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São Paulo, sábado, 21 de junho de 2003

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MOTOR

O Barrichello de saias

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

A McLaren admitiu nesta semana que pode imitar a Ferrari e mandar David Coulthard trabalhar como escudeiro para o companheiro Kimi Raikkonen, agora a três pontos do novo líder Michael Schumacher.
Sem julgar o mérito da questão -o jogo de equipe está proibido, mas nem a FIA sabe como cumprir esse item do regulamento-, o curioso dessa história é a afirmação do time ganhar contornos de polêmica no Reino Unido.
Raikkonen, afinal, é até aqui o único e surpreendente adversário do alemão no campeonato, enquanto Coulthard coleciona apenas aquela vitória de sobrevivência na abertura, em Melbourne.
A verdade é que o escocês de mandíbulas proeminentes, bom piloto ou apenas um bom piloto, nem para escudeiro está servindo. Mas Coulthard fala inglês e, mesmo trajando kilt, é o súdito em melhor posição na F-1 neste momento. E os ingleses, principalmente os que se interessam por automobilismo, costumam alimentar seus ídolos, por mais absurdo que isso pareça às vezes.
Há certa coerência nessa atitude complacente, dado que é o que eles têm. Fazemos o mesmo com Barrichello. A diferença é que perdemos a paciência mais rápido, estivemos na berlinda anos a fio, algo que não acontece com a ilha faz tempo. (Damon Hill não vale. Foi fabricado, contratado para ser um simples segundo de Senna, agradar ao país e aos patrocinadores. Acabou campeão porque Schumacher parou para comer grama em Maranello.)
Coulthard, na verdade, era a grande esperança inglesa. Deu várias demonstrações de arrojo todos esses anos. A mais fantástica foi ter corrido para um heróico segundo lugar em Barcelona, com três costelas trincadas, dias depois de sofrer um grave acidente aéreo no qual a tripulação morreu.
O escocês, no entanto, provou ser de lampejos. Enquanto Hakkinen ficava cada vez mais sólido, resignou-se. E, enquanto Raikkonen é cada vez mais festejado, cai para sétimo no campeonato.
Em recente entrevista, Stirling Moss, eterno vice tratado como campeão por lá, foi enfático: Coulthard não vai conseguir. Disse com todas as letras que o desempenho de Raikkonen deveria funcionar como um catalisador, mas nem assim ele reage.
O escocês, apesar dos 32 anos, já é percebido como piloto em decadência. Barrichello segue em trilha semelhante. São da mesma geração e se conhecem e se enfrentam desde as categorias de acesso. Só que a coincidência desta temporada é mais perturbadora.
A não ser que o Mundial tome rumos imprevistos, ambos são as peças que faltam a um campeonato até aqui muito disputado. Schumacher e a Ferrari precisam de Barrichello, Raikkonen e a McLaren precisam ainda mais de Coulthard. O brasileiro já recebeu até uma segunda ameaça nesta semana -anteontem Fisichella se ofereceu de graça para Maranello; ontem Montezemolo disse que seria bom ter um italiano.
A única vantagem de Coulthard, agora, é a tal complacência inglesa. Porém, se a McLaren for anglófila, vai colocar tudo, que já não é muito, a perder.

Satélites
Se a Ferrari tem a Sauber, a Mercedes negocia com a Jordan. Um acordo com a montadora pode significar economia de até US$ 6 milhões/ano para o time de Eddie Jordan. Mais ainda se o irlandês aceitar pilotos indicados, como ocorre com Peter Sauber. Já a Minardi agarrou outra bóia, a de Bernie Ecclestone, que comprou um teco do time e provocou um patrocinador a adquirir cinco chassis da falida Arrows. Se conveniente, irão à pista. O motor Ford é o mesmo.

Cisma
A BMW já fala em deixar a GPWC. É o segundo golpe na associação, que outro dia ouviu não da Toyota. O problema, no caso, é a rival Mercedes, mandona, que quer comprar os 75% da F-1 dos bancos alemães. Rachar a conta significa US$ 400 milhões para os bávaros.

E-mail mariante@uol.com.br


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