São Paulo, sábado, 22 de junho de 2002

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JOSÉ GERALDO COUTO

Pela 1ª vez, Brasil teve cara de campeão


Ao trocar Juninho por Kleberson, Scolari matou dois coelhos. Houve mais consistência na marcação e distribuição de bola


Contra o melhor adversário, o Brasil, como era esperado, jogou sua melhor partida. Mais que isso: pela primeira vez, jogamos como campeões do mundo.
Isso não quer dizer que a seleção tenha sido perfeita contra a Inglaterra, ou que não haja nada a ser consertado. Houve erros, mas foram, em sua maioria, pontuais -como a falha de Lúcio no gol inglês-, e não estruturais.
O importante é que a equipe mostrou ao mesmo tempo força, equilíbrio e habilidade. Pela primeira vez nesta Copa, a seleção apresentou-se como um organismo coletivo, e não um amontoado de talentos individuais.
Pela primeira vez, também, o time adversário praticamente não teve chances de gol.
O que explica essa sensível melhora? Várias coisas. Em parte, o time cresceu em razão da qualidade do rival. É mais fácil descuidar da marcação de um chinês anônimo ou de um obscuro costarriquenho do que de um Michael Owen. Além disso, como já escrevi aqui, a própria distribuição do adversário em campo nos impõe uma organização.
Jogar contra peladeiros nos transforma em peladeiros. Jogar contra esquadrões nos devolve à condição de esquadrão.
Mas a razão mais decisiva da evolução brasileira, a meu ver, foi a sutil modificação operada por Luiz Felipe Scolari no meio-de-campo. Como vinha sendo pedido insistentemente pelos comentaristas, o treinador resolveu mexer no setor.
Na simples troca de Juninho por Kleberson, Scolari matou dois coelhos. A entrada de Kleberson deu mais consistência ao meio, tanto na marcação como na distribuição de bola.
A saída de Juninho propiciou a Ronaldinho campo e liberdade para fazer seu futebol florescer.
Não se trata de diminuir o valor de Juninho, mas de reconhecer que seu modo de jogar -conduzindo individualmente a bola- é redundante com o de Rivaldo e Ronaldo e, portanto, contraproducente para a equipe brasileira.
Posicionado nitidamente como o "um" sonhado por Zagallo em 98 -o homem que liga o meio-campo aos atacantes-, Ronaldinho foi o mais lúcido e criativo jogador brasileiro enquanto esteve em campo. Criou a jogada do gol de Rivaldo e fez um dos maiores golaços desta Copa do Mundo.
Jogou com tanta disposição que acabou expulso. Vai fazer falta na semifinal. Podemos até perder, mas agora temos um time com cara de campeão.

jgcouto@uol.com.br



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