São Paulo, sábado, 22 de junho de 2002

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WASHINGTON OLIVETTO

Black and White is Beautiful

Pra você, que está me lendo agora, hoje é sábado e amanhã é domingo, como diria o poeta Vinícius de Morais.
Mas pra mim, que estou escrevendo agora, hoje é ainda quinta-feira e a Copa do Mundo está de folga.
Aproveito, então, pra fazer um balanço com muito balanço do Mundial até este momento, sem me comprometer exageradamente com o futuro, que a Felipão e a Deus pertence.
O Brasil do Antônio Carlos Jobim ganhou da Bélgica do Jacques Brel, e o magnífico árbitro jamaicano Peter "Ne Me Quitte Pas" Prendergast teve uma atuação que merece ser comemorada ao som do CD "Kaya N'Gan Daya", com Gilberto Gil cantando as músicas de Bob Marley.
O México de Armando Manzanero, autor de clássicos como "Mia", "Contigo Aprendi" e "Esta Tarde Vi Chover" (feita em homenagem ao Pelé), caiu diante dos Estados Unidos dos irmãos George e Ira Gershwin, autores de maravilhas como "Summertime" e "But Not For Me".
O Japão de Ryuichi Sakamoto e Matinas Suzuki, primo da estrela da equipe japonesa, Takayuki Suzuki, se deu mal diante da Turquia de Tarkan, o jovem astro pop turco, primo de Nesuhi Ertegun.
E a Itália de Roberto Murolo foi uma "Malafemmena" para os seus "tifosi" e acabou perdendo, na prorrogação, da Coréia do Sul, equipe videogame, embalada ao som tecnopop coreano da banda G.O.D.
Continuando o nosso balanço com muito balanço, o Senegal de Youssou N'Dour comprovou a tese do Chico César de que deve ser legal ser negão no Senegal e mandou a Suécia do ABBA pra casa. Coisa que a Inglaterra dos Rolling Stones também fez com a Dinamarca do Savage Rose.
A Espanha de Paco de Lucía, apesar do técnico José Antonio Camacho, mas não muito, eliminou nos pênaltis a Irlanda do U2 -com Bono Vox e tudo.
E o Paraguai de Ortiz Guerrero e José Asunción Flores, autores da inesquecível "Índia", mesmo contando com o sensacional Gamarra, foi mandado de volta pra casa pela Alemanha de Marlene Dietrich e Ute Lemper.
No caso da Alemanha, convém ressaltar a presença do sempre impecável uniforme alvinegro, garantia de vitória sobre equipes vestidas de verde e outras cores. Como diz Marcos Valle numa de suas muitas grandes canções, "Black and White is Beautiful".
Fora da última rodada, mas ainda dentro do Mundial-musical, não podemos deixar de lamentar as eliminações precoces da França de Edith Piaf, MC Solaar e Zinedine Zidane, da Argentina de Carlos Gardel, Fito Paez e Gabriel Batistuta e do Portugal de Amália Rodrigues, Carlos do Carmo e Luis Figo. Craques como eles fazem falta para o espetáculo.
Mas agora que a Copa do Mundo vai para o seu grand finale, a minha grande preocupação é a afinação do meio-de-campo da seleção brasileira.
Espero que o Felipão finalmente deixe de ser surdo, ouça "A Voz do Coração" e escale o Little Richard, como havia sugerido o Oswaldo de Oliveira, o único técnico campeão do Mundial de Clubes da Fifa.
Aposto que, com Little Richard, o Ricardinho, na posição de titular após o jogo contra a Inglaterra do Beckham, do Owen, da Victoria Adams e das Spice Girls, Felipão e os estádios japoneses vão poder finalmente ouvir aquilo que é música para os nossos ouvidos:
"Me dê a mão, me abraça, viaja comigo pro céu, sou Gavião, levanto a taça com muito orgulho, pra delírio da Fiel".


Washington Olivetto, publicitário sempre (e cronista esportivo eventual), raramente bebe whisky, mas, quando bebe, prefere Black&White



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