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F-1
Barrichello diz que chegou "muito perto" do feito na Alemanha, em 2000, quando um manifestante também invadiu a pista
Vitória no braço imita roteiro do 1º triunfo
DO ENVIADO A SILVERSTONE
Demorou três anos, intervalo
para exatas 50 corridas. Ontem,
Rubens Barrichello, 31, repetiu o
desempenho de sua primeira vitória na F-1, em julho de 2000.
O triunfo em Silverstone seguiu
o roteiro daquela primeira conquista, em Hockenheim, na Alemanha: Michael Schumacher
apático, Barrichello arrojado e ultrapassando seus concorrentes
um a um, clima instável. E um
maluco que invadiu a pista, forçando a entrada do safety car.
Pouco antes da largada, com o
brasileiro já alinhado na pole position, uma garoa fina trouxe
preocupação às equipes. Porém o
tempo se firmou, e, com pista seca, Barrichello largou mal.
Foi ultrapassado por Jarno Trulli e Kimi Raikkonen, caiu para
terceiro lugar e lá ficou até a 11ª
volta, quando acelerou e começou
sua sequência de ataques.
A primeira vítima foi Raikkonen, superado na Vale, uma das
curvas fechadas de Silverstone.
Na volta seguinte, quando partia para cima de Trulli, o brasileiro
foi atrapalhado por um manifestante, que invadiu perigosamente
a pista usando kilt, o tradicional
saiote escocês, e carregando uma
cartolina com os dizeres: "Leia a
Bíblia. A Bíblia está sempre certa".
A direção da prova mandou o
safety car à pista. A maioria dos
pilotos, então, aproveitou para fazer o seu primeiro pit stop.
Quatro voltas depois, com o
manifestante preso, um homem
de 56 anos cuja identidade não foi
revelada, a corrida foi reiniciada.
Oitavo colocado após os pits,
Barrichello retomou então sua escalada rumo à liderança.
O trabalho para chegar à ponta
não foi fácil. Em uma F-1 que reclama da falta de manobras arrojadas, o brasileiro ultrapassou
cinco concorrentes: Ralph Firman (na 16ª volta), Ralf Schumacher (17ª), Trulli (26ª), Olivier Panis (30ª) e, pela segunda vez no
dia, Raikkonen (42ª).
Cristiano da Matta e David
Coulthard, que estavam à sua
frente após o safety car, seguiram
estratégia de três pit stops e também cederam posições para Barrichello, que parou duas vezes.
Assim, o brasileiro venceu.
"Passar o Raikkonen pela segunda vez no final da corrida foi
uma das coisas mais difíceis que já
fiz na F-1. Achei que, por estar lutando pelo campeonato, ele não
fosse arriscar, mas o Raikkonen
queria os dez pontos, com certeza.
Eu, como não tinha nada a perder, decidi lutar", afirmou.
No caminhão da Ferrari em Silverstone, de onde a Folha acompanhou parte da corrida, os italianos vibravam com as manobras
de Barrichello. Principalmente
após seu duelo com Ralf, uma das
disputas mais belas das últimas
temporadas da F-1.
Os dois percorreram meia volta
praticamente lado a lado. O ferrarista atacava, Ralf reagia. Foram
três trocas de posição até o brasileiro dar o último golpe e passar.
Após a prova, foi inevitável:
Barrichello lembrou de sua primeira vitória. "Eu tenho na minha
cabeça que nunca vou superar o
que fiz aquela vez, na Alemanha.
Mas hoje [ontem] foi muito perto.
Sabia que tinha um carro para ganhar e que tinha feito uma boa escolha de pneus", declarou o brasileiro, extasiado e ainda exalando o
champanhe com o qual se banhou no alto do pódio inglês.
Em 30 de julho de 2000, o ferrarista largou em 18º lugar. Como
ontem, ultrapassou todos o que
apareceram à sua frente, inclusive
sob chuva. E foi em Hockenheim
que pela primeira vez um manifestante invadiu um GP de F-1
-na ocasião, foi um ex-funcionário da Mercedes-Benz, protestando contra a montadora.
Desde aquele dia até ontem, foram 50 corridas. E mais quatro vitórias, todas no ano passado, em
um campeonato que ficou manchado pela marmelada do GP da
Áustria, quando Barrichello foi
obrigado a ceder passagem para
Schumacher na última volta.
Os triunfos do brasileiro em
Nurburgring, Budapeste, Monza
e Indianápolis carregarão sempre
a pecha de terem sido "presentes
de retribuição" de Schumacher.
A vitória de ontem, não. Foi
conquistada no braço e no peso
do pé direito.
(FÁBIO SEIXAS)
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