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SONINHA
A contenda esportiva
Exceto pelo golpe baixo
do gás no vestiário, só houveluta no campo -e nadahouve de batalha campal
MUITOS TORCEDORES ficam
inconformados com as horas dedicadas às discussões
sobre arbitragem, Justiça Desportiva, regulamento, mando de campo,
torcidas organizadas, segurança nos
estádios, e reclamam: "Vamos falar
de futebol! Quem vai jogar?".
Impossível ignorar temas que influenciam o esporte tanto quanto a
escalação de um time e o desempenho dos jogadores. Em torno de cada um deles há divergências suficientes para debater eternamente
-para consertar o futuro ou tentar
remediar o passado...
Mas tem de haver uma medida razoável. Durante a semana, falou-se
tanto em guerra de torcidas que parecia que estávamos diante da invasão de um território estrangeiro,
não de um clássico do Paulistão. Seria irresponsável ignorar a possibilidade de confronto entre grupos de
delinqüentes (nada interessados em
futebol), mas também é temerário
fazer da previsão de briga a principal
"notícia" da semana. Pior ainda é ver
dirigentes se provocando e jornalistas instigando o "pega". Nós deveríamos ser capazes de enfrentar provocações com humor, mas já que muitos não são, não custa evitar.
Foi legal ver o Marcos, antes do jogo, relativizando a tensão, dizendo
que os atletas adversários são colegas, e não inimigos. (Foi ridículo saber, no dia do jogo, que o São Paulo
não pôde ficar no vestiário porque
um energúmeno jogou gás lá.)
A polícia, corretíssima em se precaver, precisa tomar cuidado para
não se exceder. Preocupados com
vândalos e agressores, alguns homens tratam todo torcedor como
suspeito, como se querer ir ao jogo já
fosse mau sinal. Quem não tem nada
com a baderna deve ser recebido
com cortesia, não com hostilidade.
Quantas vezes vi pessoas pacíficas
sendo empurradas ou xingadas por
PMs, acuadas pelos cavalos? (Felizmente, não tenho visto.)
Mesmo que não houvesse pessoas
mal-intencionadas desde o início,
jogo de futebol propicia momentos
de tensão e mau humor. Que se agravam em situações de tumulto. Portanto, uma das melhores medidas
para evitar confrontos é evitar aglomerações na bilheteria, na entrada e
na saída do jogo. Algumas soluções
óbvias ainda não pegaram completamente, como a venda realmente
antecipada e descentralizada de ingressos. Outras poderiam ser criativas, atrevidas -oferecer um brinde
(um lanche, por exemplo) para
quem chegar ao estádio mais cedo.
Ou o "setor família" poderia ser o estádio todo... Em vez de apenas dar
desconto, a venda de ingresso seria
condicionada à presença de ao menos uma mulher e uma criança como acompanhantes. Seria divertido.
Apesar de todo o pessimismo, o jogo foi predominantemente pacífico.
No primeiro tempo, houve cumprimentos respeitosos entre rivais, colegas e o juiz. No segundo, houve desentendimentos, mas nada de grave.
A arbitragem foi boa. Péssimo, mesmo, só o atentado no vestiário.
Se no Morumbi o São Paulo assumiu que jogou "como pequeno", pela ênfase na marcação, o Palmeiras
foi "modesto" no Palestra, pelo esforço. Os jogadores lutaram pela bola como se a desvantagem fosse ainda maior. Que não pensem que a batalha terminou -além de exibir sua
qualidade técnica e o bom trabalho
tático, terão de lutar na final.
soninha.folha@uol.com.br
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