|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Um bom negócio
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
A discussão que se delineia
agora no esporte, sobre o uso
dos recursos provenientes de leis
de incentivo, divide a área de cultura há um bom tempo.
No cinema, grosso modo, há
duas correntes: alguns acreditam
que o dinheiro público (via renúncia fiscal) deva ser investido
em grandes produções de diretores consagrados. Esse seria um investimento "seguro" por ter mais
chances de atrair o grande público e representar o Brasil em festivais, beneficiando o cinema brasileiro como um todo ao aumentar sua popularidade e respeito.
Outros dizem que o "cinemão",
por ter condições de ser rentável
(graças à bilheteria e à exposição
na mídia, que atrairia os patrocinadores), não precisaria de apoio
do governo. A este caberia dar
condições para a produção menos
viável comercialmente, o cinema
mais experimental e arriscado, e
patrocinar a criatividade, o desafio aos limites do convencional.
Os adversários dessa idéia dizem
que o número de beneficiados seria pequeno -por que desfalcar o
Tesouro para fazer um filme esquisito, hermético, para meia dúzia de iniciados? Ora, diriam, a
arte é assim, e sem apoio do governo ela deixa de existir; a iniciativa privada, que é quem tem
de pensar em "lucro", não vai investir por vontade própria.
Entendo (e concordo!) com os
dois lados. Só tem de haver bom
senso, limites. Me incomoda ver
um selo da Lei Rouanet em um
"teatrão" com ingressos a R$ 50. É
justo? Cadê o alcance popular?
Transferindo a briga para o esporte: é certo que um patrocinador estampe a sua marca na camisa de Corinthians ou Flamengo e receba dinheiro público por
isso? Não! Mas o empresário que
tenta manter um time de futebol
feminino precisa de apoio. Se oferecer pagamento e estrutura para
as atletas, com o apoio de vários
profissionais (além do técnico,
médico, fisioterapeuta, psicólogo,
nutricionista, assistente social...),
não é justo que a sua empresa tenha desconto nos impostos? Veja
o alcance social do seu trabalho!
Alguém pode concordar com isso e achar errado financiar esgrima ou hipismo, por serem esportes caros e "para poucos". Hmm...
Quem disse que precisam ser para
poucos? E se deixarem de ser?
Em esportes como atletismo e
natação, o dilema é: investir nas
bases ou na elite? Em viagens da
seleção ou clínicas nas escolas? A
resposta perfeita: nos dois. Um
alimenta o outro, não há dúvida.
Para quem acha isso tudo (esporte ou cultura) supérfluo, algumas considerações. Um e outro
enriquecem a identidade nacional e fortalecem o sentido de comunidade, a idéia de pertencer a
um grupo; em graus diferentes,
estimulam a criatividade, a diligência e a auto-estima. Além disso, estudos demonstram que cada
dólar investido na indústria cultural gerou mais empregos diretos
e indiretos que o mesmo valor
aplicado na indústria "tradicional", de transformação.
Trabalho, educação, lazer e
saúde (poucas coisas reúnem tantas possibilidades). Senhores investidores, com ou sem incentivos
fiscais, o esporte é bom negócio.
Vale tudo
O site vascaonet.com.br, mantido por vascaínos indignados
com a atual administração, publicou a ficha técnica de Vasco
x Guarani do dia 10 de agosto,
que foi divulgada pelo próprio
clube. De acordo com ela, o público pagante foi de 980 pessoas, e a renda, de R$ 1.980,00.
Quanto custaram os ingressos,
R$ 2?? Para me informar melhor e verificar se havia algum
erro, tentei entrar no site oficial
do clube de São Januário
-acesso bloqueado, não sei o
porquê. Recorri ao site oficial
da CBF para conferir o borderô:
"Não disponível". Nem esse,
nem qualquer outro, embora
haja uma área especial para
eles. Assim fica fácil dizer qualquer coisa, chutar qualquer número... É o triunfo da picaretagem.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
Texto Anterior: Ação - Carlos Sarli: Meninas superpoderosas Próximo Texto: Futebol: Rabeira de novo chacoalha o Brasileiro Índice
|