será o único
dos 29 times da NBA que não investiu, nas décadas de 80 e 90,
centenas de milhões de dólares
na renovação ou reconstrução
de seu ginásio.
E pensar que tudo isso corre o
risco de ficar às moscas.
NOTAS
NBA pára 1
O Chicago Bulls, supercampeão dos anos 90, precisou devolver US$ 5 milhões em ingressos previamente vendidos
para os amistosos que havia
marcado para este mês.
NBA pára 2
Mais um dado para desconfiar dos prejuízos que os times
da NBA alegam registrar: o
"Boston Globe" apurou que os
Celtics, com um time medíocre, registraram um lucro de
US$ 12 milhões em 1997.
NBA pára 3
A NBA consegue se inspirar
até em terras tucanas. David
Stern, o todo-poderoso da liga
profissional, soltou a seguinte
frase em entrevista na semana
passada: "Diante do que está
acontecendo no mundo -a
Ásia pressionada, o Brasil em
apuros e os EUA sentindo o impacto disso tudo-, penso que
os jogadores deveriam aceitar o
que lhes está sendo proposto".
²
E-mail: melk@uol.com.br
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