São Paulo, quinta-feira, 22 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Zico joga para adiar fim de ciclo

Contrato do brasileiro com o Japão termina com saída da equipe da Copa e não deve ser renovado

Ex-jogador, que atuou no futebol japonês no início dos anos 90, diz que fase no país terminou e pode seguir como técnico na Europa


FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A DORTMUND

A menos que o kamisama do futebol opere um milagre, hoje chega ao fim a história de 15 anos de Zico no futebol do Japão. Kamisama significa Deus em japonês. É como os fãs do esporte no país se referem ao ex-craque, técnico do time que hoje enfrenta o Brasil pela última rodada do Grupo C da Copa.
Iniciado em 2002, o contrato de Zico com a federação japonesa acaba quando o time deixar o Mundial. Por mais que haja chances matemáticas, a probabilidade de vaga hoje é mínima. Para seguir no torneio, o Japão precisa bater o Brasil por pelo menos dois gols de diferença e torcer para que a Croácia derrote a Austrália, mas com um gol a menos do que os da sua vitória sobre a seleção.
Não há a mínima chance de Zico renovar. Ele não quer, e até se irrita se alguém insiste na questão. E a federação, embora ainda o tenha como uma referência, também não.
A mídia japonesa diz que os dirigentes convidarão o brasileiro para ser consultor, mas Zico rejeita até tal possibilidade, porque quer dar seqüência à carreira de técnico na Europa.
"Tudo tem seu ciclo, e o meu no futebol japonês se encerrou. Como a mosca azul de treinador me mordeu, quero ver se acho um espaço na Europa. Acho que é direito meu tentar dar esse salto, acredito na minha capacidade", disse ontem.
Oficialmente, Zico diz não ter preferência. Mas vê como ótimas opções Itália, onde atuou nos anos 80, e Portugal.
A federação japonesa já decidiu que o substituto não será um brasileiro. Acossada pelas críticas da mídia ao trabalho de Zico, tido como incipiente em tática, a entidade busca um europeu. Já tentou Arsène Wenger, Aimé Jacquet e Guus Hiddink, e todos recusaram.
Com Zico, o Japão realizou 71 jogos, com 37 vitórias, 16 empates e 18 derrotas. Foi campeão da Copa da Ásia em 2004 e classificou o time ao Mundial.
Mas não foi capaz de evitar o sofrível início de Copa, com derrota para a Austrália e empate com a Croácia, que o fizeram acusar duramente a Fifa de prejudicar o Japão e geraram críticas de seus opositores, à frente o antecessor no cargo, o francês Philippe Troussier.
"O treinador passado não gosta do professor Zico, faz pressão para tirá-lo", conta o lateral Alex Santos. O brasileiro do Japão defende com ânimo o trabalho do chefe. "Antes dele, o Japão jogava para se defender e nos erros do adversário, era uma equipe limitada. Ele deu liberdade para os jogadores, isso mudou o time", afirma.
A saída iminente de Zico fecha um ciclo muito maior que os quatro anos nos "samurai blues" (o apelido da seleção). Sua história no país remonta a 1991, quando chegou para jogar no Sumitomo Metals, que viraria Kashima Antlers.
Foi ídolo, o maior do futebol do país. Nos anos 90, seu auge, a J-League tinha média de público de 30 mil pessoas/jogo e outros craques internacionais, como Lineker e Stoitchkov. Zico ganhou estátua, foi dirigente do Kashima e embaixador da cidade na Copa-2002.
Hoje a freqüência da J-League caiu pela metade, os astros se foram, o dinheiro diminuiu. Mas o kamisama sai por cima, como se percebe na idolatria que os japoneses mantêm por ele. "Isso nunca vai mudar. Ele fez a J-League e mudou a história do nosso futebol", disse o torcedor Masayuki Okamoto.


Texto Anterior: Memória: Revés colocou fim a 40 dias de clausura
Próximo Texto: Treinador esconde a escalação
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.