São Paulo, domingo, 21 de julho de 2002

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FUTEBOL

Adãozinho x Zidane

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Marcos Senna, você cola no Zidane. Rubens Cardoso, cuidado com o Figo nas costas. Dininho, não dá espaço para o Raúl. Daniel, presta atenção no jogo aéreo do Morientes. Adãozinho, fique de olho nas subidas do Roberto Carlos. Anaílson, parte pra cima do Hierro. Somália, arrisca de longe no Casillas."
Você já imaginou o Jair Picerni dando instruções para os humildes atletas do São Caetano antes do jogo com o mais badalado Real Madrid de todos os tempos em Yokohama, palco da final da Copa-2002, na decisão do Mundial interclubes? Isso está bem perto de acontecer. E isso seria talvez o mais interessante caso de Davi contra Golias em uma decisão importante do futebol mundial. Seria um jogo de menor interesse? Ora, isso seria demais!
Esse hipotético jogo, que só tem um esforçado Olimpia como obstáculo para virar realidade, é um sonho, um exemplo, um desafio.
O futebol brasileiro conquistou o penta no Japão após ser desacreditado por muita gente -"só" quase toda a imprensa internacional, como bem mostrou pesquisa feita pela Folha antes do Mundial. Se o título da seleção já surpreendeu tanta gente, o que dizer se um time que até poucos meses estava na terceira divisão paulista superar o mais poderoso clube, uma seleção mundial de fato, diante de todo o planeta?
A lição que o modesto São Caetano pode dar ao mundo do futebol, que vê agora uma redução racional de seus astronômicos valores, é infinitamente maior do que a que o time de Scolari acabou dando nos campos asiáticos?
Curioso ver que o estádio de Yokohama, nova casa (possivelmente provisória) do Mundial interclubes, pode alçar em poucos meses o futebol brasileiro a um lugar mais alto do que qualquer ufanista torcedor nacional ou seguidor de Galvão Bueno imaginaria.
A coluna já está viajando bastante com um jogo que ainda não está garantido, mas, diante de sua real possibilidade, não poderia passar em branco. A imprensa nacional (em especial as TVs) tristemente desprezou a campanha do time do ABC e agora, meio hipocritamente, vai fazer da final da Libertadores deste ano uma coisa quase maior que a Copa (até a semana passada, havia uma preocupação maior na mídia se o São Caetano avançaria às quartas da Copa dos Campeões).
O feito da mais nova força do futebol nacional já é bastante considerável. Não são muitos os clubes que decidiram a Libertadores -dos fundadores do Clube dos 13, cinco ainda vêem isso apenas como um sonho distante.
Mas, justiça seja feita ao Cobreloa, o São Caetano não é o mais jovem finalista do torneio. O vice do Flamengo em 1981, com seu uniforme laranja como o da Holanda, fez uma final com menos de 12 anos de vida, pois o atual Club de Deportes Cobreloa foi fundado em 7 de janeiro de 1977.
O Cobreloa pode e deve, sim, inspirar o São Caetano, pois, após um aparecimento meteórico no começo dos anos 80 -ganhou título nacional com três anos de vida-, sofreu queda rápida e hoje pena no carente futebol chileno.
Mas, de qualquer forma, fez história, como fez agora o São Caetano. O mundo hoje é pequeno. Com um pouco de ambição dá para conquistá-lo. O simples e já internacional Azulão mostrou o caminho. Cresceu em seu Estado, em seu país, em seu continente.
A Terra será mesmo azul?

Libertadores
O São Caetano jogou toda a competição sul-americana com a bola da Penalty, empresa brasileira que fornece seu material esportivo. Agora, na final do torneio, terá que jogar com a bola da Nike, nova parceira da Confederação Sul-Americana de Futebol. A mudança da bola, por questões técnicas, afeta o Azulão e o Olimpia, que joga no Paraguai também com a bola da Penalty.

Confederações
O Brasil tem tudo para ganhar no ano que vem outro título, o da Copa das Confederações. Estados Unidos, Colômbia, Camarões, Nova Zelândia... França de técnico novo.

Brasileiro
Nacional em dois semestres. Turno e returno, pontos corridos? Isso é melhor para o futebol do Brasil do que o pentacampeonato e o possível título mundial do Azulão.

E-mail rbueno@folhasp.com.br

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