São Paulo, Terça-feira, 21 de Dezembro de 1999


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No campo, o brasileiro também envelheceu

PAULO COBOS
da Reportagem Local

No início do mês, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelou que o brasileiro está vivendo, em média, mais tempo -de 66 anos em 1991 para 68,1 anos agora.
No futebol, o mesmo fenômeno está acontecendo, deixando o principal esporte do país mais velho, para infelicidade de Wanderley Luxemburgo, que precisa montar um time com jovens nascidos a partir de 1977 para disputar a Olimpíada de Sydney no próximo ano.
No início do Campeonato Brasileiro-99, a Folha mostrou que a participação de jogadores com mais de 30 anos nas equipes titulares havia crescido 50% -situação que mostra agora vários de seus reflexos.
A principal competição do país termina amanhã, com a decisão entre Atlético-MG e Corinthians, deixando um deserto de revelações -qualquer escolha para o melhor calouro do torneio é um exercício de procura e imaginação dos mais cansativos.
O torneio vai terminar sem um grande estreante, como foram Fábio Júnior, em 1998, Alex, em 1997, Rodrigo, em 1996, e Giovanni, em 1995.
Nenhum grande artilheiro surgiu no Nacional -entre os dez maiores goleadores do torneio, só um -Cláudio, do Vitória, tem idade para participar do time olímpico de Luxemburgo.
Na defesa, o Brasileiro-99 só provou que o treinador da seleção brasileira vai precisar olhar mais para os jogadores que estão no exterior para montar o setor.
Na lateral direita, a posição mais carente do país nos últimos anos, novamente nada de bom aconteceu. Mancini, aposta de Luxemburgo, chegou a ser o segundo reserva do Atlético-MG, que tinha o veterano, e limitado, Walmir, e o improvisado Bruno.
Entre os zagueiros, os dois nomes que apareceram com mais destaque-Marinho, do Guarani, e Fábio Luciano, da Ponte Preta- já ultrapassaram a idade limite para disputar a Olimpíada.
Enquanto isso, a seleção olímpica tem Fábio Bilica, que joga na Itália, e Álvaro, que disputou a segunda divisão com o Goiás.
Para o meio-campo, o Brasileiro-99 revelou o volante Mozart, do Coritiba, que caiu nas graças de Luxemburgo.
Pena que o jogador do time paranaense seja um representante fiel do pior que aconteceu no principal campeonato do país -ele foi o quarto jogador mais faltoso do Brasileiro mais violento de todos os tempos.
Os finalistas do Brasileiro-99 também são exemplos da falta de renovação do futebol do país.
O Atlético-MG não tem um único jogador titular com idade olímpica. O Corinthians tem os laterais Índio e Kléber, que assumiram seus lugares no time mais pelo fracasso dos antigos titulares do que por méritos próprios.
A negociação de jogadores para a próxima temporada também mostra o envelhecimento do futebol brasileiro.
O Vasco contratou Romário, 33, a peso de ouro e fechou com Jorginho, 35. O Corinthians, que pode perder Rincón, 33, para o Flamengo, já contratou Adílson, 31, para acertar sua criticada zaga.
Com este cenário, o futebol brasileiro logo terá outro ponto em comum com as pesquisas do IBGE. Com veteranos que alongam cada vez mais suas carreiras, com mais jovens despreparados querendo entrar no mercado de trabalho e com a diminuição do número de clubes sonhada por muitos, a explosão do desemprego está bem perto.


Excepcionalmente, a coluna de José Roberto Torero, que escreve às terças e sextas-feiras, não é publicada hoje

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