São Paulo, sábado, 22 de abril de 2006

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FUTEBOL

Sou Telê desde criancinha

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

A culpa por essa coluna existir é de Telê Santana. Não a específica coluna de hoje, que reverencia o melhor técnico brasileiro de todos os tempos. Mas a coluna que assino desde 1997 nesta Folha. Pertenço à geração que descobriu o futebol de verdade na Copa de 1982. Era um garoto que vibrava com aquela sensacional seleção brasileira e que chorou com a derrota para a Itália, assim como um garoto tão bem retratado em capa do JT na época. Desde aquele dia não chorei mais com o futebol. Fiquei só triste em 1986, quando o mestre Telê mais uma vez dirigiu uma equipe bacana, mas já uma continuação, com problemas clínicos e físicos, do time que, quatro anos antes, me fez perceber do que mais gostava.
Telê deixou a seleção, e não consegui mais vibrar com o Brasil. A modorrenta seleção de Lazaroni não ajudava, passei a me encantar com o futebol bonito jogado por outros países e por craques de outras nações. Virei torcedor da Holanda e do Milan por causa de Van Basten, Gullit e Rijkaard e vibrei quando a seleção laranja foi campeã européia com Rinus Michels em 1988. Tal qual Telê, o gênio do Carrossel Holandês não ganhou a Copa, mas é e será sempre mais lembrado do que qualquer outro treinador que tenha conquistado o Mundial.
Até mais do que o título, a filosofia e a disposição em jogar bonito, em fazer do futebol um espetáculo, me fascinavam. Descobri o Brasil antes da Holanda (que coleciona raras taças, mas vive no imaginário como símbolo de futebol vistoso, atraente, de qualidade técnica) porque descobri Telê antes de Rinus Michels. Posso dizer que não sou ""vira-casaca" porque não torço contra o Brasil e porque vibro quando vejo o povo brasileiro feliz, como no tetra pragmático de Parreira e no penta cala-boca de Felipão. Mas não sou ""vira-casaca" mesmo porque meu time é o que pratica ou o que procura praticar o melhor futebol possível. Sou fiel àquela equipe de 82 e a tudo o que ela representou. Sou Ronaldinho, Henry, Messi, Robben, Shevchenko, Kaká, Zidane... Fui Maradona, Zico, Platini... Sou Telê desde criancinha.
Já bem grandinho, tive a sorte de acompanhar como jornalista o final da carreira do eterno treinador dos são-paulinos e, com orgulho, pude conversar várias horas com o mestre na elaboração de suas colunas para a Folha, as últimas feitas com dificuldade, mas com a mesma essência e as mesmas bandeiras das primeiras.
Fiquei próximo da família Santana, que segue os princípios de Telê à risca, apoiei a iniciativa de torcedores para a construção de um busto para o ex-treinador no Morumbi e sugeriria que o bem-cuidado CT da Barra Funda levasse o nome do mestre se o São Paulo já não tivesse homenageado outra pessoa (Frederico Antonio Menzen, ex-presidente tricolor e sócio número um do clube).
Mas não faltarão homenagens a Telê. Do Fluminense de seu coração, do Grêmio que rompeu hegemonia do Inter nos anos 70, do Palmeiras que chegou a fazer 4 a 1 no Flamengo de Zico no Maracanã, do Atlético-MG que ainda tem só a estrela ganha pelo mestre... E dessa coluna, sempre.

Sou Barcelona desde criancinha
O Barça, time que mais encanta o mundo hoje e que está com um pé na final da Copa dos Campeões, é apelidado de Dream Team 2. Isso porque houve, claro, o Dream Team 1, que era treinado por Cruyff (não Rijkaard) e que perdeu de 4 a 1 na Espanha na final do Tereza Herrera e de 2 a 1 no Mundial interclubes de 1992. Culpa de Telê.

Sou Milan desde criancinha
O Milan, time que mais fica no quase na Europa nos últimos anos, mas que ainda não está morto na Copa dos Campeões, era implacável no fim dos anos 80 e começo dos 90, quando teve a melhor defesa de sua história. Dá para contar nos dedos de uma mão as vezes em que o Milan do ótimo Fabio Capello (hoje Juve) levou três gols em um jogo. Uma foi no Mundial interclubes de 93: 2 a 3. Culpa de Telê.


E-mail - rbueno@folhasp.com.br

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