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AÇÃO
Chegou a hora
CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA
Coisa de maluco. Não tem
amor à vida. Inconsequente. Essas e outras colocações são
comuns para definir certas situações arrojadas às quais se expõem alguns atletas dos esportes
que acompanhamos.
Imagens ao vivo, captadas
com fotos ou filmes, vistas na
TV, na internet, em revistas ou
em jornais e que se tornam cada
vez mais frequentes, puxando os
limites mais pra cima, pra dentro ou pra baixo, dependendo
do esporte.
Entre essas imagens, uma emblemática é a de um garoto sendo chicoteado em uma onda em
Maverick's, mais tarde celebrizada como o "caldo do milênio". Sobre esse momento escrevi há alguns meses:
"Aos 16 anos, James Michael
Moriarty remou para o outside
de um Maverick's (EUA) gigante. Era 21 de dezembro de 1994,
dia mais tarde batizado de Big
Monday. Remou para sua primeira onda e, quando resolveu
desistir de surfá-la, era tarde.
- Fiquei em pé, olhei para
baixo e não vi nada, senão ar,
35 pés de vazio. Tive uma fração
de segundo para pensar "Oh,
m..." quando a prancha voou
contra meu corpo e o lip me pegou pelas costas. O impacto foi
terrível: fui socado contra o fundo numa terrível turbulência.
Tentei me concentrar em ficar
relaxado. Fui rolando e sacudindo. Tive sorte de encontrar o
fundo com os pés. Demorei muito para subir. Mantive meus
olhos abertos, mas tudo estava
preto. Sabia que, se não subisse
logo, a próxima onda estaria sobre mim; então nadei o mais rápido que pude para poder respirar. A segunda onda não foi tão
ruim quanto a primeira, mas
me rolou um bocado.
Dias depois, o havaiano Mark
Foo morreria surfando em Maverick's. A onda, então ainda
novidade no cenário do surfe,
começava a se firmar como a
mais temida do planeta.
Aqueles dias na praia de Santa Cruz (Califórnia) ganharam
espaço na mídia. O jornal "New
York Times", a rede de TV NBC
e outras publicações destacaram os incidentes e as titânicas
ondas e questionaram como Jay
havia sobrevivido ao "wipeout
for the millennium", segundo a
capa da revista "Surfer".
Parece claro que existe um forte componente genético para as
habilidades do californiano. A
imensa maioria de surfistas do
planeta jamais remaria naquele
inferno gelado, que, para ele,
era como a Disneylândia.
Mas ele sobreviveu para contar sua história. E não só pela
sua cadeia de DNA. Treinou sério desde os 13 anos para desenvolver as habilidades naturais,
e, com certeza, a sorte estava do
seu lado. Cada um tem e conta a
história que merece".
Na última história, Jay não teve a mesma sorte. Fazendo mergulho livre na semana passada
em Lohifushi (Ilhas Maldivas),
ele desapareceu, sendo encontrado, horas mais tarde, morto.
Segundo alguns brasileiros
que mergulhavam no local, Jay
estava indo mais fundo do que
eles, que, às 11h30, o deixaram
só. Por volta das 14h, o atual líder do WCT, Cory Lopez, e um
cinegrafista viram a bolsa de Jay
largada no píer. Mais tarde, como ele não veio para o jantar,
acionaram os mergulhadores
locais, que localizaram o corpo.
Aos 22 anos, Jay era um veterano homem do mar e um dos
melhores na difícil onda de Maverick's, mas, apesar de experiência e preparo, o que deveria
ser um programa tranquilo virou fatalidade.
Super Surf
Começou ontem com boas ondas em Itamambuca, Ubatuba, a
terceira etapa do circuito. Tadeu Pereira e Tânio Barreto defendem o título da prova e a liderança do circuito, respectivamente.
Rio Surf
A partir de quarta-feira os melhores surfistas do mundo estarão
no Rio de Janeiro para a disputa da terceira etapa do WCT 2001.
Tom Curren e Leo Neves foram confirmados como convidados, e o terceiro wild-card deve ir para Victor Ribas, já que o
prolongamento da expedição Quiksilver Crossing, atualmente
em algum ponto do oceano Índico, impediu a vinda de Kelly
Slater, que era sondado para a vaga.
WQS
O gaúcho Rodrigo Dorneles ficou em segundo na 21ª etapa do
circuito de acesso, disputada nas Ilhas Maldivas.
E-mail: sarli@revistatrip.com.br
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