São Paulo, sexta-feira, 21 de junho de 2002

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A promessa de US$ 2 milhões

'Podem me cobrar: o Brasil vai estar entre os quatro finalistas. Para isso, vamos ter de passar, provavelmente pela Argentina, França ou Inglaterra. Isso é sinal de que tenho confiança absoluta'
LUIZ FELIPE SCOLARI, que já recebeu da CBF cerca de US$ 2 milhões em salários, em 3 de abril, na Folha

FÁBIO VICTOR
FERNANDO MELLO
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
SÉRGIO RANGEL
ENVIADOS ESPECIAIS A HAMAMATSU

Luiz Felipe Scolari, que assumiu a seleção em junho do ano passado pregando o amadorismo, recebe o maior salário já pago pela CBF para um técnico do time verde-amarelo na história das Copas.
Scolari ganha R$ 370 mil mensais, mais que o dobro dos vencimentos do antecessor, Emerson Leão -R$ 170 mil-, demitido após fracassos na Copa das Confederações e nas eliminatórias.
O salário de Scolari também é maior que o recebido por Wanderley Luxemburgo, R$ 250 mil mensais. Carlos Alberto Parreira e Zagallo, que dirigiram o time nas Copas de 1994 e 1998, respectivamente, ganhavam na faixa de US$ 80 mil mensais cada, o que hoje equivaleria a R$ 220 mil. Antes deles, a CBF mal tinha dinheiro para levar a seleção aos Mundiais.
No total, consideradas as variações do dólar no câmbio livre, o técnico da seleção já recebeu cerca de US$ 2 milhões da CBF em um ano de trabalho. Com tamanho respaldo financeiro, Scolari prometeu colocar o Brasil entre as quatro melhores seleções do Mundial. Na madrugada de hoje, a seleção definiria contra a Inglaterra uma vaga nas semifinais.
No dia em que assumiu o comando da seleção, 12 de junho de 2001, em meio à maior crise da história da seleção, Scolari disse que não havia falado em dinheiro com Ricardo Teixeira, presidente da CBF. "Neste momento, não estou preocupado com isso", disse.
"Não dá para trabalhar só pelo aspecto financeiro. É preciso ter amor", afirmou na ocasião -recado aos atletas que não vinham rendendo nas eliminatórias.
Scolari recebe dez vezes mais que o próprio Teixeira, que ganha R$ 35 mil por mês. Além do salário, engorda seus rendimentos com comerciais e imóveis. Segundo a CBF, cargo e salário estão registrados em carteira, assim como ocorreu com Luxemburgo e Leão.
Apesar de soar alto para os padrões do mercado brasileiro, o ganho do técnico é baixo se comparado ao de outros treinadores do Mundial. O valor, porém, é o mesmo que recebia no Cruzeiro, time que deixou para dirigir a seleção.
O "namoro" entre o técnico e a CBF foi um dos mais difíceis da história recente da seleção. Scolari chegou a recusar um primeiro convite, antes de Leão aceitar.
Assim como ele, Parreira e Oswaldo de Oliveira também disseram não a Teixeira em 2000. Os dois temiam transformar-se em alvos das CPIs que devassaram a entidade até o ano passado.
Após a queda de Leão, no pior momento da seleção e no ponto mais agudo das CPIs, a CBF encomendou uma pesquisa de opinião pública que indicou o nome de Scolari como o ideal para assumir a equipe. A entidade, então, foi atrás do respaldo popular.
Mas Scolari só aceitou dirigir o time depois de ter a palavra de Teixeira de que continuaria no cargo após a classificação para a Copa. E ela veio em novembro.
Fortalecido, tapou os ouvidos para o clamor popular, o mesmo que o levou a seleção, e não convocou Romário. Disse que, se perdesse a Copa, estaria "morto".



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