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FUTEBOL
O troféu e as estatuetas
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Leitores, estamos às vésperas de dois grandes ícones da
cultura ocidental, dois momentos
máximos de nossa civilização: a
decisão do Campeonato Paulista
e a entrega do Oscar. Assim, quero pedir antecipadas desculpas
caso acabe misturando as coisas.
Afinal, a final de amanhã promete ser como o ótimo "Gangues
de Nova York", de Martin Scorsese. Uma partida dura, ríspida, viril e disputada. Mas com um pouco menos de sangue, eu espero.
Será a chance de Kaká mostrar se
é mesmo o Leonardo DiCaprio do
Morumbi ou se está mais para
Michael Caine de "O Americano
Tranquilo", um grande jogador,
digo, ator, mas que jamais alcançou o estrelato absoluto.
Os dois times terão novidades.
O Tricolor parece que vai mexer
na zaga. É uma má notícia. Se
Gustavo Nery, a "Adaptação", já
não foi grande coisa, as outras
possibilidades não parecem exatamente animadoras. A torcida
são-paulina que me perdoe, mas
entrando tanto Régis como Júlio
Santos sua defesa continuará parecendo uma "Estrada para a
Perdição" (filme bacana que concorre a um punhado de Oscar e
que veio de uma ótima história
em quadrinhos).
Pelos lados do Parque São Jorge,
a única novidade parece ser a troca de Leandro por Fumagalli, o
que não chega a ser um problema.
O ponto forte do time é justamente o entrosamento, a rápida ligação entre defesa, meio e ataque,
mais ou menos como o excelente
roteiro de "As Horas" faz entre
suas três linhas narrativas.
Desconfio que a grande estrela
do filme, digo, do jogo, pode ser
Ricardinho, que começou a última partida muito bem, mas caiu
de produção no segundo tempo.
Quando entrar no gramado e escutar a torcida corintiana, talvez
ele preferisse ser um "Homem
sem Passado" (filme muito bacana e com um humor esquisito).
Resta esperar que seus cabelos
prateados à la Richard Gere o façam agir como o advogado picareta de "Chicago" e que ele, no final das contas, razzle-dazzle, ludibrie seus oponentes (aliás, espero que o jogo não seja como este
bocejante musical, muito diferente de outros filmes do gênero, como "All That Jazz", "Todos Dizem Eu Te Amo" e, sei lá, "Noviça
Rebelde", onde a música é quem
serve à história, e não vice-versa).
Outro candidato a protagonista
é Doni, que pode deixar os torcedores alegres como os espectadores de "Planeta do Tesouro" ou
tristes como os que assistem ao
bom, mas não ótimo, "O Pianista". Para sua sorte, "As Duas Torres" Anderson e Fábio Luciano
estão jogando bem.
E, na linha de frente, Gil e Luis
Fabiano farão o estilo "Prenda-me se For Capaz", flutuando entre os zagueiros e inventando manobras inesperadas.
Percebo que cheguei ao último
parágrafo e ainda não falei nada
sobre o prêmio da Academia de
Hollywood. Bem, o máximo que
posso dizer é que os filmes estão
aí, dando o melhor de si e que os
grupos estão unidos. Quanto a
quem vai ganhar o quê, não faço
a menor idéia. O Oscar é uma caixinha de surpresas.
P
Pavão foi o mais refinado avante que já surgiu nas terras entre
Piancó e Itaporanga. Ele dava
dribles humilhantes e ria com
prazer de cada rival que deixava
no chão. Até que um dia seu
corpo foi achado na linha do
trem. E sem as pernas. Suspeita-se seriamente de uma quadrilha de zagueiros vingativos.
Q
Quaquá era um ponta-esquerda razoável e um palhaço excelente. Criado no circo, aprendeu todos os segredos da profissão. Cada vez que pegava na
bola, ele contava uma piada para o zagueiro rival. Enquanto o
adversário ria, Quaquá fazia cruzamentos e gols. Sua carreira acabou no dia em que, desavisado, contou uma piada de português para o violento zagueiro Bacalhau.
E-mail torero@uol.com.br
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