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São Paulo, sexta-feira, 21 de março de 2003

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FUTEBOL

O troféu e as estatuetas

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Leitores, estamos às vésperas de dois grandes ícones da cultura ocidental, dois momentos máximos de nossa civilização: a decisão do Campeonato Paulista e a entrega do Oscar. Assim, quero pedir antecipadas desculpas caso acabe misturando as coisas.
Afinal, a final de amanhã promete ser como o ótimo "Gangues de Nova York", de Martin Scorsese. Uma partida dura, ríspida, viril e disputada. Mas com um pouco menos de sangue, eu espero. Será a chance de Kaká mostrar se é mesmo o Leonardo DiCaprio do Morumbi ou se está mais para Michael Caine de "O Americano Tranquilo", um grande jogador, digo, ator, mas que jamais alcançou o estrelato absoluto.
Os dois times terão novidades. O Tricolor parece que vai mexer na zaga. É uma má notícia. Se Gustavo Nery, a "Adaptação", já não foi grande coisa, as outras possibilidades não parecem exatamente animadoras. A torcida são-paulina que me perdoe, mas entrando tanto Régis como Júlio Santos sua defesa continuará parecendo uma "Estrada para a Perdição" (filme bacana que concorre a um punhado de Oscar e que veio de uma ótima história em quadrinhos).
Pelos lados do Parque São Jorge, a única novidade parece ser a troca de Leandro por Fumagalli, o que não chega a ser um problema. O ponto forte do time é justamente o entrosamento, a rápida ligação entre defesa, meio e ataque, mais ou menos como o excelente roteiro de "As Horas" faz entre suas três linhas narrativas.
Desconfio que a grande estrela do filme, digo, do jogo, pode ser Ricardinho, que começou a última partida muito bem, mas caiu de produção no segundo tempo. Quando entrar no gramado e escutar a torcida corintiana, talvez ele preferisse ser um "Homem sem Passado" (filme muito bacana e com um humor esquisito).
Resta esperar que seus cabelos prateados à la Richard Gere o façam agir como o advogado picareta de "Chicago" e que ele, no final das contas, razzle-dazzle, ludibrie seus oponentes (aliás, espero que o jogo não seja como este bocejante musical, muito diferente de outros filmes do gênero, como "All That Jazz", "Todos Dizem Eu Te Amo" e, sei lá, "Noviça Rebelde", onde a música é quem serve à história, e não vice-versa).
Outro candidato a protagonista é Doni, que pode deixar os torcedores alegres como os espectadores de "Planeta do Tesouro" ou tristes como os que assistem ao bom, mas não ótimo, "O Pianista". Para sua sorte, "As Duas Torres" Anderson e Fábio Luciano estão jogando bem.
E, na linha de frente, Gil e Luis Fabiano farão o estilo "Prenda-me se For Capaz", flutuando entre os zagueiros e inventando manobras inesperadas.
Percebo que cheguei ao último parágrafo e ainda não falei nada sobre o prêmio da Academia de Hollywood. Bem, o máximo que posso dizer é que os filmes estão aí, dando o melhor de si e que os grupos estão unidos. Quanto a quem vai ganhar o quê, não faço a menor idéia. O Oscar é uma caixinha de surpresas.

P
Pavão foi o mais refinado avante que já surgiu nas terras entre Piancó e Itaporanga. Ele dava dribles humilhantes e ria com prazer de cada rival que deixava no chão. Até que um dia seu corpo foi achado na linha do trem. E sem as pernas. Suspeita-se seriamente de uma quadrilha de zagueiros vingativos.

Q
Quaquá era um ponta-esquerda razoável e um palhaço excelente. Criado no circo, aprendeu todos os segredos da profissão. Cada vez que pegava na bola, ele contava uma piada para o zagueiro rival. Enquanto o adversário ria, Quaquá fazia cruzamentos e gols. Sua carreira acabou no dia em que, desavisado, contou uma piada de português para o violento zagueiro Bacalhau.

E-mail torero@uol.com.br


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