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FUTEBOL
O árbitro, Lula e a MSI
JUCA KFOURI
COLUNISTA DA FOLHA
Clemer estava salvando o
Inter. Márcio Rezende de
Freitas o matou. A expulsão de
Tinga foi um absurdo, e o pênalti
pareceu claro. Escrevo "pareceu"
porque fiquei com a sensação de o
próprio Tinga ter dito ao árbitro
alguma coisa como "não foi nada, mas eu não me atirei".
Daí em diante é difícil dizer que
o resultado tenha sido justo, muito embora até o segundo minuto
do segundo tempo a vitória do
Corinthians fosse indiscutível e
até mais apertada do que o time
merecia. Afinal, tinha mandado
uma bola no travessão com Gustavo Nery e feito um gol com Carlitos Tevez, no primeiro tempo. E,
no começo do segundo, chutado
rente à trave com Carlos Alberto,
além de ter obrigado Clemer a
uma defesaça em jogada de Nilmar com Tevez.
E foi neste lance que o Inter se
salvou porque, no ataque seguinte, o ótimo Rafael Sobis fez o gol
que Carlos Alberto, em sua melhor atuação com a camisa alvinegra, não conseguira.
Então, o Inter cresceu, equilibrou o jogo, reteve a bola, e a partida, que se caracterizava por ser
disputada em clima de ligação direta entre defesas e ataques, passou a ter clima de jogo de xadrez.
Mais a síndrome de Pacaembu
de Márcio Rezende de Freitas prevaleceu. Não satisfeito com a lambança que fez na decisão de 1995,
tratou de fazer outra dez anos depois. Uma lástima.
Lástima, diga-se de passagem,
prevista pelo presidente da República, que vaticinou o empate e o
tetracampeonato do Corinthians
ao convidar Tevez para visitá-lo.
Certamente por não ter lido recente artigo do "Financial Times"
que levanta interessante lebre:
mais até que lavar dinheiro, o investimento de bilionários russos
no futebol mundial (o artigo cita
a parceria MSI/Corinthians e observa que Tevez custou US$ 16
milhões -e não os alardeados
US$ 22 mi) busca reconhecimento
social e boas relações políticas.
Modelo que repete exatamente
o que os bicheiros cariocas fizeram com o Carnaval, e com o futebol, nos anos 70.
Maneira de ficar a salvo de intempéries em suas bases ou de
criar rotas de fuga.
Faz todo sentido e não passa
despercebido neste momento da
vida brasileira em que Lula convida Tevez para ir ao Palácio do
Planalto, com o que abrirá as portas à MSI, objeto de um inquérito
feito pelo Ministério Público de
SP (já concluído, com a constatação de "fortes indícios de lavagem
de dinheiro") e de outro em curso
no Ministério Público federal.
Mais: Lula abrirá simbolicamente as portas para Boris Berezovski, sobre cuja participação na
parceria não há mais nem sombra de dúvida.
Dinheiro a rodo, time competitivo, agrados do governo, reclamar do quê? Outra vez, dos meios.
Mas quem se importa com os
meios? Só gente chata, que vê defeito em tudo e quer estragar prazeres. Afinal, ia tudo tão bem até
aparecerem os Valdomiros, Valérios, Delúbios...
E não foi o Brasil, desde o Descobrimento, sempre tão receptivo
aos deserdados?
Masoquismo explícito
Um amigo corintiano, jornalista, diz que dormiu aliviado na
última quarta-feira, depois que
o Corinthians perdeu para o
São Caetano. Ele achava que estava tudo muito fácil, o que não
combina com a história alvinegra. E defende a tese do sofrimento obrigatório com tal ardor que é capaz de dizer que se
o preço de vencer a Libertadores (que segundo ele só existe
para que o Corinthians possa
ganhá-la um dia) for fazer 4 a 0
na decisão (como o São Paulo
fez diante do Atlético-PR), ele
prefere perdê-la. Pois o meu
amigo terá, no mínimo, mais
uma semana de alegre (para ele,
é claro) expectativa, se é que
não terá duas. E não me peça
para revelar quem é. Só garanto
que não se chama Leopold von
Sacher-Masoc, até porque o Barão morreu em 1985.
@ - blogdojuca@uol.com.br
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