São Paulo, quinta-feira, 21 de junho de 2001

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FUTEBOL
A cabeça e o pé

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Algumas pessoas acreditam que o melhor em Luiz Felipe Scolari é a sua capacidade de motivar os jogadores; de fazer com que suas equipes sejam aguerridas e confiantes até o final. Para seus críticos, essa é a sua única qualidade, e talvez os seus times sejam um tantinho "aguerridos" demais.
Felipão assumiu a seleção falando em amadorismo e amor à camisa e citou Guga como exemplo. Um de seus convocados já reagiu: o falador Roberto Carlos teria dito que essa história de "amor" é bobagem; que ele é um profissional e pronto.
Se viessem de outra pessoa, talvez essas palavras encontrassem eco em boa parte da platéia. Quando um jogador recebe R$ 200 mil por mês, ele tem a obrigação de se entregar ao trabalho com afinco, quer esteja "amando" ou não.
É fácil se motivar para um jogo na Argentina, mas quem consegue jogar com paixão contra a Venezuela, em um campo horrível, com arquibancadas vazias e sob um sol escaldante? Quem vai se lembrar da honra que é vestir a amarelinha na hora de treinar passes às 8h30?
Aquele que foi convocado pela primeira vez pode adorar cada um desses momentos, mas é difícil esperar a mesma empolgação de quem já passou por experiências muito mais emocionantes. Nessa hora, tem razão o Roberto Carlos: os macacos mais velhos precisam mesmo ser profissionais.
Ninguém é apaixonado o tempo todo pelo seu trabalho, seja ele qual for. Há um dia em que o músico preferiria ficar em casa sozinho a tocar seu maior sucesso pela milésima vez e ser venerado pela multidão. Mas ele vai do mesmo jeito e pode até fazer o melhor show da sua vida. Isso é ser profissional, na hora em que o amor falha.
Com amor, todo trabalho é mais bem feito. O médico vai além da consulta burocrática, o professor se interessa seriamente pelo aprendizado dos alunos, o arquiteto pensa no bem daqueles que vão usufruir do seu projeto. Mas o amor, como qualquer sentimento humano, é sujeito a altos e baixos, por mais sincero que seja.
Aqui, budistas, psicólogos, neurolinguistas e outros especialistas se encontram: o importante é ter a mente sob controle. E, nesse quesito, Scolari está bem assessorado por Regina Brandão, de seriedade comprovada por trabalhos anteriores.
É óbvio que o equilíbrio mental é decisivo para o desempenho de um atleta, e Guga é novamente um bom exemplo (como aprendeu a jogar em desvantagem!). Tanto a insegurança como o excesso de confiança levam um jogador a cometer bobagens em campo. Ruim da cabeça, doente do pé.
Cada indivíduo reage aos bons e maus momentos de uma maneira. O ideal é que o técnico saiba quais os padrões habituais de cada um e que os próprios jogadores possam conhecer e compreender a si mesmos e aos outros. Eles precisam saber buscar o seu melhor recurso para lidar com as dificuldades inevitáveis: às vezes é a frieza profissional, e às vezes, o amor.
Guga é um jogador de técnica refinada, repertório rico e boa resistência física. E agora também é experiente, amadurecido, equilibrado. Bom da cabeça e bom do "pé", e por isso mesmo um modelo a seguir. E é um profissional sério que também joga muito com o tal músculo escolhido como símbolo do amor.

Aremithas
Os conselheiros do Vasco garantem que conheciam e aprovavam todas as medidas do seu presidente. Ótimo! Assim todos podem ser chamados a depor.

Custo-benefício
Vale a pena ter um jogador como Edílson em um time? Ele deve ser o detentor do recorde de não-apresentações, fora os outros índices negativos.

Liga alternativa
Doping, passaportes falsos... Daqui a pouco serão tantos os jogadores suspensos, que poderão montar uma liga paralela.
Contagem regressiva Jogando na Europa, Riquelme se torna sério candidato a melhor do mundo. Merece: apanha e não cai. Nem perde a bola.

E-mail: soninha.folha@uol.com.br


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