|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Sou Telê desde criancinha
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
A culpa por essa coluna existir é de Telê Santana. Não a
específica coluna de hoje, que reverencia o melhor técnico brasileiro de todos os tempos. Mas a
coluna que assino desde 1997 nesta Folha. Pertenço à geração que
descobriu o futebol de verdade na
Copa de 1982. Era um garoto que
vibrava com aquela sensacional
seleção brasileira e que chorou
com a derrota para a Itália, assim
como um garoto tão bem retratado em capa do JT na época. Desde
aquele dia não chorei mais com o
futebol. Fiquei só triste em 1986,
quando o mestre Telê mais uma
vez dirigiu uma equipe bacana,
mas já uma continuação, com
problemas clínicos e físicos, do time que, quatro anos antes, me fez
perceber do que mais gostava.
Telê deixou a seleção, e não
consegui mais vibrar com o Brasil. A modorrenta seleção de Lazaroni não ajudava, passei a me
encantar com o futebol bonito jogado por outros países e por craques de outras nações. Virei torcedor da Holanda e do Milan por
causa de Van Basten, Gullit e Rijkaard e vibrei quando a seleção
laranja foi campeã européia com
Rinus Michels em 1988. Tal qual
Telê, o gênio do Carrossel Holandês não ganhou a Copa, mas é e
será sempre mais lembrado do
que qualquer outro treinador que
tenha conquistado o Mundial.
Até mais do que o título, a filosofia e a disposição em jogar bonito, em fazer do futebol um espetáculo, me fascinavam. Descobri
o Brasil antes da Holanda (que
coleciona raras taças, mas vive no
imaginário como símbolo de futebol vistoso, atraente, de qualidade técnica) porque descobri Telê
antes de Rinus Michels. Posso dizer que não sou ""vira-casaca"
porque não torço contra o Brasil e
porque vibro quando vejo o povo
brasileiro feliz, como no tetra
pragmático de Parreira e no penta cala-boca de Felipão. Mas não
sou ""vira-casaca" mesmo porque
meu time é o que pratica ou o que
procura praticar o melhor futebol
possível. Sou fiel àquela equipe de
82 e a tudo o que ela representou.
Sou Ronaldinho, Henry, Messi,
Robben, Shevchenko, Kaká, Zidane... Fui Maradona, Zico, Platini... Sou Telê desde criancinha.
Já bem grandinho, tive a sorte
de acompanhar como jornalista o
final da carreira do eterno treinador dos são-paulinos e, com orgulho, pude conversar várias horas
com o mestre na elaboração de
suas colunas para a Folha, as últimas feitas com dificuldade, mas
com a mesma essência e as mesmas bandeiras das primeiras.
Fiquei próximo da família Santana, que segue os princípios de
Telê à risca, apoiei a iniciativa de
torcedores para a construção de
um busto para o ex-treinador no
Morumbi e sugeriria que o bem-cuidado CT da Barra Funda levasse o nome do mestre se o São
Paulo já não tivesse homenageado outra pessoa (Frederico Antonio Menzen, ex-presidente tricolor e sócio número um do clube).
Mas não faltarão homenagens
a Telê. Do Fluminense de seu coração, do Grêmio que rompeu hegemonia do Inter nos anos 70, do
Palmeiras que chegou a fazer 4 a 1
no Flamengo de Zico no Maracanã, do Atlético-MG que ainda
tem só a estrela ganha pelo mestre... E dessa coluna, sempre.
Sou Barcelona desde criancinha
O Barça, time que mais encanta o mundo hoje e que está com um pé
na final da Copa dos Campeões, é apelidado de Dream Team 2. Isso
porque houve, claro, o Dream Team 1, que era treinado por Cruyff
(não Rijkaard) e que perdeu de 4 a 1 na Espanha na final do Tereza
Herrera e de 2 a 1 no Mundial interclubes de 1992. Culpa de Telê.
Sou Milan desde criancinha
O Milan, time que mais fica no quase na Europa nos últimos anos,
mas que ainda não está morto na Copa dos Campeões, era implacável no fim dos anos 80 e começo dos 90, quando teve a melhor defesa
de sua história. Dá para contar nos dedos de uma mão as vezes em
que o Milan do ótimo Fabio Capello (hoje Juve) levou três gols em
um jogo. Uma foi no Mundial interclubes de 93: 2 a 3. Culpa de Telê.
E-mail - rbueno@folhasp.com.br
Texto Anterior: Multimídia: Estilo paternalista era marca de Telê Próximo Texto: Futebol - José Geraldo Couto: Uma chance para o politeísmo Índice
|