São Paulo, terça-feira, 22 de junho de 2004

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BASQUETE

Nirvana

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Os Lakers não souberam responder ao ataque dos Pistons. No começo, foi o "pick and roll". Assim como rolou com Mike Bibby (Sacramento), em 2002, e com Tony Parker (San Antonio), em 2003, o time de Los Angeles consagrou o armador adversário. Os Wallaces, Rasheed e Ben, rebolavam seus traseiros gordos no topo do garrafão, e Chauncey Billups aproveitava os corta-luzes para deitar e rolar nos arremessos. Shaquille O'Neal nunca teve mobilidade lateral para combater essa jogadinha básica. Que dirá com os joelhos e pés estropiados pelos 32 anos e 140 e tantos quilos. É por isso que os Lakers costumam trazer outro jogador para cobrir o "pick and roll". O problema é que essa rotação sacode o garrafão, deixa as coisas um pouco mais confusas do que já são. E é no caos que o outro bom chutador do Detroit, Richard Hamilton, cava suas chances de pontuar. Clone do legendário Reggie Miller, ele dispara de um lado da quadra para o outro aproveitando justamente os corpos em movimento no garrafão para se desvencilhar de seu marcador. Pior, o Laker mais competente para cobrir o "pick and roll", Karl Malone, machucou-se no início do mata-mata. Tremendo desfalque, pois foi ele quem pavimentou a classificação à decisão -nos dois rounds anteriores, anulou Tim Duncan (San Antonio) e intimidou Kevin Garnett (Minnesota). Que azar, em 19 temporadas, se machucar pela primeira vez justamente quando parecia à beira do inédito e tão sonhado título... O Los Angeles, então, teve de recorrer ao artilheiro Kobe Bryant para fazer a cobertura, o que facilitou os "flashes" do pêndulo Hamilton. Ou então abandonar as rotações, botando Kobe para defender sozinho o "pick and roll". Isto deu certo no jogo 4, mas só até Kobe pregar e os Pistons detonarem a terceira arma ofensiva: Rasheed, livre de Malone. Em todos os cinco confrontos, a defesa dos Lakers não soube o que fazer. Detroit sobrou tanto nos tapinhas como nos lances livres, as cestas mais "fáceis". Por fim, com um ataque tão azeitado, cerebral, sem sobressaltos, os Pistons permitiram poucos contra-ataques, retardando a transição californiana, sabidamente lenta por conta das limitações físicas de Shaq. (O badalado pivô é, a rigor, o ponto fraco dos Lakers. Não à toa, Kobe recusa-se a reverenciar a estrela do colega, e os Lakers hoje admitem negociar o gigante.) Assim, além de enfrentar uma defesa fortíssima, que coletivamente converge para a bola, os Lakers precisaram lidar no ataque com a pressão do relógio. O glamouroso triângulo simplesmente não se formava ante um rival aparentemente moldado pelo técnico Larry Brown com o propósito de reescrever a geometria do basquete. O 4 x 1 foi uma ilusão. Um 4 x 0 teria sido mais justo. Os jurados da NBA reconheceram o peso do "pick and roll" e conferiram o prêmio de craque das finais para o unidimensional Billups. Mas o título coroou o jogo coletivo, de execução. Consagrou um time operário que ressaltou o que há de melhor, de mais singular e vertiginoso no esporte. Eu fiquei zonzo, abobado. Ou apenas feliz.

Grunge 1
Mais do que o vice-campeonato (mais um!), cabe lamentar o chocolate que os brasileiros tomaram dos argentinos em ambos os encontros no Sul-Americano Sub-21 masculino: 81 x 64 e 79 x 63.

Grunge 2
Mesmo sem garantia de um bom contrato, o cabeludo Anderson Varejão decidiu ir para as cabeças. O ala-pivô do Barcelona será escolhido na quinta-feira no "draft", o vestibular anual da NBA. O pivô Rafael Araújo, o Baby, há quatro anos nos EUA, também está garantido.

Grunge 3
Boas novas na internet: a volta do pioneiro www.bbheart.com.br e a criação do www.draftbrasil.kit.net, mapa dos contratáveis da NBA.

E-mail melk@uol.com.br


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