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MOTOR
O Barrichello de saias
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
A McLaren admitiu nesta
semana que pode imitar a
Ferrari e mandar David Coulthard trabalhar como escudeiro
para o companheiro Kimi Raikkonen, agora a três pontos do novo líder Michael Schumacher.
Sem julgar o mérito da questão
-o jogo de equipe está proibido,
mas nem a FIA sabe como cumprir esse item do regulamento-,
o curioso dessa história é a afirmação do time ganhar contornos
de polêmica no Reino Unido.
Raikkonen, afinal, é até aqui o
único e surpreendente adversário
do alemão no campeonato, enquanto Coulthard coleciona apenas aquela vitória de sobrevivência na abertura, em Melbourne.
A verdade é que o escocês de
mandíbulas proeminentes, bom
piloto ou apenas um bom piloto,
nem para escudeiro está servindo.
Mas Coulthard fala inglês e, mesmo trajando kilt, é o súdito em
melhor posição na F-1 neste momento. E os ingleses, principalmente os que se interessam por
automobilismo, costumam alimentar seus ídolos, por mais absurdo que isso pareça às vezes.
Há certa coerência nessa atitude complacente, dado que é o que
eles têm. Fazemos o mesmo com
Barrichello. A diferença é que perdemos a paciência mais rápido,
estivemos na berlinda anos a fio,
algo que não acontece com a ilha
faz tempo. (Damon Hill não vale.
Foi fabricado, contratado para
ser um simples segundo de Senna,
agradar ao país e aos patrocinadores. Acabou campeão porque
Schumacher parou para comer
grama em Maranello.)
Coulthard, na verdade, era a
grande esperança inglesa. Deu
várias demonstrações de arrojo
todos esses anos. A mais fantástica foi ter corrido para um heróico
segundo lugar em Barcelona, com
três costelas trincadas, dias depois
de sofrer um grave acidente aéreo
no qual a tripulação morreu.
O escocês, no entanto, provou
ser de lampejos. Enquanto Hakkinen ficava cada vez mais sólido,
resignou-se. E, enquanto Raikkonen é cada vez mais festejado, cai
para sétimo no campeonato.
Em recente entrevista, Stirling
Moss, eterno vice tratado como
campeão por lá, foi enfático:
Coulthard não vai conseguir. Disse com todas as letras que o desempenho de Raikkonen deveria
funcionar como um catalisador,
mas nem assim ele reage.
O escocês, apesar dos 32 anos, já
é percebido como piloto em decadência. Barrichello segue em trilha semelhante. São da mesma
geração e se conhecem e se enfrentam desde as categorias de acesso.
Só que a coincidência desta temporada é mais perturbadora.
A não ser que o Mundial tome
rumos imprevistos, ambos são as
peças que faltam a um campeonato até aqui muito disputado.
Schumacher e a Ferrari precisam
de Barrichello, Raikkonen e a
McLaren precisam ainda mais de
Coulthard. O brasileiro já recebeu
até uma segunda ameaça nesta
semana -anteontem Fisichella
se ofereceu de graça para Maranello; ontem Montezemolo disse
que seria bom ter um italiano.
A única vantagem de Coulthard, agora, é a tal complacência
inglesa. Porém, se a McLaren for
anglófila, vai colocar tudo, que já
não é muito, a perder.
Satélites
Se a Ferrari tem a Sauber, a Mercedes negocia com a Jordan. Um
acordo com a montadora pode significar economia de até US$ 6 milhões/ano para o time de Eddie Jordan. Mais ainda se o irlandês aceitar pilotos indicados, como ocorre com Peter Sauber. Já a Minardi
agarrou outra bóia, a de Bernie Ecclestone, que comprou um teco do
time e provocou um patrocinador a adquirir cinco chassis da falida
Arrows. Se conveniente, irão à pista. O motor Ford é o mesmo.
Cisma
A BMW já fala em deixar a GPWC. É o segundo golpe na associação,
que outro dia ouviu não da Toyota. O problema, no caso, é a rival
Mercedes, mandona, que quer comprar os 75% da F-1 dos bancos
alemães. Rachar a conta significa US$ 400 milhões para os bávaros.
E-mail mariante@uol.com.br
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