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Meio-campo é o território da elite da bola
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
Ao ler o texto publicado nesta coluna, sexta-feira passada,
pelo editor de Esporte, Melchiades Filho, percebi que estamos próximos de um consenso a respeito do futebol de hoje.
A diferença é de ênfase: ele
elogia o São Paulo por só ter
um atacante, eu elogio por só
ter um volante defensivo.
Para encerrar, de minha parte, esse debate cordial, esclareço alguns pontos:
1) Não sou contra a escalação de quatro, cinco ou seis jogadores no meio-campo. Mais
importante que o número de
meio-campistas, entretanto, é
sua qualidade. Uma coisa são
cinco Redondos. Outra, bem
distinta, são cinco Dorivas.
Por isso, não gosto da expressão "congestionar o
meio-campo", que faz pensar
num piquete de brutamontes.
Agrada-me muito mais a idéia
de dinamizar o meio-campo,
com jogadores leves e polivalentes (ou seja, capazes de
marcar, armar e atacar).
O próprio Melchiades, ao
elogiar o meio-campo do Barcelona, lembrou que lá Giovanni joga de volante. Por que
não pode fazer o mesmo na seleção? Afinal, é mais fácil fazer
um Giovanni marcar do que
fazer um Dunga criar.
Aliás, nos times elogiados
por Melchiades -o São Paulo
e o Barcelona-, o que salta
aos olhos é que não há nenhum cabeça-de-bagre, nenhum xerife de velho estilo.
Todo mundo sabe tocar a bola.
2) Longe de mim a ilusão de
que um maior número de atacantes "puros" signifique
maior poder ofensivo. Concordo com a idéia de que futebol
se ganha no meio-campo.
Mas não adianta nada ter
um monte de robôs que só sabem tirar a bola de um adversário para dar a outro.
O meio-campo é o pulmão, o
coração e o cérebro do time. É
onde deve se concentrar sua
elite, gente capaz de dar um
passe longo, fazer uma tabela,
virar o jogo, tentar uma jogada inesperada. Sem isso, a bola
não chega ao gol adversário.
3) Concordo plenamente
com a necessidade de "rodar o
meio-campo", com a troca de
posições entre os jogadores. A
mobilidade horizontal é fundamental. Foi praticada muito
bem em 74 pela Holanda e em
82 pelo Brasil, porque ambos
contavam com jogadores habilidosos e inteligentes.
Nenhuma dessas duas seleções ganhou a Copa, e isso tem
servido de argumento para os
defensores do futebol-trombada. É um falso argumento, de
um empirismo rasteiro e
apressado. Será que, se houvesse um Chicão no lugar de um
Falcão, teríamos barrado a
Itália? Acho pouco provável.
4) Em vista do que foi exposto acima, se tivesse que fazer
alguma mudança na escalação
de Zagallo, não seria em Giovanni que eu mexeria, e sim
em Dunga -o jogador tecnicamente mais limitado do
meio-campo (e fisicamente
também, conforme estão provando os testes).
Outra possível alteração seria a saída de Romário -um
gênio absoluto da bola, mas
não quando cochila e se arrasta em campo feito um aposentado- e a entrada de Denílson ou de Edmundo.
5) A carapuça de romântico,
olha só, me serviu direitinho.
No duelo dos goleiros no Mineirão, Dida suplantou Carlos Germano, que mostrou lentidão de reflexos nos gols.
José Geraldo Couto escreve às quintas
E-mail: jgcouto@uol.com.br
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