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Segredos de família
Enquanto Scolari se assume como "paizão" do time português,
Parreira minimiza o papel da harmonia com a equipe brasileira
DO ENVIADO A GELSENKIRCHEN
DOS ENVIADOS A DORTMUND
A torcida mexicana conhece
bem a importância daquela figura que veste agasalho e não
pára de berrar e gesticular na
beira do campo. Por isso, aporrinhou Luiz Felipe Scolari durante toda a partida de ontem.
No final, com o 2 a 1 de Portugal, levou o troco. O treinador
brasileiro esqueceu a etiqueta e
festejou o triunfo fazendo o popular sinal de "banana" na direção daqueles que o xingaram.
Além de mostrar que a intempestividade e outras marcas de seu sucesso profissional
no Brasil estão conservadas
além-mar, a cena dá uma pista
do abismo que separa seu estilo
da postura adotada por seu sucessor na seleção brasileira.
Scolari sempre se mantém na
linha de frente das equipes que
chefia. Busca carregar sobre
seus ombros a responsabilidade mesmo quando está sob
pressão. Era assim quando uma
nação inteira pedia a presença
de Romário na Copa de 2002
-ele não o convocou. Era assim
quando todos achavam que um
Ronaldo recém-saído de contusão não iria brilhar no Mundial
-o atacante fez oito gols na edição do pentacampeonato.
E é assim agora, quando portugueses o indagam sobre a
possibilidade de superar a melhor campanha dos país, terceiro em 1966. "Disse que tínhamos time para passar da primeira fase. Agora, é etapa por
etapa. Caminharemos juntos."
O discurso vai em direção
oposta ao que Carlos Alberto
Parreira fez ontem, véspera do
terceiro jogo do Brasil na Copa.
Após duas atuações nas quais
acabou questionado, o treinador minimizou sua influência.
"Acho que decisivo sempre é
o jogador. O técnico tem sua
participação na formação da
equipe, na filosofia de jogo, na
mudança do ritmo, nas alterações feitas, mas o papel fundamental sempre será dos jogadores", declara o campeão
mundial com o Brasil em 1994.
Ele diz não acreditar que a
harmonia entre comandante e
comandados seja decisiva. Um
claro choque com o estilo do
antecessor, que fez do estilo
"paizão" um dos seus segredos
para a conquista do penta.
Em 2002, de tanto o gaúcho
sair em defesa de seus jogadores e tomar atitudes para unir
os atletas, o grupo ficou conhecido como "família Scolari".
Agora, Portugal vê algo parecido, o que produz cenas curiosas. Até a Eurocopa de 2004,
quando levou Portugal ao vice-campeonato, por exemplo, o
brasileiro não cantava o hino.
Mas percebeu que tal detalhe
criava diferenças entre ele e seu
grupo. Tratou, então, de aprender a letra. Ontem, entoou estrofe por estrofe, cena raríssima entre técnicos que não comandam seus países de origem.
Parece banal, mas são ações
assim que têm arrancado elogios dos atletas. O capitão Luis
Figo e outros companheiros já
pediram para a federação renovar com Scolari até 2008.
Mais racional, Parreira em
nada lembra o emotivo antecessor. É incapaz de fazer, por
exemplo, o gesto que o gaúcho
mandou para os mexicanos.
Estilos tão distintos ainda
podem colidir durante o Mundial. Se vencerem seus duelos,
Portugal e Brasil se encontram
nas semifinais.
(GUILHERME ROSEGUINI, EDUARDO ARRUDA, PAULO COBOS,
RICARDO PERRONE E SÉRGIO RANGEL)
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