São Paulo, terça-feira, 22 de janeiro de 2008

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Fifa abre cofre e gera cobiça no Brasil

Entidade pagará R$ 196 milhões a clubes com atletas nas próximas Copas, e times nacionais querem buscar sua parte

Acordo entre Fifa, Uefa e times europeus cria fundo de compensação pelo uso dos jogadores por seleções e fim de processos judiciais


RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A pressão dos clubes europeus sobre Fifa e Uefa, por meio de ações judiciais, gerou a criação de fundo inédito para a remuneração dos times pelo uso dos atletas em competições internacionais de seleções.
Um pacote de US$ 252 milhões (R$ 450 milhões) vai beneficiar as equipes, anunciou o presidente da Uefa, Michel Platini, em entrevista coletiva na Suíça. O dinheiro será dado a clubes com jogadores nas Copas de 2010 e 2014, além das Eurocopas de 2008 e 2012.
Clubes brasileiros, que nunca moveram ações contra CBF ou Fifa para reivindicar remuneração pelos atletas, já planejam inquirir a federação internacional para saber quais são seus direitos no pacote.
No total, a entidade dará US$ 110 milhões (R$ 196 milhões) aos clubes com atletas nos dois Mundiais -o restante é da Uefa. Se a Fifa seguir o critério divulgado por Platini, clubes que tenham atletas por dois anos antes da Copa terão direito a remuneração.
"Com a globalização, a tendência é isso chegar logo ao Brasil", comentou o assessor da presidência do São Paulo, João Paulo de Jesus Lopes, que pede mobilização da associação de clubes. "É hora de o Clube dos 13 mostrar para que serve." No C13, o diretor jurídico Celso Rodrigues entende que os direitos devam se estender aos brasileiros. "Cada time deve buscar isso individualmente."
É a postura da diretoria do Corinthians. O vice-presidente jurídico do clube, Sergio Alvarenga, pretende se informar na Fifa sobre o assunto. "Entendo que devemos, sim, procurar os nossos direitos."
Claro, isso estaria condicionado ao fato de os clubes do país terem seus jogadores convocados à seleção. No último Mundial, São Paulo, com Mineiro e Rogério, e Corinthians, com Ricardinho, teriam direito. Outros times poderiam reivindicar remuneração por atletas que já usaram suas camisas nos dois anos antes da Copa.
A Fifa não divulgou qual o critério de pagamento por clube. Segundo Platini, na Eurocopa-2012, os times receberiam em torno de US$ 7.000 por dia de trabalho de cada atleta.
"Tinha que pagar de acordo com o salário de cada um", opinou Dagoberto Fernandes, superintendente do Santos.
Pela lei brasileira, a CBF já tem de pagar salários dos jogadores enquanto eles estão servindo à seleção. Mas a confederação nem sempre cumpre a regra. O São Paulo, por exemplo, é credor da entidade.
Mas os clubes brasileiros nunca acionaram a confederação nem para pedir indenizações por contusões. Foi o que aconteceu na Bélgica, com o clube Charleroi, que processou a Fifa por contusão do marroquino Oulmers Abdelmajid.
Iniciado em 2005, o processo, que corria na Justiça belga, passou a ter participação do G-14, grupo que reúne os grandes clubes europeus. Eles reivindicavam remuneração e indenização pelo uso de todos seus atletas no Mundial.
Isso gerou queda-de-braço com a Fifa, que se transformou em conciliação na semana passada. O G-14 foi extinto para a criação de um grupo maior, com 103 times europeus. Como parte do acordo, os clubes desistiram das ações contra a Fifa.
O dinheiro que a entidade destinou aos clubes por duas Copas representa em torno de 4,1% da renda total obtida por ela na Alemanha-2006, que girou em torno de R$ 4,8 bilhões. E as receitas dos Mundiais crescerão até 2014.


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