São Paulo, domingo, 21 de julho de 2002

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FÓRMULA 1

É hoje?

Michael Schimacher corre em Magny-Cours pelo pentacampeonato

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A MAGNY-COURS

O primeiro a falar é Jean Todt, diretor esportivo da Ferrari: "A principal qualidade do Michael é a amizade, a maneira como ele consegue se relacionar com todo mundo. Tenho por ele o mesmo amor que sinto por meu filho, Nicolas. Ele é um filho pra mim".
Depois, Ross Brawn, engenheiro, diretor técnico e estrategista da equipe: "Sua principal qualidade é a frieza, o que lhe dá uma capacidade de reagir muito rápido. Simultaneamente, ele consegue pilotar e combinar coisas complicadíssimas pelo rádio".
Por fim, fechando a lista das três pessoas que trabalham mais próximas a Michael Schumacher, o brasileiro Rubens Barrichello: "É a velocidade, sem dúvida. O Ayrton [Senna" também era muito veloz, mas às vezes batia. O Schumacher é consistente. E, com os anos, conseguiu agrupar outros fatores à sua velocidade".
Os três personagens falaram à Folha em Magny-Cours. E deram três opiniões totalmente diferentes sobre uma mesma pessoa.
Relacionamento, frieza, velocidade. Qualidades que, juntas, podem fazer Michael Schumacher, 33, igualar hoje o mítico pentacampeonato de Juan Manuel Fangio. Uma marca conquistada nos distantes anos 50 e que gênios como Alain Prost, Senna e Jim Clark não conseguiram alcançar.
Relacionamento, frieza, velocidade. Qualidades que ainda podem levar o ferrarista a outros recordes. Com a corrida desta manhã, apenas 64,7% do Mundial terá sido disputado. Nunca, na história, um piloto fechou tão cedo um campeonato. O recorde, até agora, pertence a Nigel Mansell, campeão em 92 após correr 68,7% do calendário daquele ano.
Cronologicamente, a história se repete. Nunca ninguém se tornou campeão em julho. A melhor marca dos 52 anos da F-1 pertence a outro mito das pistas, o escocês Clark, que levou seu bicampeonato em 1º de agosto de 1965.
O GP da França, 11ª etapa da temporada, acontece a partir das 9h (horário de Brasília), no circuito de Magny-Cours, com TV.
Para levar o título, Schumacher precisa vencer e esperar que nem Barrichello nem Juan Pablo Montoya cheguem em segundo lugar.
Seu maior adversário parece ser Montoya. Ontem, no treino que definiu o grid, o colombiano conseguiu sua quinta pole consecutiva. Schumacher larga em segundo e Barrichello, em terceiro.
"Vou tentar chegar ao fim e ver o que acontece. Corro por prazer e tenho enorme prazer em vencer, então é besteira dizerem que vou jogar a decisão para Hockenheim", disse o tetracampeão ontem, referindo-se aos boatos de que ele preferiria conquistar o título no próximo GP, na Alemanha, diante de sua torcida.
O pentacampeonato consagraria ainda mais um piloto que estreou na F-1 há pouco menos de 11 anos, quase sem querer, e que, no período, acumulou recordes como nenhum outro na história.
O alemão só sentou em um F-1 por acaso. Piloto de turismo da Mercedes-Benz, foi convidado a disputar o GP da Bélgica de 1991 pela Jordan na vaga de Bertrand Gachot, que havia sido preso por espirrar gás paralisante em um motorista de táxi durante uma briga de trânsito em Londres.
Schumacher mentiu para Eddie Jordan, disse que conhecia o circuito de Spa-Francorchamps e, assim, ganhou a chance. Hospedado em um modesto albergue da juventude, cavou um excelente sétimo lugar no grid e abandonou a prova na primeira volta, com um problema mecânico.
Foi o suficiente para chamar a atenção da Benetton, que o contratou para a corrida seguinte e na qual ficou até o fim de 1995, quando se mudou para a Ferrari.
Hoje, Schumacher é o recordista isolado de vitórias (60), melhores voltas (47), pontos (887), voltas na liderança (3.423). É, ao lado de Mansell, quem mais GPs venceu em uma mesma temporada (nove, marca alcançada em 1995, 2000 e no ano passado).
Além do pentacampeonato, o único recorde relevante que ele ainda não alcançou é o de poles. Senna fez 65. Schumacher soma 46, mas tem pelo menos mais 40 corridas pela frente até dezembro de 2004, quando termina seu atual contrato com a Ferrari.
Quem pensa que o alemão é um obcecado por recordes, porém, se engana. Publicamente, ele nunca deu a mínima atenção para essas marcas históricas.
A única vez em que se abalou foi em 2000, quando, na Itália, igualou as 41 vitórias de Senna.
Ali, Schumacher não se conteve e chorou. Ele nunca escondeu que sempre foi fã do brasileiro.
Muito provavelmente, vai voltar a se abalar hoje, já que também nunca camuflou sua profunda admiração por Fangio.
Por décadas, o pentacampeonato foi uma meta que parecia inatingível, daquelas marcas alcançadas só uma vez na história, em tempos remotos, e pronto.
Talvez porque, desde Fangio, nunca nenhum piloto tenha reunido tantas qualidades. Relacionamento, frieza e velocidade.

NA TV - GP da França, na Globo, ao vivo, às 9h


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