São Paulo, Sábado, 20 de Novembro de 1999
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Edmundo e Romário, uma dupla explosiva

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

Comentaristas, matemáticos e profetas em geral estão dizendo que três finalistas do Brasileiro estão garantidos: Corinthians, Vasco e São Paulo. Só têm dúvida quanto ao representante mineiro: Cruzeiro ou Atlético?
Confesso que minha bola de cristal anda meio embaçada ultimamente, portanto tenho dúvidas com relação a todas as quatro disputas.
O fato é que poucas vezes o campeonato nacional chegou a essa altura com um equilíbrio tão grande entre os times. Mesmo se os "azarões" Vitória, Ponte Preta e Guarani se classificarem, para mim não haverá surpresa.
Em 1978, ninguém esperava que o Guarani fosse suplantar o Vasco e o Palmeiras e conquistar o título brasileiro.
Olhando o que fizeram ao longo do campeonato, o Cruzeiro, por exemplo, parece muito mais time que o Atlético-MG -e eu mesmo sempre fui grande admirador do time de Levir Culpi. Mas não foi o que se viu no Mineirão no primeiro jogo das quartas-de-final.
O favoritíssimo Corinthians teve sorte de não perder a primeira para o Guarani, que criou muito mais chances de gol. Sobre o equilíbrio entre Ponte Preta e São Paulo nem é preciso insistir muito -e o Vitória mostrou que, no mínimo, será uma pedra enorme no caminho do Vasco.
Não adianta mesmo: quanto mais esfrego minha bola de cristal, mais opaca ela me parece.
Do mesmo modo, é difícil prever o que será de Romário no Vasco de Eurico Miranda.
Romário e Edmundo no mesmo time pode ser uma fórmula explosiva, para o bem ou para o mal.
Para o bem: dois dos mais talentosos atacantes da década se entendem às mil maravilhas e desnorteiam as defesas adversárias com suas tabelas, dribles e gols.
Para o mal, as alternativas são várias: 1) Dois egos sem tamanho não conseguem conviver no mesmo espaço; 2) A comissão técnica mostra-se incapaz de lidar com dois craques-problemas, que não querem se submeter às normas que valem para os outros jogadores; 3) Os dois astros milionários não correspondem em campo ao tratamento VIP, e a torcida pede suas cabeças.
Tudo isso sem falar da previsível reação negativa dos "promovidos" à reserva Viola e Donizete, que aliás também não são exatamente modelos de candura.
Enfim, será um caso interessante de se observar. É quase um fato inédito. Geralmente cada time conta com, no máximo, um rebelde indomável -e os problemas começam quando vários se encontram na seleção. Agora dois deles estarão juntos em São Januário. Eu queria e não queria estar na pele do treinador Antônio Lopes.
No "imbróglio" jurídico do atual Campeonato Brasileiro, todo mundo tem razão, ou pelo menos uma parcela dela.
Enquanto não houver uma Justiça desportiva isenta -ou seja, desvinculada de fato da CBF e afastada da influência dos clubes-, e enquanto as regras estiverem sujeitas a mudanças motivadas por circunstâncias políticas, todos os clubes que se sentirem lesados estarão no direito de espernear por seus interesses -mesmo que isso coloque em risco a credibilidade e a própria continuidade dos torneios.
Quem acredita que chegamos ao fundo do poço está sendo otimista. No futebol brasileiro, o buraco é sempre mais embaixo.


José Geraldo Couto escreve às segundas-feiras e aos sábados

E-mail: jgcouto@uol.com.br



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