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São Paulo, segunda-feira, 21 de julho de 2003

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F-1

Barrichello diz que chegou "muito perto" do feito na Alemanha, em 2000, quando um manifestante também invadiu a pista

Vitória no braço imita roteiro do 1º triunfo

DO ENVIADO A SILVERSTONE

Demorou três anos, intervalo para exatas 50 corridas. Ontem, Rubens Barrichello, 31, repetiu o desempenho de sua primeira vitória na F-1, em julho de 2000.
O triunfo em Silverstone seguiu o roteiro daquela primeira conquista, em Hockenheim, na Alemanha: Michael Schumacher apático, Barrichello arrojado e ultrapassando seus concorrentes um a um, clima instável. E um maluco que invadiu a pista, forçando a entrada do safety car.
Pouco antes da largada, com o brasileiro já alinhado na pole position, uma garoa fina trouxe preocupação às equipes. Porém o tempo se firmou, e, com pista seca, Barrichello largou mal.
Foi ultrapassado por Jarno Trulli e Kimi Raikkonen, caiu para terceiro lugar e lá ficou até a 11ª volta, quando acelerou e começou sua sequência de ataques.
A primeira vítima foi Raikkonen, superado na Vale, uma das curvas fechadas de Silverstone.
Na volta seguinte, quando partia para cima de Trulli, o brasileiro foi atrapalhado por um manifestante, que invadiu perigosamente a pista usando kilt, o tradicional saiote escocês, e carregando uma cartolina com os dizeres: "Leia a Bíblia. A Bíblia está sempre certa".
A direção da prova mandou o safety car à pista. A maioria dos pilotos, então, aproveitou para fazer o seu primeiro pit stop.
Quatro voltas depois, com o manifestante preso, um homem de 56 anos cuja identidade não foi revelada, a corrida foi reiniciada.
Oitavo colocado após os pits, Barrichello retomou então sua escalada rumo à liderança.
O trabalho para chegar à ponta não foi fácil. Em uma F-1 que reclama da falta de manobras arrojadas, o brasileiro ultrapassou cinco concorrentes: Ralph Firman (na 16ª volta), Ralf Schumacher (17ª), Trulli (26ª), Olivier Panis (30ª) e, pela segunda vez no dia, Raikkonen (42ª).
Cristiano da Matta e David Coulthard, que estavam à sua frente após o safety car, seguiram estratégia de três pit stops e também cederam posições para Barrichello, que parou duas vezes.
Assim, o brasileiro venceu.
"Passar o Raikkonen pela segunda vez no final da corrida foi uma das coisas mais difíceis que já fiz na F-1. Achei que, por estar lutando pelo campeonato, ele não fosse arriscar, mas o Raikkonen queria os dez pontos, com certeza. Eu, como não tinha nada a perder, decidi lutar", afirmou.
No caminhão da Ferrari em Silverstone, de onde a Folha acompanhou parte da corrida, os italianos vibravam com as manobras de Barrichello. Principalmente após seu duelo com Ralf, uma das disputas mais belas das últimas temporadas da F-1.
Os dois percorreram meia volta praticamente lado a lado. O ferrarista atacava, Ralf reagia. Foram três trocas de posição até o brasileiro dar o último golpe e passar.
Após a prova, foi inevitável: Barrichello lembrou de sua primeira vitória. "Eu tenho na minha cabeça que nunca vou superar o que fiz aquela vez, na Alemanha. Mas hoje [ontem] foi muito perto. Sabia que tinha um carro para ganhar e que tinha feito uma boa escolha de pneus", declarou o brasileiro, extasiado e ainda exalando o champanhe com o qual se banhou no alto do pódio inglês.
Em 30 de julho de 2000, o ferrarista largou em 18º lugar. Como ontem, ultrapassou todos o que apareceram à sua frente, inclusive sob chuva. E foi em Hockenheim que pela primeira vez um manifestante invadiu um GP de F-1 -na ocasião, foi um ex-funcionário da Mercedes-Benz, protestando contra a montadora.
Desde aquele dia até ontem, foram 50 corridas. E mais quatro vitórias, todas no ano passado, em um campeonato que ficou manchado pela marmelada do GP da Áustria, quando Barrichello foi obrigado a ceder passagem para Schumacher na última volta.
Os triunfos do brasileiro em Nurburgring, Budapeste, Monza e Indianápolis carregarão sempre a pecha de terem sido "presentes de retribuição" de Schumacher.
A vitória de ontem, não. Foi conquistada no braço e no peso do pé direito. (FÁBIO SEIXAS)


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