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São Paulo, terça-feira, 22 de abril de 2003

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OLIMPÍADA

Atolado por denúncias de corrupção, comitê norte-americano quer reestruturar a entidade de rival de guerra

EUA já controlam até o esporte iraquiano

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Usoc, comitê olímpico norte-americano, não é exemplo para ninguém, mas será ele o responsável pelo processo de tentar reconstruir o esporte no Iraque.
Atolado por denúncias de corrupção e investigado pelo Congresso dos EUA, o Usoc iniciou a discussão sobre o processo de transição pelo qual passará o Comitê Olímpico Iraquiano, que, no momento, só existe no papel.
Apesar de continuar sendo reconhecido pelo Comitê Olímpico Internacional, a entidade está acéfala e sem sede. Uday Hussein, 39, filho mais velho de Saddam que presidia a entidade desde 1984, está desaparecido, e o prédio onde funcionava o comitê foi destruído por ataques das tropas norte-americanas em Bagdá.
Além de arrecadar fundos para construir uma outra sede, o Usoc deve assinar um convênio com a nova diretoria do comitê, que seria comandado, provisoriamente, pelo ex-jogador de futebol Sharar Haydar e receberia um grupo de esportistas iraquianos em Colorado Springs, onde eles poderiam treinar para os Jogos de 2004.
Os norte-americanos querem ainda fazer um levantamento para procurar possíveis talentos que não estivessem sendo aproveitados por Uday Hussein e que não tivessem ligações mais fortes com o filho do ex-ditador.
Sharar Haydar, que fugiu do Iraque para a Inglaterra em 1998 e denunciou Uday por tortura a atletas que não obtinham bons resultados, comandaria o novo comitê, com a supervisão do Usoc, durante três meses. Em seguida, seria escolhido um novo presidente para o comitê do Iraque.
Além de Haydar, tem mantido contatos com o Usoc o ex-jogador de vôlei Issam Thamer Al-Diwan, que também fugiu do Iraque nos anos 90 e se refugiou nos EUA.
Com a queda de Uday, os dois acham necessário fazer todos os esforços possíveis para os iraquianos serem representados nos Jogos de 2004, em Atenas.
""É hora de a comunidade internacional nos ajudar", disse Haydar. ""Não só o Usoc, mas especialmente o COI deveria pensar num programa de ajuda aos atletas iraquianos. No regime de Saddam, eles tinham medo de competir e, depois, ser torturados e até mortos se não conseguissem o resultado esperado", afirmou Al-Diwan.
Mas o projeto de reconstrução do esporte iraquiano, no momento, está longe de ser a única preocupação do Usoc.
A última operação de ajuda -à organização dos Jogos de Santo Domingo- acabou em polêmica. Lloyd Ward, diretor-executivo do Usoc, foi afastado de seu cargo por ter ocultado que seu irmão tinha ligações com a empresa que ele indicou para realizar -e faturar com isso- obras para o Pan na República Dominicana.
Desde 2000, após o escândalo de Salt Lake City -oferecimento de presentes e favores em troca de votos para abrigar os Jogos de Inverno de 2002-, o Usoc trocou cinco vezes sua direção.
E não pára de se envolver em problemas. O último foi a revelação feita por Wade Exum, diretor de controle de drogas do comitê de 1991 a 2000, segundo o qual cerca de cem atletas norte-americanos foram pegos no antidoping, mas tiveram autorização para competir nos Jogos de 1988, 1992, 1996 e 2000, ganhando 19 medalhas para os Estados Unidos.
Carl Lewis, considerado o maior nome da história do atletismo norte-americano, teria sido um deles, com três exames positivos acobertados pelo Usoc.



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