São Paulo, quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

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FUTEBOL

Goleiro atua como "comandante" do comboio, torcedor e deixa o campo com corte na cabeça

Rogério vira o dono da festa do tri

DA REPORTAGEM LOCAL

Ele ganhou os prêmios de melhor jogador da Libertadores e do Mundial. Nada mais justo que o goleiro Rogério fosse o dono da festa do tricampeonato. Mas ontem ele foi mais que isso.
Logo que o avião pousou no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, o capitão e camisa 1 do São Paulo foi até a cabine e estendeu a bandeira do clube pela janela. Depois, durante o comboio, assumiu o microfone e fez às vezes de mestre-de-cerimônias do cortejo, que se prolongou por quase dez horas.
Ao lado de Lugano e Amoroso, ele passou quase o tempo todo em pé, à frente do trio elétrico. Assumiu até a função de "comandante" do veículo.
Quando era preciso diminuir a velocidade para que o grupo se encolhesse a fim de passar sob pontes, cabos elétricos e árvores, ele alertava o motorista e chamava a atenção dos passageiros.
Até a tarefa de protocolar declaração de agradecimento à polícia, às autoridades de trânsito e ao público coube a ele.
Quando a missão era agitar os torcedores, Rogério iniciava o hino são-paulino e outros cantos entoados pelos fãs na campanha da Libertadores. Quando faltavam pedestres para aplaudir o elenco, ele pedia que os motoristas e motociclistas que estavam parados no trânsito acionassem as buzinas para saldar a equipe.
Até mesmo o papel de torcedor o capitão do time assumiu. Uma de suas primeiras intervenções, ainda em Guarulhos, foi iniciar o coro "Fica, Amoroso", que foi repetido inúmeras vezes no trajeto.
Mais tarde, quando a comitiva passava pela região central da capital paulista, ao ouvir dos torcedores "Rogério é seleção", ele respondeu: "Não sou seleção, sou São Paulo". O comentário vai na mesma linha do que ele afirmou enquanto estava em trânsito entre o Japão e o Brasil. "Fiz uma grande partida, mas não é por esse jogo que eu vou falar em seleção. Se for chamado [por Carlos Alberto Parreira], terei prazer em representar o país. Se não, tudo bem."
E o goleiro nem sequer perdeu a chance de alfinetar o Corinthians. Quando o trio elétrico que levava a delegação passou por um torcedor que levava a bandeira do São Paulo e vestia a camisa do Inter, Rogério bradou "colorado", como é conhecido o time gaúcho, que perdeu o título brasileiro para o rival paulista.
Quando o grupo já beirava as nove horas de trajeto -na maior parte do tempo sob um calor de cerca de 30C, que só diminuiu quando caiu uma forte chuva, por volta das 14h-, o goleiro, com a voz muito rouca, pediu que o ritmo do desfile fosse acelerado.
Ao desembarcar no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo de São Paulo, ele comentou sua atuação na festa. "Hoje nós cantamos, dançamos, pulamos... Fizemos tudo o que foi possível para comemorar, apesar do grande cansaço. Estou sem dormir há 36 horas", afirmou sussurrando o jogador às 16h.
O fim da maratona do atleta acabou em sangue. Quando, visivelmente cansado e amparado por seguranças, deixou o trio elétrico no gramado são-paulino, ele foi imediatamente cercado por torcedores. Na tentativa de se desvencilhar dos fãs, Rogério bateu com a taça na cabeça, o que lhe abriu um corte.
Nem isso diminuiu a alegria. "Hoje é o dia mais feliz de nossas vidas", afirmou o capitão são-paulino, que fará uma ressonância magnética no joelho para descobrir se terá ou não que passar por uma artroscopia. (EDUARDO ARRUDA E LUÍS FERRARI)


Colaborou Tales Torraga, da Reportagem Local

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