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FUTEBOL
Ser ou não ser
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
1958, uma conversa entre dois
diretores santistas:
- Ufa, nem acredito! Fomos
campeões!
- E que título! Com essa política de revelar talentos, nosso time
foi a sensação do campeonato.
- É, mas o caixa do clube não
está lá essas coisas.
- Não?
- Não, mas pagaremos tudo se
vendermos o Pelé e o Pagão.
- Eu preferia que eles ficassem
e montássemos um time que permanecesse na memória dos torcedores por muitos e muitos anos,
mas, se é assim...
Foi assim. O Santos conseguiu
quitar suas dívidas, mas viu, nos
anos seguintes, a academia palmeirense formar o maior esquadrão dos anos 60, conquistando
títulos, renome internacional e
uma grande torcida.
O Santos continuou sendo um
time intermediário, sempre brigando pelo quinto lugar dos torneios regionais com o Guarani e a
Ponte Preta. Em vez de fazer história, preferiu fazer caixa.
2002, uma conversa entre dois
diretores santistas:
- Ufa, nem acredito! Fomos
campeões!
- E que título! Com essa política de revelar talentos, nosso time
foi a sensação do campeonato.
- É, mas o caixa do clube não
está lá essas coisas.
- Não?
- Não, mas pagaremos tudo se
vendermos o Diego e o Robinho.
- Eu preferia que eles ficassem
e a gente montasse um time que
permanecesse na memória dos
torcedores por muitos e muitos
anos, mas, se é assim...
Tomara que não seja. Todos sabem que o Santos vive com mais
problemas financeiros do que um
ministro da Fazenda. Mas, se isso
é um fato incontestável, também
é verdade que vender craques não
é a solução do problema.
Nos anos 70 e 80, o clube vendeu
Nilton Batata, Juary, João Paulo,
Pita e César Sampaio, supostamente para acabar de vez com as
dívidas. Nos 90, foi a vez de Giovanni. Mas as dívidas, sempre teimosas, voltaram.
Vender craques não é a solução
para a economia de um clube,
tanto que foi na década de 60,
quando o Santos não vendeu ninguém e comprou craques consagrados como Mauro Ramos, que
o clube teve seus cofres mais
cheios. Vitórias, e não derrotas, é
que trazem riquezas.
Será que com Serginho e Denílson o São Paulo não teria formado a maior ala esquerda do futebol brasileiro de todos os tempos?
Será que com Dida e Ewerthon
o Corinthians não seria o atual
campeão brasileiro?
Será que com Ronaldinho Gaúcho o Grêmio não teria passado
pelo Santos nas semifinais?
Há, claro, o desejo dos jogadores. Mas com bons salários e extras na publicidade, eles não têm
motivos tão fortes para querer jogar na Europa. Um ou outro, como Raí e Leonardo, talvez até
queira conhecer o velho mundo,
mas a maioria deles simplesmente gosta de jogar futebol e acaba
não se adaptando à cultura desses países. Vide Romário, que levava amigos do Brasil para jogar
futevôlei com ele na Holanda.
Como a atual diretoria santista
quererá ser lembrada no futuro?
Como a que inventou um time
que fez a alegria da torcida por
muitos anos ou como a que desfez
um dos mais promissores times já
formados na Vila Belmiro? Espero que ela prefira manter os craques. Espero que, em vez de fazer
caixa, ela prefira fazer história.
Mea culpa
Na enumeração dos jogadores que conquistaram o título
brasileiro, esqueci o Robert.
Foi uma injustiça. Além de
ter sido uma peça importante, ele é o atleta em atividade
que mais fez jogos pelo Santos. E, depois de perder três
finais de brasileiro e uma de
Libertadores, finalmente espantou o deus Urucubaco.
Resposta
Na última terça, Luís Fernando Verissimo escreveu sobre
o título do Santos. E a última
frase de sua coluna foi "Vá
aguentar o José Roberto Torero". Será que ele pensa que
posso me tornar um fanático?
Ora, isso nunca acontecerá.
Se coloquei em meu carro
uma buzina com o hino do
clube, foi só pela segurança.
Se ando pela rua imitando os
dribles de Robinho, é só pelo
exercício. E, se não tiro minha faixa de campeão nem
no chuveiro, é só para mantê-la sempre limpinha.
E-mail torero@uol.com.br
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