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FUTEBOL
Atributos físicos superam capacidade técnica no início da seleção da FPF
Paulista feminino acha o
"futebol bonito" em peneira
EDUARDO ARRUDA
DA REPORTAGEM LOCAL
A estudante de pedagogia Talita
Cassiano, 20, é a cara do novo
Campeonato Paulista feminino
proposto pela FPF (Federação
Paulista de Futebol).
Bonita, simpática e articulada,
ela foi a grande atração na seletiva
de atletas para o torneio, que começou ontem e termina hoje, no
estádio Ícaro de Castro Mello, no
complexo esportivo do Ibirapuera, em São Paulo.
Mais pelos atributos físicos do
que pelo futebol, Talita roubou a
cena. Foi bajulada pelos repórteres, deu muitas entrevistas e virou
uma espécie de paradigma da
competição, que vê a beleza como
requisito fundamental para a seleção de meninas.
Era tudo o que os dirigentes da
FPF e da Pelé Sports & Marketing,
organizadores do Paulista, queriam. Enquanto Talita era assediada pelos jornalistas, o vice-presidente da FPF Renato Duprat e o
presidente da Pelé Sports, Hélio
Viana, a alguns metros dali, se entusiasmavam com a beldade.
"Existia uma imagem de que a
mulher que joga futebol não é feminina. Isso não é verdade", disse
Viana, apontando para Talita.
O futebol da bela garota-propaganda, porém, deixou a desejar,
segundo ela mesma.
"Acho que [a beleza] me ajudou
sim. Eu mal toquei na bola e fui
selecionada", confessou a menina, que atua como meia e sonha
em jogar pelo Corinthians, após a
"peneira" de 20 minutos.
"Ela [Talita] foi aprovada porque demonstrou ter qualidade
nos fundamentos", afirmou o ex-jogador Clodoaldo, um dos integrantes da comissão técnica formada para analisar as garotas.
Mas confessou, em seguida, que
a "beleza" é um critério importante para a seleção das jogadoras.
Talita, que joga pela Universidade Mackenzie, disse achar o processo de seleção do Estadual "preconceituoso". "Muitas meninas
que jogaram muito bem aqui não
foram selecionadas por não serem bonitas", declarou.
A euforia de Talita contrastava
com a decepção da estudante Lilian Kátia, 20.
Cabisbaixa em um canto do estádio, a menina lamentava a reprovação na "peneira".
"Eu joguei bem, me esforcei. Isso [o critério] é uma coisa que eu
queria entender. Tem menina que
está aqui, não sabe jogar e foi
aprovada. Eu jogo futebol há sete
anos", disse inconformada.
Apesar disso, entretanto, diz
que tentará novamente.
"Espero que eles avaliem melhor no próximo ano. Assim posso ter mais chances", disse.
"Com certeza quem jogar melhor entra e quem é bonita também", afirmou Mônica Ueta,17,
que também não passou.
Nessa situação está Shirley Gomes,19, que afirmou ter tido que
"jogar mais por não ser bonita".
"Fui aprovada porque joguei
bem. Beleza não ganha jogo. Se
ganhasse, era só colocar um monte de modelos em campo."
Segundo a FPF, 280 meninas,
com idade entre 16 e 23 anos, das
1.620 que se inscreveram, serão
selecionadas para o Paulista.
No domingo, as aprovadas participarão de nova "peneira" com
200 jogadoras federadas.
Depois, a FPF distribuirá as jogadoras para os 12 clubes participantes (Corinthians, São Paulo,
Palmeiras, Santos, Lusa, Guarani,
Ponte Preta, Juventus, Nacional,
São Bento, Taubaté e Matonense)
de acordo com o critério técnico e,
parece evidente, a beleza.
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