São Paulo, Quarta-feira, 21 de Julho de 1999
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Valeu!

A seleção brasileira está de parabéns pela conquista do título da Copa América no Paraguai. Era o que se esperava, pela qualidade de seus jogadores e pela fraqueza dos times adversários.
A equipe brasileira teve uma grande virtude: jogou com seriedade, sem menosprezar as outras equipes.
Wanderley Luxemburgo manteve o mesmo desenho tático de seu antecessor, Zagallo, (4-3-1-2), mas introduziu algumas variações importantes.
No lugar de colocar um volante fixo entre os zagueiros e liberar, ao mesmo tempo, os laterais para o apoio, o treinador alternou o avanço dos laterais.
Quando um atacava, o outro ficava recuado, marcando um atacante adversário, para sobrar um zagueiro.
Como os laterais brasileiros são muito marcados, Luxemburgo colocou o Zé Roberto funcionando como um ala-ponta-esquerda, nas costas do marcador do Roberto Carlos, enganando o adversário.
Só faltou a mesma jogada pelo lado direito.
Espero ver, em breve, o segundo volante da seleção jogando pela direita, com a mesma função do armador do lado esquerdo, formando um triângulo com somente um volante fixo recuado pelo meio e um armador de cada lado, defendendo e atacando.
Outra mudança em relação à equipe que disputou a Copa da França em 98 é que o jogador de ligação do meio-campo ao ataque (Rivaldo) passou a não ter a obrigação de marcar no campo da seleção brasileira, formando, na prática, três atacantes.
Luxemburgo está percebendo que a capacidade de exercer a marcação por pressão, com mais qualidade e por mais tempo, e de sair dela -o que não aconteceu na partida contra a Argentina- é hoje um dos segredos da vitória.
Como já era previsto, o goleiro Dida brilhou. Ele tem grandes chances de se tornar um destaque permanente da seleção brasileira.
Cafu e Roberto Carlos jogaram muito bem na defesa -a principal função-, e o lateral-esquerdo brilhou também no apoio. Talvez ele tenha sido o melhor jogador do time do Brasil na competição, pois esteve bem em todas as partidas.
Os zagueiros foram apenas regulares. Creio que não faria muita diferença se Odvan tivesse atuado no lugar de João Carlos.
Os volantes foram eficientes na marcação, mas continuam fracos no apoio, principalmente Flávio Conceição.
Émerson conquistou a posição de titular ao lado do Vampeta, que fez muita falta ao time.
Zé Roberto me surpreendeu positivamente, formando uma ótima dupla com Roberto Carlos.
Rivaldo, Ronaldo e Amoroso alternaram momentos brilhantes e ruins, característica dos grandes jogadores.
Mesmo quando atuam mal, Rivaldo e Ronaldo são imprescindíveis e fazem a diferença contra qualquer seleção do mundo.
Prefiro o Rivaldo como armador pelo lado esquerdo, e não pelo meio, próximo aos atacantes.
Nessa posição, ele é facilmente marcado quando joga contra uma forte defesa, como a da seleção argentina.
Pelo lado esquerdo, o jogador faria o mesmo número de gols e abriria vaga, no meio, para um jogador de mais visão do conjunto, necessário para essa posição (Alex, Ronaldinho, Djalminha).
Luxemburgo mostrou sua competência. Seus treinos técnicos e táticos são brilhantes.
Espero que com o tempo ele possa introduzir outras variações na equipe, para não ser surpreendido.
Por outro lado, o treinador confunde respeito e boa convivência social com cumplicidade. Ele não entende que posso criticá-lo e elogiá-lo, dependendo da situação.
Não sou contra nem a favor do treinador. Analiso o fato. Como ele não gosta das críticas, prefiro a distância. Não quero nem necessito de sua informação privilegiada, como continua acontecendo.
Não se pode tirar conclusões definitivas com o título da Copa América, pois jogamos contra fracos adversários.
Não há motivos para desmerecer nem exaltar a conquista, muito menos para a seleção ser recebida pelo presidente da República, como sempre preocupado com os problemas menos urgentes do país.

Globalização do futebol

Sempre se falou que a filosofia e o sistema tático europeu eram diferentes do brasileiro e do sul-americano.
Os europeus jogavam com três zagueiros e dois alas, e os sul-americanos atuavam com dois zagueiros e dois laterais.
Tudo mudou. Muitas seleções européias (como França, Holanda etc.) estão jogando como a equipe do Brasil, e quase todas as seleções que atuaram na Copa América-99 (como Argentina, Chile, México e outras) estão jogando como os europeus.
É a globalização do futebol, misturando as diferenças.
Vejo positivamente essa mudança, já que não existe um sistema tático melhor do que o outro para todos os momentos.
Não se pode é jogar sempre da mesma maneira, pois o futebol é um esporte muito rico em mistérios, em detalhes e na imprevisibilidade.
É preciso criar ainda mais variações, para que a beleza, o talento e a emoção do futebol sobrevivam.


Tostão escreve aos domingos e às quartas-feiras

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