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FUTEBOL
Esplendor e ocaso
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
No domingo, a Folha publicou uma reportagem, escrita
pelo Marcos Guterman, que diz
que o Rei Pelé foi também bastante questionado antes da Copa do
Mundo de 1970, no México, como
acontece hoje com Ronaldo.
É verdade.
A manchete de um jornal perguntava: "As vaias significam a
queda do Pelé?".
Na época, alguns jornalistas
afoitos pediam a minha escalação
no lugar do Rei Pelé. Senti-me
constrangido, um usurpador do
trono.
A reportagem da Folha comparou alguns dados estatísticos do
Pelé e do Ronaldo.
Como cada um fez 14 partidas e
marcou 12 gols em Copas do
Mundo, é quase certo que Ronaldo vai ultrapassar o Pelé.
Mas na comparação mais importante, da média de gols em jogos pela seleção, e não apenas em
Copas do Mundo, Pelé tem 0,83,
contra 0,63 do Ronaldo.
A diferença é grande.
Além disso, Pelé era um ponta-de-lança que recuava, organizava as jogadas e dava excepcionais
passes.
O questionamento dos dois craques, antes de ser uma implicância e uma injustiça, mostra que
todos os atletas, até o Rei Pelé,
têm seus períodos de esplendor,
que é menor do que a duração de
suas carreiras.
Um craque brilha intensamente, mais ou menos, durante dez
anos. Depois, progressivamente,
diminui a freqüência e a regularidade de suas espetaculares atuações. O instante em que inicia esse
declínio é imperceptível.
Porém, mesmo depois que isso
fica claro, o craque costuma ser
ainda melhor do que os outros e
ter muitos momentos geniais, que
com o tempo se tornam mais escassos.
Até os jogadores comuns têm os
seus momentos de destaque, proporcionais às suas qualidades técnicas, e de declínio.
Contudo é muito mais fácil para o atleta mediano ser regular do
que para o craque. Alguém mais
exagerado já disse que a regularidade é virtude dos medíocres.
O esplendor do Romário durou
cerca de dez anos, de 1988 a 1998,
até antes da Copa, quando foi
cortado por contusão. Daí, ele diminuiu progressivamente a sua
mobilidade em campo até ficar
parado dentro da área esperando
a bola para fazer o gol. Como Romário foi genial, consegue ainda
ser artilheiro do Brasileiro com 40
anos.
Zico teve também uns 10 a 12
anos de brilho intenso.
Já a queda do Rivaldo foi mais
rápida e brusca, pelo menos na
seleção, após ser destaque de 1995
a 2003.
Os jovens, que só viram os gols,
melhores lances e as partidas do
Pelé na Copa de 70, não assistiram aos seus momentos mais extraordinários, que foram no Santos.
Antes da Copa de 70, mesmo
sendo ainda disparado o melhor
do mundo, Pelé já não tinha a
mesma magia. Como ele se preparou durante quatro meses para
a Copa e jogou numa grande
equipe, mostrou que era ainda incomparável.
Ronaldo também teve seu esplendor físico e técnico durante
uns dez anos, de 1993 a 2003. Com
exceção do jogo final, ele foi melhor em 1998 do que em 2002.
Na França, Ronaldo se movimentava bastante, recuava, driblava, dava passes e fazia gols. Na
Copa de 2002, ele diminuiu seu
espaço, mas foi decisivo nas finalizações.
Há vários anos que Ronaldo
não brilha em várias partidas seguidas. Como ele vai dar tudo
neste Mundial, como fez Pelé em
70 , joga na seleção favorita e vai
receber passes do melhor jogador
e passador de bola do mundo, terá boas chances de jogar bem, ser
artilheiro e campeão do mundo.
Assim como acontece com os
grandes atletas, quase tudo na vida tem o seu esplendor e ocaso. As
coisas somente são eternas na
nossa fantasia e no nosso pensamento. Há exceções.
Essa angústia existencial, de
percepção da transitoriedade e da
finitude das coisas, é, na opinião
deste filósofo e psicólogo de botequim, a razão principal da fragilidade emocional do ser humano.
Vexame
Só faltou um detalhe para coroar o vexame dos grandes times
cariocas na Taça Rio: uma grande vaia de protesto da torcida do
Vasco, pela má qualidade do seu
time, logo após a vitória sobre o
Flamengo.
Isso desestimularia o Eurico Miranda a dizer que a vitória sobre
o grande rival representou a conquista de um campeonato.
E-mail: tostao.folha@uol.com.br
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