São Paulo, terça, 20 de outubro de 1998

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BASQUETE NO MUNDO
E daí?

MELCHIADES FILHO

Dá para imaginar o Brasil sem um campeonato nacional de futebol? Muita gente tem aplicado esse raciocínio quando analisa o impasse trabalhista que ameaça cancelar a temporada 98/99 da NBA. É um exagero.
Os torcedores norte-americanos não esboçaram nenhuma reação até agora, nem mesmo depois que a liga resolveu adiar em duas semanas o início do campeonato, marcado originalmente para o dia 3.
Um estudo da Universidade de Vanderbilt que será divulgado neste mês pode ajudar a compreender essa apatia.
Ele mostra que, em 1994, o salário do torcedor que comprou ingressos era quase 90% maior do que a renda média de uma família dos EUA.
Em 1972, o mesmo levantamento revelava que essa diferença não chegava a 35%.
Atualmente, uma família norte-americana ganha US$ 35,5 mil por ano. A Vanderbilt concluiu que 80% dos fãs que vão aos ginásios recebem mais do que isso sozinhos.
O fato é que a NBA, assim como todas as ligas populares nos EUA, elitizou as arenas e afastou o torcedor militante.
Estima-se que quase 60% dos assentos estejam sendo vendidos diretamente a empresas, que repassam os bilhetes a funcionários ou convidados sem interesse particular no esporte.
Por conta disso, é muito comum a NBA festejar lotações esgotadas enquanto as câmeras de televisão registram centenas de cadeiras vazias.
O ciclo está longe de terminar. Nos anos 90, a liga torrou US$ 1,2 bilhão para erguer novas arenas, de olho, é claro, na torcida de luxo. Mais US$ 1 bilhão está comprometido em contratos.
Ao final do ano que vem, o Houston Rockets será o único dos 29 times da NBA que não investiu, nas décadas de 80 e 90, centenas de milhões de dólares na renovação ou reconstrução de seu ginásio.
E pensar que tudo isso corre o risco de ficar às moscas.

NOTAS

NBA pára 1
O Chicago Bulls, supercampeão dos anos 90, precisou devolver US$ 5 milhões em ingressos previamente vendidos para os amistosos que havia marcado para este mês.

NBA pára 2
Mais um dado para desconfiar dos prejuízos que os times da NBA alegam registrar: o "Boston Globe" apurou que os Celtics, com um time medíocre, registraram um lucro de US$ 12 milhões em 1997.

NBA pára 3
A NBA consegue se inspirar até em terras tucanas. David Stern, o todo-poderoso da liga profissional, soltou a seguinte frase em entrevista na semana passada: "Diante do que está acontecendo no mundo -a Ásia pressionada, o Brasil em apuros e os EUA sentindo o impacto disso tudo-, penso que os jogadores deveriam aceitar o que lhes está sendo proposto".
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E-mail: melk@uol.com.br



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