São Paulo, quarta-feira, 21 de março de 2001

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FUTEBOL

Jogadores incomuns

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Felipe , Dodô, Edílson, Alex, Marcelinho e Ricardinho (Corinthians) estiveram na seleção brasileira, foram endeusados e chamados de craques.
Depois, experimentaram o ostracismo e as críticas. Voltaram a jogar bem.
Assim como Edílson, Alex foi chamado para a seleção no lugar do Robert. Se os outros continuarem a jogar bem, poderão ter nova chance.
A mesma situação aconteceu com o Juninho. Ele foi considerado o melhor jogador brasileiro, transferiu-se para o exterior, piorou, foi esquecido e agora brilha no Vasco e na seleção.
Alex está recuperando seu belo futebol. Dizem que às vezes ele dorme em campo. Não é por sonolência.
O jogador tem pouca mobilidade. Atua numa faixa restrita do campo. Por isso, algumas vezes é facilmente anulado. Alex precisa movimentar-se mais, deslocar-se para as laterais e procurar outros caminhos.
Dodô também voltou a jogar bem. Ele me intriga. O jogador lamentou que não é lembrado para a seleção.
Dodô não somente faz gols; faz bonitos gols. Dizem que é mascarado. O sorriso dele passou a simbolizar a brincadeira em campo. É isso! Dodô diverte-se nos gramados. Por isso, faz belos gols.
Sempre que o jogador do Santos atua mal, ou perde um pênalti, falam que foi displicente. Quando Romário comete o mesmo erro dizem que os gênios também falham.
Felipe, do Palmeiras, é outro que está brilhando. O esquema com três zagueiros favorece o jogador.
Na posição de ala, Felipe pode ser um armador e um ponta-esquerda. Se jogasse em outras épocas, seria um espetacular ponta-esquerda, driblador, como o Canhoteiro e Joãozinho, ex-Cruzeiro.
Espero que o desprezo e as críticas que o Felipe recebeu (por própria culpa) tenham despertado o jogador para a realidade. Em vez de um menino mimado e deslumbrado, precisa transformar-se num profissional.
Marcelinho é mais um. Ninguém duvida das qualidades técnicas do jogador, principalmente quando atua pela meia e ponta direita.
Nessa posição, indo e voltando, faz as suas melhores jogadas, já que tem velocidade. Não se cansa de colocar a bola na cabeça do Luizão, para que ele faça o gol.
Marcelinho corre por todo o campo. Nas estatísticas, é o que mais dribla, finaliza, passa e é desarmado. Participa de tudo, faz muito barulho, mas é muito dispersivo. Rende menos do que pode.
Edílson também teve grandes momentos no Palmeiras e Corinthians, foi convocado várias vezes para a seleção, transferiu-se para o Flamengo e caiu de produção.
Recuperou-se e está jogando muito bem. Retornou à seleção. É um jogador rápido e habilidoso, mas nunca finalizou bem. Confundia-se próximo ao gol. Parece que está aprendendo.
Ricardinho foi esquecido, mas mostrou sua categoria mesmo nos piores momentos do Corinthians.
Há alguns anos, os jogadores de meio-campo do futebol brasileiro foram divididos em armadores defensivos (volantes) e ofensivos.
Os volantes têm a função de desarmar, proteger os zagueiros e parar as jogadas de qualquer maneira.
Os técnicos ficaram tão fascinados por eles que colocaram dois, três e até quatro em campo. Outros treinadores deslocaram zagueiros para a posição de volante. Uma tragédia!
Os armadores ofensivos deixaram de ser armadores para serem apenas ofensivos. Jogam no campo do adversário. São meia-atacantes. Não organizam as jogadas no meio-campo nem defendem.
Por causa dessa divisão de tarefas, desapareceram os armadores típicos, que faziam várias funções. Marcavam, atuavam com a cabeça em pé, davam ritmo à equipe, precisos passes longitudinais, pensavam o jogo e ainda faziam gols.
Gérson foi o mais completo dos armadores. Posicionava-se muito bem. Não deixava espaços entre si e os zagueiros. Orientava os defensores.
Era um técnico em campo. Quando recuperava a posse de bola, organizava o time. Sabia o momento de segurar a bola, de dar longos passos de 40 metros e de trocar passes em direção ao gol. Um gênio!
Ricardinho, do Corinthians, não é um Gérson. Mas é, hoje, um desses raros jogadores de meio-campo.
Não é especificamente defensivo nem ofensivo. É armador. Com essas características, no Brasil, além dele talvez somente o Juninho Pernambucano.
Juninho, Alex, Rivaldo, Djalminha, Marcelinho, Robert e outros são armadores ofensivos. Ricardinho (Cruzeiro), Vampeta, Émerson e mais alguns são volantes que às vezes atacam. Nenhum deles é um típico jogador de meio-campo, organizador das jogadas.
É preciso que os técnicos das categorias de base, incentivados e orientados pelos das equipes principais, se preocupem em revelar típicos armadores. Essa, hoje, é a grande deficiência do futebol brasileiro.
Os ""professores" precisam mudar seus conceitos.

E-mail: tostao.folha@uol.com.br



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