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MATINAS SUZUKI JR.
Repulsa e recuo
A coluna que se segue já
estava escrita quando me chegou a notícia de que a Fifa,
após carta de João Havelange
para a Folha, resolveu aceitar
o pedido de credenciamento
para o jornalista Juca Kfouri.
Resolvi manter o teor do
texto por várias razões: a primeira, porque nunca é demais
relembrar o absurdo da decisão e o perigo que ela representa para a liberdade de imprensa; a segunda, porque
nunca se saberá realmente se
Havelange sabia ou não da
decisão -se não sabia, tem
gente sabotando o seu trabalho e ele deveria revelar quem
é; se sabia, teve de recuar
diante da grande repercussão
que o fato obteve; a terceira,porque faço questão de
manter publicamente o meu
apoio a esta Folha e ao Juca.
Não posso deixar de expressar a minha mais profunda
repulsa pela atitude adotada
pela Fifa no caso Juca Kfouri.
Para quem não sabe, uma
credencial dá direito ao jornalista de ter acesso às salas
de imprensa (onde ele pode
obter informações e facilidades na transmissão do seu
material) e às entrevistas coletivas, aos treinos, aos vestiários, momentos fundamentais
para desenvolver um trabalho
de qualidade para os leitores.
Ao negar um número maior
de credenciais à Folha e ao
negar a credencial para Juca
Kfouri, está se negando o direito de trabalhadores exercerem plenamente o seu ofício.
Na verdade, mais do que o
jornal e mais do que o jornalista, quem está sendo punido
é o direito do leitor a ser informado, atitude que tem caráter nitidamente censorial, à
medida em que se tenta vedar
o acesso do profissional às
fontes primárias da notícia.
Há vários aspectos na gestão
de João Havelange à frente da
Fifa que merecem ser criticados. No que nos toca, o apoio
irrestrito da entidade maior
do futebol à ineficiente gestão
do futebol profissional no
Brasil, origem da limitação
das credenciais à Folha e do
veto à credencial de Juca, só
tem contribuído para para
enfraquecer uma das principais manifestações sócio-culturais, e, nesse novo mundo,
até comerciais, do país.
Mas também não há dúvida
de que durante o período Havelange na Fifa, graças ao seu
tino para negócios, o futebol
se desenvolveu, consolidou-se
como a principal atividade esportiva do mundo e transformou-se em um dos mais atrativos negócios dentro da riquíssima indústria do entretenimento.
Grandes realizadores, entretanto, não são necessariamente grandes homens. Ao
deixar que a sua expansionista administração termine
com um fricote de puro ressentimento, Havelange passa
para a história uma sombra
maior do que ele gostaria de
ter para a imagem que faz de
si mesmo (entre elas, a de ser
merecedor de um prêmio Nobel da paz).
Além disso, atitudes como
essa contra a Folha e contra o
Juca são contraprodutivas
pois só fazem reafirmar na
consciência do jornalismo independente o desejo de continuar se insurgindo contra as
tentativas de circunscrever as
atividades da imprensa.
Esta coluna, situada orgulhosamente no banco de reservas da coluna do Juca, entra
no coro dos que estão dizendo
não ao não.
Matinas Suzuki Jr. é diretor editorial-adjunto da editora Abril
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