São Paulo, domingo, 22 de março de 1998

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Por que não dá certo?

ALEXANDRE GIMENEZ
da Reportagem Local

Calendário ruim. Falta de conforto nos estádios. Excesso de partidas na televisão e a violência das torcidas. Ingressos caros.
Além desses fatores, outro ponto que explica a falta de interesse do torcedor no Campeonato Paulista é um pouco mais simples: 65% da população do Estado não têm um acesso direto aos times que disputam a Série A-1 (primeira divisão) do torneio regional.
Por uma administração deficiente ou mesmo por falta de talento de seus atletas, a grande maioria das grandes cidades do Estado não tem clubes na primeira divisão do Paulista.
Das 10 cidades que têm representantes na Série A-1, apenas 6 possuem mais de 150 mil habitantes. Na A-2 (segunda divisão), esse número é maior -11 das 15 cidades que possuem times no campeonato superam os 150 mil habitantes.
"Se houver desenvolvimento no futebol do interior e as grandes cidades voltarem para a Série A-1, isso será um sucesso para os patrocinadores", afirma Eduardo José Farah, presidente da Federação Paulista de Futebol, preocupado com o investimento de R$ 41 milhões do Grupo VR no torneio.
Para o dirigente, a administração pouco eficiente foi o responsável pela decadência da maioria dos clubes do interior.
"O grande problema dos clubes da maioria das cidades do interior é que eles são dominados por feudos familiares. Clubes de famílias ou grupos políticos estão fadados à extinção. Um time de futebol só sobrevive com o apoio da comunidade", afirma Farah.
A situação provocou distorções quase bizarras. Uma cidade como Ribeirão Preto, por exemplo, está fora da A-1. Com 455.810 habitantes e responsável por 1,15% do movimento econômico de São Paulo -R$ 162.433.990.674,00, segundo a Secretaria da Fazenda-, a cidade precisa contentar-se a assistir partidas da A-2, divisão pela qual seus dois times profissionais -Botafogo e Comercial- jogam.
Enquanto isso, Matão -62.420 habitantes e participação de 0,28% na economia do Estado- tem um time na A-1: a Matonense.
"Ribeirão é uma cidade muito rica. O Botafogo só caiu por causa de problemas administrativos", afirmou Ricardo Ribeiro, presidente do Botafogo. Segundo o dirigente, não será fácil para a equipe reverter essa situação. "Não faremos isso a curto prazo. Talvez tenhamos mais chances de subir para a A-1 em 1999", completou.
"O futebol ainda não chegou ao fundo do poço. A crise vai agravar-se. Ficamos na expectativa de uma melhora geral no país", teoriza Farah, da Federação Paulista.
Para tentar ajudar as divisões inferiores, a FPF está distribuindo cotas mínimas, expediente usado na A-1. Na A-2, o valor é R$ 10 mil por mando de jogo. Na A-3, é R$ 5.000. Na B-1A e B-1B, os valores não foram estabelecidos.
Grande São Paulo
A situação do futebol na Grande São Paulo também é ruim.
Guarulhos, a maior cidade da região, tem dois clubes profissionais: o AD Guarulhos, na B-1A, e o Flamengo, na B-1B.
"Precisamos conquistar dentro do campo a confiança dos empresários da cidade e da prefeitura", disse Sidnei Natal, presidente do AD Guarulhos. "Temos que manter o sonho de jogar a primeira divisão", completou.
Mesmo com quatro representantes na A-1, os moradores da cidade de São Paulo não sentem-se atraídos pelo Paulista.
Segundo pesquisa do Datafolha, apenas 28% da população tem o torneio como o preferido entre as competições disputadas no primeiro semestre.
A Copa do Brasil é o torneio mais querido para os paulistanos: 54%, segundo o Datafolha.
O Torneio Rio-São Paulo é o escolhido por apenas 9%. Outros 9% não souberam responder qual é a melhor torneio.



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