ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil é o único país com cidade candidata aos Jogos-2012 que nunca pagou sua contribuição à Wada (Agência Mundial Antidoping). Isso pode inviabilizar a campanha do Rio, que disputa com Nova York, Havana, Madri, Paris, Londres, Leipzig, Moscou e Istambul o direito de abrigar a Olimpíada daqui a nove anos.
Segundo a Wada, a dívida do país -acumulada em dois anos- é de US$ 222.982.
Em teleconferência realizada anteontem, o presidente da Wada, Dick Pound, disse que estuda punições aos países devedores. Jacques Rogge, presidente do Comitê Olímpico Internacional, já teria dado aval à iniciativa.
Entre as medidas que podem ser tomadas está a de que os devedores não possam apresentar candidatura para abrigar a Olimpíada. "Se a sanção for aprovada pelo Comitê Executivo do COI, isso teria efeitos imediatos na disputa por 2012. O Rio seria eliminado porque o Brasil nunca pagou suas dívidas", disse Pound.
Além do Brasil, a medida atingiria os EUA, também devedores da Wada. O país, porém, pagou à agência US$ 794.800 no ano passado. Para 2003, o país contribuiria com US$ 1 milhão, mas também enfrenta problemas.
"Recebemos ontem carta dos EUA indicando que essa quantia será reduzida para US$ 800 mil", disse à Folha Frédéric Donzé, gerente de comunicações da Wada.
Dos US$ 21,183 milhões do orçamento da agência previsto para este ano, só US$ 14,117 milhões chegaram à entidade, o que representa pouco menos de dois terços.
"Nossa relação com o governo dos EUA é kafkiana. O Congresso nos manifestou apoio, mas temos que lutar contra a Casa Branca e estamos decepcionados com essa falta de vontade", afirmou Pound.
Quase todos os países europeus que lutam pelos Jogos-2012 -Rússia, Alemanha, Inglaterra, França, Espanha e Turquia- estão com suas dívidas quitadas. A exceção é a França, que pagou US$ 594.849 em 2003, US$ 1.740 a menos do que o previsto.
Nas Américas, Cuba tem uma dívida quase insignificante de US$ 1.339 referentes a 2002 e 2003. Nesse período, o país, em grave crise econômica, enviou US$ 10 mil para a luta contra o doping.
O Brasil tem versão diferente. O Ministério do Esporte só aceita pagar US$ 13 mil em 2003. Também não admite a cobrança relativa ao ano passado (US$ 101.805).
"O Brasil só reconheceu a Wada oficialmente neste ano, após uma reunião realizada em Copenhague [na Dinamarca, em março]. Tínhamos um representante lá para assinar pelo país. Essa situação é semelhante à de outras nações da América", disse Luiz Garcia Júnior, chefe da assessoria internacional do ministério.


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