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José Geraldo Couto
Mendigo do futebol
Ando pelo mundo de chapéu na mão suplicando por
uma linda jogada
"O
PATRIOTISMO é
o último refúgio de um canalha", proferiu celebremente em 1775 o escritor
britânico Samuel Johnson. É essa a frase que me
vem à mente quando vejo
vestidos de verde-e-amarelo tantos brasileiros que
durante o resto do ano
querem mais é que o Brasil se lixe, desde que eles
próprios consigam levar
alguma vantagem.
Ora, o que é a pátria?
Um território comum,
uma língua, um conjunto
de referências, uma bandeira? Tudo isso é meio
compulsório: não temos
escolha. Não há por que
ter orgulho de haver nascido aqui e não ali, deste lado e não do outro da fronteira. Pátria, num sentido
mais amplo, é o que forma
o nosso caráter e a nossa
afetividade. O que nos leva
a ter um sotaque, um humor, um jeito de ser.
Se eu dissesse "Tenho
orgulho de ser brasileiro",
seria uma declaração retórica, vazia, e sobretudo falsa. Não posso ter orgulho
algum de haver nascido e
de viver num país que lidera rankings de desigualdade social, de corrupção, de
violência urbana e rural.
Só tenho orgulho de ser
brasileiro quando penso
nos gols de Pelé, nas canções de Caymmi, nos filmes de Glauber Rocha.
Mas o argentino Maradona também fez gols que
me emocionaram, o norte-americano Cole Porter
também compôs canções
geniais, nenhum cineasta
é maior que o japonês Ozu.
Todo esse discurso só
tem o objetivo de relativizar essa coisa de "torcer
pelo Brasil".
Reencontrei no livro
"Fome de Bola" (Imprensa Oficial), de Luiz Zanin
Oricchio, um parágrafo de
Eduardo Galeano que assino embaixo: "Com o
tempo acabei assumindo
minha identidade: não
passo de um mendigo do
bom futebol. Ando pelo
mundo, de chapéu na
mão, e nos estádios suplico: -uma linda jogada, pelo amor de Deus! E quando acontece o bom futebol, agradeço o milagre
-sem me importar com o
clube ou o país que o oferece". Nesta Copa, até agora, os momentos de bom
futebol não foram proporcionados pela camisa
amarela. Quem sabe hoje?
jgcouto@uol.com.br
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