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Zico joga para adiar fim de ciclo
Contrato do brasileiro com o Japão termina com saída da equipe da Copa e não deve ser renovado
Ex-jogador, que atuou no futebol japonês no início dos anos 90, diz que fase no país terminou e pode seguir como técnico na Europa
FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A DORTMUND
A menos que o kamisama do
futebol opere um milagre, hoje
chega ao fim a história de 15
anos de Zico no futebol do Japão. Kamisama significa Deus
em japonês. É como os fãs do
esporte no país se referem ao
ex-craque, técnico do time que
hoje enfrenta o Brasil pela última rodada do Grupo C da Copa.
Iniciado em 2002, o contrato
de Zico com a federação japonesa acaba quando o time deixar o Mundial. Por mais que haja chances matemáticas, a probabilidade de vaga hoje é mínima. Para seguir no torneio, o
Japão precisa bater o Brasil por
pelo menos dois gols de diferença e torcer para que a Croácia derrote a Austrália, mas
com um gol a menos do que os
da sua vitória sobre a seleção.
Não há a mínima chance de
Zico renovar. Ele não quer, e
até se irrita se alguém insiste na
questão. E a federação, embora
ainda o tenha como uma referência, também não.
A mídia japonesa diz que os
dirigentes convidarão o brasileiro para ser consultor, mas
Zico rejeita até tal possibilidade, porque quer dar seqüência à
carreira de técnico na Europa.
"Tudo tem seu ciclo, e o meu
no futebol japonês se encerrou.
Como a mosca azul de treinador me mordeu, quero ver se
acho um espaço na Europa.
Acho que é direito meu tentar
dar esse salto, acredito na minha capacidade", disse ontem.
Oficialmente, Zico diz não
ter preferência. Mas vê como
ótimas opções Itália, onde
atuou nos anos 80, e Portugal.
A federação japonesa já decidiu que o substituto não será
um brasileiro. Acossada pelas
críticas da mídia ao trabalho de
Zico, tido como incipiente em
tática, a entidade busca um europeu. Já tentou Arsène Wenger, Aimé Jacquet e Guus Hiddink, e todos recusaram.
Com Zico, o Japão realizou
71 jogos, com 37 vitórias, 16 empates e 18 derrotas. Foi campeão da Copa da Ásia em 2004 e
classificou o time ao Mundial.
Mas não foi capaz de evitar o
sofrível início de Copa, com
derrota para a Austrália e empate com a Croácia, que o fizeram acusar duramente a Fifa de
prejudicar o Japão e geraram
críticas de seus opositores, à
frente o antecessor no cargo, o
francês Philippe Troussier.
"O treinador passado não
gosta do professor Zico, faz
pressão para tirá-lo", conta o
lateral Alex Santos. O brasileiro
do Japão defende com ânimo o
trabalho do chefe. "Antes dele,
o Japão jogava para se defender
e nos erros do adversário, era
uma equipe limitada. Ele deu liberdade para os jogadores, isso
mudou o time", afirma.
A saída iminente de Zico fecha um ciclo muito maior que
os quatro anos nos "samurai
blues" (o apelido da seleção).
Sua história no país remonta a
1991, quando chegou para jogar
no Sumitomo Metals, que viraria Kashima Antlers.
Foi ídolo, o maior do futebol
do país. Nos anos 90, seu auge, a
J-League tinha média de público de 30 mil pessoas/jogo e outros craques internacionais, como Lineker e Stoitchkov. Zico
ganhou estátua, foi dirigente do
Kashima e embaixador da cidade na Copa-2002.
Hoje a freqüência da J-League caiu pela metade, os astros
se foram, o dinheiro diminuiu.
Mas o kamisama sai por cima,
como se percebe na idolatria
que os japoneses mantêm por
ele. "Isso nunca vai mudar. Ele
fez a J-League e mudou a história do nosso futebol", disse o
torcedor Masayuki Okamoto.
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