RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente da Fifa já esteve ""dentro das quatro linhas".
O suíço Joseph Blatter, diferentemente de muitos dirigentes importantes da história do futebol brasileiro e mundial, calçou chuteiras e foi durante muitos anos para dentro do campo, jogar. Em entrevista por e-mail à Folha, a maior autoridade do esporte fala da carreira sem terno e gravata.

Folha - Por que o senhor escolheu jogar futebol? E por que parou?
Joseph Blatter - Porque eu amo futebol. Joguei competitivamente o quanto eu pude diante das minhas obrigações profissionais.

Folha - Em que clubes jogou?
Blatter - Eu joguei por muitos clubes em Valais, minha região na Suíça: Visp, Salgesch e Sierre. Também joguei, em nível universitário, quando estudei em Lausanne. Eu até recebi uma proposta de contrato do Lausanne-Sports, que foi nos anos 60 um dos principais clubes da Suíça. Mas meu pai não permitiu que eu aceitasse, dizendo que eu nunca poderia custear minha vida com o futebol e que eu deveria me concentrar nos estudos.

Folha - Com que idade o senhor jogou? E atuou até quando?
Blatter - Eu comecei a jogar em competições aos 14 anos e continuei a atuar competitivamente por 24 anos. Mais tarde, eu joguei como veterano no Neuchâtel Xamax e no Grasshoppers [dois dos principais clubes suíços].

Folha - Em que posição o senhor jogava? Atuou com algum companheiro que veio a ser famoso?
Blatter - Eu era e ainda gosto de ser centroavante. Me dava bem com todos os meus companheiros de time, muitos dos quais fizeram carreira fora do futebol.

Folha - Quem foi seu ídolo?
Blatter - Meu ídolo foi e ainda é Alfredo Di Stéfano, que naquele período estava no auge no Real Madrid, vencendo a Copa dos Campeões cinco vezes seguidas.

Folha - Com que camisa o senhor jogava? Quantos gols marcou?
Blatter - Com a de número 9, que está ligada aos centroavantes desde que os números nas camisas foram introduzidos. Eu marquei muitos gols, mas eu também sofri em duas ocasiões, em 1971 e em 1991, graves contusões.

Folha - Quais eram suas características como jogador?
Blatter - Eu era realmente esperto e nunca tive medo de estar no centro da ação, quando eu podia me machucar às vezes. Cabecear, ao contrário, nunca foi meu forte.

Folha - Quais eram suas ambições como jogador? Atuar na Copa?
Blatter - Em 1954, tive o primeiro contato com a Copa do Mundo quando meu time juvenil estava escalado para jogar uma preliminar em Genebra. Mas infelizmente choveu muito naquele dia, e nosso jogo antes da partida entre França e México foi cancelado para preservar o campo. Meu sonho era jogar pela seleção do meu país.

Folha - Como era sua personalidade em campo? Fale um pouco dos seus técnicos.
Blatter - Eu tinha a mesma personalidade de hoje. Isso é dizer que eu gostava de liderar as pessoas e assumir a responsabilidade. Meus técnicos eram da mesma região. Para mim, como um jovem, eram pessoas para as quais devia muito respeito. Entre os técnicos mais conhecidos que tive, estavam Law Mantula, que treinou o Neuchâtel Xamax, e René Hüssy, do Grasshoppers, que foi treinador da seleção suíça na metade dos anos 70.

Folha - Como era jogar na sua época? E como jogaria hoje?
Blatter - O jogo já era tecnicamente desenvolvido, mas era disputado em um ritmo mais lento. Mentalmente, eu era forte.
Hoje, eu provavelmente poderia trabalhar mais minha força e minha velocidade para obter vantagens na grande área.

Folha - O senhor ainda joga futebol hoje em dia para se divertir? Vai a jogos apenas como torcedor?
Blatter - Eu ainda jogo com velhos amigos. Ser presidente da Fifa não significa que você não pode ir a jogos como um simples torcedor. Ao contrário. O que eu gosto mais é de ir a jogos de juniores ou partidas amadoras em algum lugar da minha região.


Texto Anterior: Mordomia acompanha o mau futebol
Próximo Texto: Dirigente tenta dar dribles para esticar mandato
Índice