São Paulo, Quarta-feira, 21 de Julho de 1999
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PAN-AMERICANO
Mangabeira marca retorno de negros, ausentes desde 1971
Nadador brasileiro rompe barreira racial de 28 anos

FERNANDO ITOKAZU
da Reportagem Local

Depois de 28 anos, a seleção brasileira de natação volta a ter atletas negros na equipe que disputa um Pan-Americano.
Segundo a CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), a última vez que a seleção teve representantes negros na competição foi em Cali, na Colômbia, em 1971, com Eliane Pereira e César Lourenço.
Para a disputa da modalidade nos Jogos de Winnipeg, no Canadá, de 2 a 7 de agosto, a equipe terá, entre seus 29 competidores, Gabriel Mangabeira, 17, e Edvaldo Valério, 20.
Os atletas dizem não saber o motivo da pouca presença de negros na elite da natação brasileira.
""Sempre vi bastante negros competindo comigo, mas acho que fui o único a conseguir grande destaque", diz Mangabeira, que disputa seu primeiro Pan-Americano e é o mais novo da equipe masculina. ""Não sei se falta apoio ou incentivo."
O atleta, que defende o Vasco, nada em Winnipeg os 100 m borboleta, os 200 m medley e o revezamento 4 x 100 m medley.
Edvaldo Valério, que compete pelo Baneb (BA), é o reserva no revezamento 4 x 100 m livre.
Mangabeira afirma que ""dá para tentar lutar por uma medalha" nos 100 m borboleta.
""Meu objetivo é quebrar o recorde brasileiro da prova, que é 54s25. Se conseguir isso, acho que é possível sonhar com um lugar no pódio", afirma o nadador, cuja melhor marca é 54s86.
De acordo com o técnico Luiz Raphael, do Vasco e da seleção brasileira, o nadador deve ter uma grande melhora nessa prova.
""Como ele é muito versátil, estávamos treinando para a prova de medley. Mas, agora, para o Pan, vamos priorizar o borboleta", disse Raphael. As provas de medley reúnem os quatros estilos (borboleta, costas, peito e livre).
O treinador concorda que seu atleta tenha chances de atingir a melhor marca brasileira, mas é mais reticente em relação às possibilidades de medalha.
""Acredito que o pódio é um pouco difícil. Acho que é um pouco cedo para pensarmos em medalha, mas, sem dúvida, ele tem um potencial muito grande", afirma Raphael. ""O recorde é totalmente plausível."
Mangabeira, que começou a nadar aos 4 anos incentivado pelo avô, professor de natação, tem uma carreira vitoriosa.
Foi vice-campeão nos Jogos Mundiais da Juventude no ano passado e possui 11 títulos sul-americanos em várias categorias.
Seu primeiro título brasileiro absoluto veio no Troféu Brasil, em junho, nos 200 m medley.
Na mesma competição, Mangabeira conseguiu índice para o Pan-Americano nos 100 m borboleta. Conseguiu a medalha de bronze na prova, mas foi o melhor brasileiro -ficou atrás de Denis Silantiev e James Hickman, finalistas no Mundial de piscina curta, em abril, em Hong Kong.
De acordo com Raphael, é raro um nadador conseguir vaga na seleção principal com 17 anos, como é o caso de Mangabeira.
""Com essa idade, o corpo do homem ainda está em formação. Na equipe feminina, é mais comum termos atletas mais novas", disse o técnico, que o acompanha há um ano e meio.
Apesar do porte físico de Mangabeira (1,92 m de altura e 83 kg), Raphael disse que o atleta tem o corpo de ""um menino".
O nadador afirma que nunca fez um bom trabalho de musculação por ser muito novo. ""Só agora o programa de musculação deve ficar mais intenso."
Raphael cita Gustavo Borges, dono de três medalhas olímpicas, como um exemplo de trabalho bem-sucedido de musculação.
""Ele (Borges) era magrinho, sequinho. Com certeza, seu desenvolvimento muscular o ajudou a alcançar seus tempos atuais."
Mangabeira diz que, por enquanto, não pretende se mudar para os EUA, onde treinam alguns dos principais nadadores do Brasil, como Borges, Fernando Scherer e Fabíola Molina.
""No meu caso, a estrutura aqui é parecida à que eu encontraria lá", afirma o nadador, que está no terceiro ano do ensino médio e diz pretender fazer algum ""curso na área de comunicação social".


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