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FUTEBOL
A cabeça e o pé
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Algumas pessoas acreditam que o melhor em Luiz
Felipe Scolari é a sua capacidade de motivar os jogadores; de
fazer com que suas equipes sejam aguerridas e confiantes até
o final. Para seus críticos, essa é
a sua única qualidade, e talvez
os seus times sejam um tantinho
"aguerridos" demais.
Felipão assumiu a seleção falando em amadorismo e amor à
camisa e citou Guga como
exemplo. Um de seus convocados já reagiu: o falador Roberto
Carlos teria dito que essa história de "amor" é bobagem; que
ele é um profissional e pronto.
Se viessem de outra pessoa,
talvez essas palavras encontrassem eco em boa parte da platéia.
Quando um jogador recebe R$
200 mil por mês, ele tem a obrigação de se entregar ao trabalho
com afinco, quer esteja "amando" ou não.
É fácil se motivar para um jogo na Argentina, mas quem
consegue jogar com paixão contra a Venezuela, em um campo
horrível, com arquibancadas
vazias e sob um sol escaldante?
Quem vai se lembrar da honra
que é vestir a amarelinha na hora de treinar passes às 8h30?
Aquele que foi convocado pela
primeira vez pode adorar cada
um desses momentos, mas é difícil esperar a mesma empolgação de quem já passou por experiências muito mais emocionantes. Nessa hora, tem razão o
Roberto Carlos: os macacos
mais velhos precisam mesmo ser
profissionais.
Ninguém é apaixonado o tempo todo pelo seu trabalho, seja
ele qual for. Há um dia em que o
músico preferiria ficar em casa
sozinho a tocar seu maior sucesso pela milésima vez e ser venerado pela multidão. Mas ele vai
do mesmo jeito e pode até fazer
o melhor show da sua vida. Isso
é ser profissional, na hora em
que o amor falha.
Com amor, todo trabalho é
mais bem feito. O médico vai
além da consulta burocrática, o
professor se interessa seriamente pelo aprendizado dos alunos,
o arquiteto pensa no bem daqueles que vão usufruir do seu
projeto. Mas o amor, como
qualquer sentimento humano, é
sujeito a altos e baixos, por mais
sincero que seja.
Aqui, budistas, psicólogos,
neurolinguistas e outros especialistas se encontram: o importante é ter a mente sob controle.
E, nesse quesito, Scolari está
bem assessorado por Regina
Brandão, de seriedade comprovada por trabalhos anteriores.
É óbvio que o equilíbrio mental é decisivo para o desempenho de um atleta, e Guga é novamente um bom exemplo (como aprendeu a jogar em desvantagem!). Tanto a insegurança como o excesso de confiança
levam um jogador a cometer bobagens em campo. Ruim da cabeça, doente do pé.
Cada indivíduo reage aos
bons e maus momentos de uma
maneira. O ideal é que o técnico
saiba quais os padrões habituais
de cada um e que os próprios jogadores possam conhecer e compreender a si mesmos e aos outros. Eles precisam saber buscar
o seu melhor recurso para lidar
com as dificuldades inevitáveis:
às vezes é a frieza profissional, e
às vezes, o amor.
Guga é um jogador de técnica
refinada, repertório rico e boa
resistência física. E agora também é experiente, amadurecido,
equilibrado. Bom da cabeça e
bom do "pé", e por isso mesmo
um modelo a seguir. E é um profissional sério que também joga
muito com o tal músculo escolhido como símbolo do amor.
Aremithas
Os conselheiros do Vasco garantem que conheciam e aprovavam todas as medidas do seu presidente. Ótimo! Assim todos
podem ser chamados a depor.
Custo-benefício
Vale a pena ter um jogador como Edílson em um time? Ele deve
ser o detentor do recorde de não-apresentações, fora os outros
índices negativos.
Liga alternativa
Doping, passaportes falsos... Daqui a pouco serão tantos os jogadores suspensos, que poderão montar uma liga paralela.
Contagem regressiva
Jogando na Europa, Riquelme se torna sério candidato a melhor do mundo. Merece: apanha e não cai. Nem perde a bola.
E-mail: soninha.folha@uol.com.br
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