São Paulo, domingo, 22 de maio de 2005

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A ENCANTADORA DE CAVALOS

Vitória esporádica em prova de biatlo leva pernambucana Yane Marques ao pentatlo corrida, esgrima, hipismo e tiro, posa no Recife

Nadadora decide multiplicar suas habilidades por 5

DA REPORTAGEM LOCAL

"Você quer treinar pentatlo moderno?". A pergunta fez Yane Marques divagar. As três provas do triatlo ela já conhecia. Então teria de nadar, correr, pedalar...
Quando a bicicleta foi citada, o técnico Alexandre França interrompeu a nova pupila.
"Não", afirmou. "Você terá de nadar, correr, lutar esgrima, saltar a cavalo e atirar".
Após o susto com a lista exótica apresentada, o franzido na testa sumiu, e Yane acabou por topar o desafio, exatamente por ele parecer tão ameaçador.
A jovem nadadora, dona de um título brasileiro nas piscinas, nunca havia pegado em uma arma. Espadas, havia visto somente em filmes. Com os cavalos era mais familiarizada. Nascida no sertão pernambucano, conhecia bem a vaquejada.
"Mas aquilo não tem nada a ver com equitação. Só dava mesmo para dizer que eu conhecia cavalos", esclarece ela.
Yane foi descoberta em um torneio de biatlo promovido pela Confederação Brasileira de Pentatlo Moderno no final de 2003 para iniciar as atividades da modalidade em Pernambuco e arregimentar praticantes.
"Eu não corria. Nem de brincadeira. Mas fui lá, ganhei. E me chamaram", relembra.
Em um mês e meio, a pentatleta já estava recebendo um bronze no Campeonato Brasileiro.
"Ela é uma pentatleta nata, assimila os movimentos com rapidez e tem uma ótima consciência corporal", afirma Alexandre França a respeito da pupila.
A maior preocupação do técnico no início eram os cavalos. Muitas pessoas sofrem quedas e desenvolvem traumas que podem até encerrar uma carreira.
O batizado de Yane, 21, ocorreu logo em sua primeira competição de saltos -disputada como treino. Corsário, sua montaria, refugou e jogou-a em cima do obstáculo. O saldo: 11 pontos nas nádegas e um trauma.
"Eu não queria montar mais aquele cavalo de jeito nenhum. Fiquei uns dois meses longe dele e, quando montei Corsário de novo, caí de novo", diverte-se.
O episódio a ajudou a se aproximar dos animais. Como a maior parte dos atletas do esporte, passou a conversar com eles.
"No México, eu fiquei um tempão falando com o cavalo... Só depois percebi o tamanho da burrice. O cavalo era mexicano, não estava entendendo nada."
Apesar do erro no idioma, Corsário entendeu de alguma forma o recado, e Yane deixou a etapa da Copa do Mundo com a melhor posição registrada por um brasileiro: 19ª.
Por mais estranho que possa parecer, a maior dificuldade dela foi se adaptar à corrida.
"É sofrimento do começo ao fim. Depois da primeira volta, já estou exausta. No treino também é um sofrimento só", conta.
No pentatlo, o atleta disputa, nesta ordem, provas de tiro, esgrima, natação, equitação e corrida. Em cada uma delas larga com uma pontuação base. A partir dela, são descontados ou somados pontos de acordo com o desempenho em cada modalidade. Vence a disputa o competidor que somar mais pontos.
"O pentatlo é diferente de todos os outros esportes porque você tem de ser constante. Hoje eu sou a número um do Brasil, mas, se der uma escorregada em uma delas, caio na hora", constata Yane.(ML)

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