São Paulo, quinta, 21 de maio de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Meio-campo é o território da elite da bola

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

Ao ler o texto publicado nesta coluna, sexta-feira passada, pelo editor de Esporte, Melchiades Filho, percebi que estamos próximos de um consenso a respeito do futebol de hoje.
A diferença é de ênfase: ele elogia o São Paulo por só ter um atacante, eu elogio por só ter um volante defensivo.
Para encerrar, de minha parte, esse debate cordial, esclareço alguns pontos:
1) Não sou contra a escalação de quatro, cinco ou seis jogadores no meio-campo. Mais importante que o número de meio-campistas, entretanto, é sua qualidade. Uma coisa são cinco Redondos. Outra, bem distinta, são cinco Dorivas.
Por isso, não gosto da expressão "congestionar o meio-campo", que faz pensar num piquete de brutamontes. Agrada-me muito mais a idéia de dinamizar o meio-campo, com jogadores leves e polivalentes (ou seja, capazes de marcar, armar e atacar).
O próprio Melchiades, ao elogiar o meio-campo do Barcelona, lembrou que lá Giovanni joga de volante. Por que não pode fazer o mesmo na seleção? Afinal, é mais fácil fazer um Giovanni marcar do que fazer um Dunga criar.
Aliás, nos times elogiados por Melchiades -o São Paulo e o Barcelona-, o que salta aos olhos é que não há nenhum cabeça-de-bagre, nenhum xerife de velho estilo. Todo mundo sabe tocar a bola.
2) Longe de mim a ilusão de que um maior número de atacantes "puros" signifique maior poder ofensivo. Concordo com a idéia de que futebol se ganha no meio-campo.
Mas não adianta nada ter um monte de robôs que só sabem tirar a bola de um adversário para dar a outro.
O meio-campo é o pulmão, o coração e o cérebro do time. É onde deve se concentrar sua elite, gente capaz de dar um passe longo, fazer uma tabela, virar o jogo, tentar uma jogada inesperada. Sem isso, a bola não chega ao gol adversário.
3) Concordo plenamente com a necessidade de "rodar o meio-campo", com a troca de posições entre os jogadores. A mobilidade horizontal é fundamental. Foi praticada muito bem em 74 pela Holanda e em 82 pelo Brasil, porque ambos contavam com jogadores habilidosos e inteligentes.
Nenhuma dessas duas seleções ganhou a Copa, e isso tem servido de argumento para os defensores do futebol-trombada. É um falso argumento, de um empirismo rasteiro e apressado. Será que, se houvesse um Chicão no lugar de um Falcão, teríamos barrado a Itália? Acho pouco provável.
4) Em vista do que foi exposto acima, se tivesse que fazer alguma mudança na escalação de Zagallo, não seria em Giovanni que eu mexeria, e sim em Dunga -o jogador tecnicamente mais limitado do meio-campo (e fisicamente também, conforme estão provando os testes).
Outra possível alteração seria a saída de Romário -um gênio absoluto da bola, mas não quando cochila e se arrasta em campo feito um aposentado- e a entrada de Denílson ou de Edmundo.
5) A carapuça de romântico, olha só, me serviu direitinho.

No duelo dos goleiros no Mineirão, Dida suplantou Carlos Germano, que mostrou lentidão de reflexos nos gols.


José Geraldo Couto escreve às quintas

E-mail: jgcouto@uol.com.br



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.