São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 2008

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SONINHA

A contenda esportiva

Exceto pelo golpe baixo do gás no vestiário, só houveluta no campo -e nadahouve de batalha campal

MUITOS TORCEDORES ficam inconformados com as horas dedicadas às discussões sobre arbitragem, Justiça Desportiva, regulamento, mando de campo, torcidas organizadas, segurança nos estádios, e reclamam: "Vamos falar de futebol! Quem vai jogar?".
Impossível ignorar temas que influenciam o esporte tanto quanto a escalação de um time e o desempenho dos jogadores. Em torno de cada um deles há divergências suficientes para debater eternamente -para consertar o futuro ou tentar remediar o passado...
Mas tem de haver uma medida razoável. Durante a semana, falou-se tanto em guerra de torcidas que parecia que estávamos diante da invasão de um território estrangeiro, não de um clássico do Paulistão. Seria irresponsável ignorar a possibilidade de confronto entre grupos de delinqüentes (nada interessados em futebol), mas também é temerário fazer da previsão de briga a principal "notícia" da semana. Pior ainda é ver dirigentes se provocando e jornalistas instigando o "pega". Nós deveríamos ser capazes de enfrentar provocações com humor, mas já que muitos não são, não custa evitar.
Foi legal ver o Marcos, antes do jogo, relativizando a tensão, dizendo que os atletas adversários são colegas, e não inimigos. (Foi ridículo saber, no dia do jogo, que o São Paulo não pôde ficar no vestiário porque um energúmeno jogou gás lá.)
A polícia, corretíssima em se precaver, precisa tomar cuidado para não se exceder. Preocupados com vândalos e agressores, alguns homens tratam todo torcedor como suspeito, como se querer ir ao jogo já fosse mau sinal. Quem não tem nada com a baderna deve ser recebido com cortesia, não com hostilidade.
Quantas vezes vi pessoas pacíficas sendo empurradas ou xingadas por PMs, acuadas pelos cavalos? (Felizmente, não tenho visto.)
Mesmo que não houvesse pessoas mal-intencionadas desde o início, jogo de futebol propicia momentos de tensão e mau humor. Que se agravam em situações de tumulto. Portanto, uma das melhores medidas para evitar confrontos é evitar aglomerações na bilheteria, na entrada e na saída do jogo. Algumas soluções óbvias ainda não pegaram completamente, como a venda realmente antecipada e descentralizada de ingressos. Outras poderiam ser criativas, atrevidas -oferecer um brinde (um lanche, por exemplo) para quem chegar ao estádio mais cedo.
Ou o "setor família" poderia ser o estádio todo... Em vez de apenas dar desconto, a venda de ingresso seria condicionada à presença de ao menos uma mulher e uma criança como acompanhantes. Seria divertido.
Apesar de todo o pessimismo, o jogo foi predominantemente pacífico. No primeiro tempo, houve cumprimentos respeitosos entre rivais, colegas e o juiz. No segundo, houve desentendimentos, mas nada de grave.
A arbitragem foi boa. Péssimo, mesmo, só o atentado no vestiário. Se no Morumbi o São Paulo assumiu que jogou "como pequeno", pela ênfase na marcação, o Palmeiras foi "modesto" no Palestra, pelo esforço. Os jogadores lutaram pela bola como se a desvantagem fosse ainda maior. Que não pensem que a batalha terminou -além de exibir sua qualidade técnica e o bom trabalho tático, terão de lutar na final.


soninha.folha@uol.com.br

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