São Paulo, quarta-feira, 20 de dezembro de 2000

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FUTEBOL

Bom, alegre e responsável

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

A literatura associa o futebol alegre, descontraído e ofensivo, de outros tempos, com a "irresponsabilidade" e individualidade.
Na verdade, os grandes jogadores e equipes da história do futebol brasileiro se destacaram pelo talento, alegria, mas também pelo conjunto e disciplina.
Garrincha foi o mais solidário dos individualistas. Driblava, se divertia e depois dava o passe para o companheiro fazer o gol. Com açúcar e afeto.
Cruyff afirmou que jogava 85 minutos para a equipe e 5 para o público. Nesses, encantou o mundo. Dava seu espetáculo. Só dá show quem sabe.
O verdadeiro craque é virtuoso e generoso. Sabe o momento de ser um exibicionista e o de ser uma madre Teresa de Calcutá.
No domingo, no programa ""Super técnico", da TV Bandeirantes, houve uma clara má vontade dos treinadores com a maneira de jogar do São Caetano.
Leão, Zagallo, Felipão e Oswaldo de Oliveira, educadamente, disfarçadamente ou explicitamente, como o Felipão, disseram que o futebol alegre, ofensivo e descontraído do time do ABC tem um estilo ultrapassado, que a falta de responsabilidade dos jogadores estimularia a ofensividade e que isso não aconteceria numa grande equipe.
Diante da mesmice de outros times, o São Caetano é inovador e encantador. Não sei se terá vida longa, se seus jogadores brilhariam em outras equipes ou se será o campeão.
Não importa. Já deu seu recado. Rompeu com a ordem.
A equipe mostra que pode jogar bonito, pra frente e vencer. ""É um futebol com espírito dos anos 60, mas com a rapidez do século 21." (José Roberto Torero).
Infelizmente, os técnicos sentem-se os donos do mundo. Do futebol já são. Não admitem críticas e diferenças. Não escutam nem enxergam mais nada. Só olham para seu próprio umbigo. Parece que têm um Deus na barriga.
Os treinadores não precisam escolher o futebol bonito ou feio, descontraído ou disciplinado, ofensivo ou defensivo, individual ou coletivo. Não é uma coisa ou outra.
O que seria do gol sem o passe, da técnica sem a emoção, da defesa sem o ataque, da velocidade sem a criatividade, da praticidade sem a beleza e da realidade sem a fantasia?
O Vasco ganhava de 2 a 0 do Cruzeiro e tinha todas as chances de marcar o terceiro gol. Aí, o Oswaldo de Oliveira retirou o Euller e o Juninho Pernambucano. Colocou Nasa e Luisinho para ""segurar o jogo". Não deu certo.
O auxiliar do Felipão, que estava lá em cima, sugeriu que reforçasse o meio-campo. Se o Vasco fizesse o terceiro gol, adeus título! Felipão fez o contrário. Colocou um armador e um atacante descansados e mais rápidos (Sérgio Manoel e Alex Mineiro). O time foi pra frente e empatou.
Contra o São Caetano, o técnico do Grêmio, Celso Roth, retirou um atacante (Warley) e colocou um armador (Rodrigo Mendes). No primeiro jogo, a mesma substituição tinha dado certo. Um erro não dá certo duas vezes.
Contra o Grêmio, fora de casa, Jair Picerni manteve, corretamente, as características ofensivas do São Caetano, embora necessitasse do empate.
Técnico ajuda e atrapalha.
Como disse um filósofo do futebol: ""Uma coisa é uma coisa. Outra coisa é outra coisa". O erro do Oswaldo de Oliveira não justifica sua dispensa.
O treinador só foi demitido porque o Vasco não venceu. Se tivesse ganho, os motivos divulgados seriam irrelevantes.
Quando dirigentes querem dispensar um treinador, próximo a uma decisão, arrumam desculpas para suas trapalhadas. Se Eurico Miranda dissesse que a dispensa foi por motivos técnicos seria estranho, mas menos ridículo.
Além disso, dirigentes pensam que a mudança de técnico pode incendiar um time intranquilo, como o atual do Vasco, na véspera de duas decisões.
Raramente isso acontece.
Não será por causa do técnico Joel Santana que o Vasco vai perder ou ganhar, hoje do Palmeiras e no sábado do Cruzeiro.
Se os treinadores fossem unidos e solidários, Joel não aceitaria o cargo nessas circunstâncias. Depois, vão trocar gentilezas na TV. Hipocrisia.
Por outro lado, mesmo se perder, Marco Aurélio já é um dos melhores técnicos do futebol brasileiro. Este ano, foi campeão da Copa do Brasil, pelo Cruzeiro.
No ano passado, fez um brilhante trabalho na Ponte Preta. Só saiu da Copa João Havelange porque havia um São Caetano no meio do caminho. Espero apenas que o técnico do Palmeiras consiga, nos próximos anos, repetir a boa marcação em suas equipes, sem fazer tantas faltas.

E-mail: tostao.folha@uol.com.br

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