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São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 2003

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FUTEBOL

Um bom negócio

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

A discussão que se delineia agora no esporte, sobre o uso dos recursos provenientes de leis de incentivo, divide a área de cultura há um bom tempo.
No cinema, grosso modo, há duas correntes: alguns acreditam que o dinheiro público (via renúncia fiscal) deva ser investido em grandes produções de diretores consagrados. Esse seria um investimento "seguro" por ter mais chances de atrair o grande público e representar o Brasil em festivais, beneficiando o cinema brasileiro como um todo ao aumentar sua popularidade e respeito.
Outros dizem que o "cinemão", por ter condições de ser rentável (graças à bilheteria e à exposição na mídia, que atrairia os patrocinadores), não precisaria de apoio do governo. A este caberia dar condições para a produção menos viável comercialmente, o cinema mais experimental e arriscado, e patrocinar a criatividade, o desafio aos limites do convencional. Os adversários dessa idéia dizem que o número de beneficiados seria pequeno -por que desfalcar o Tesouro para fazer um filme esquisito, hermético, para meia dúzia de iniciados? Ora, diriam, a arte é assim, e sem apoio do governo ela deixa de existir; a iniciativa privada, que é quem tem de pensar em "lucro", não vai investir por vontade própria.
Entendo (e concordo!) com os dois lados. Só tem de haver bom senso, limites. Me incomoda ver um selo da Lei Rouanet em um "teatrão" com ingressos a R$ 50. É justo? Cadê o alcance popular?
Transferindo a briga para o esporte: é certo que um patrocinador estampe a sua marca na camisa de Corinthians ou Flamengo e receba dinheiro público por isso? Não! Mas o empresário que tenta manter um time de futebol feminino precisa de apoio. Se oferecer pagamento e estrutura para as atletas, com o apoio de vários profissionais (além do técnico, médico, fisioterapeuta, psicólogo, nutricionista, assistente social...), não é justo que a sua empresa tenha desconto nos impostos? Veja o alcance social do seu trabalho!
Alguém pode concordar com isso e achar errado financiar esgrima ou hipismo, por serem esportes caros e "para poucos". Hmm... Quem disse que precisam ser para poucos? E se deixarem de ser?
Em esportes como atletismo e natação, o dilema é: investir nas bases ou na elite? Em viagens da seleção ou clínicas nas escolas? A resposta perfeita: nos dois. Um alimenta o outro, não há dúvida.
Para quem acha isso tudo (esporte ou cultura) supérfluo, algumas considerações. Um e outro enriquecem a identidade nacional e fortalecem o sentido de comunidade, a idéia de pertencer a um grupo; em graus diferentes, estimulam a criatividade, a diligência e a auto-estima. Além disso, estudos demonstram que cada dólar investido na indústria cultural gerou mais empregos diretos e indiretos que o mesmo valor aplicado na indústria "tradicional", de transformação.
Trabalho, educação, lazer e saúde (poucas coisas reúnem tantas possibilidades). Senhores investidores, com ou sem incentivos fiscais, o esporte é bom negócio.

Vale tudo
O site vascaonet.com.br, mantido por vascaínos indignados com a atual administração, publicou a ficha técnica de Vasco x Guarani do dia 10 de agosto, que foi divulgada pelo próprio clube. De acordo com ela, o público pagante foi de 980 pessoas, e a renda, de R$ 1.980,00. Quanto custaram os ingressos, R$ 2?? Para me informar melhor e verificar se havia algum erro, tentei entrar no site oficial do clube de São Januário -acesso bloqueado, não sei o porquê. Recorri ao site oficial da CBF para conferir o borderô: "Não disponível". Nem esse, nem qualquer outro, embora haja uma área especial para eles. Assim fica fácil dizer qualquer coisa, chutar qualquer número... É o triunfo da picaretagem.

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


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