São Paulo, quinta-feira, 22 de junho de 2006

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Segredos de família

Enquanto Scolari se assume como "paizão" do time português, Parreira minimiza o papel da harmonia com a equipe brasileira

DO ENVIADO A GELSENKIRCHEN
DOS ENVIADOS A DORTMUND

A torcida mexicana conhece bem a importância daquela figura que veste agasalho e não pára de berrar e gesticular na beira do campo. Por isso, aporrinhou Luiz Felipe Scolari durante toda a partida de ontem.
No final, com o 2 a 1 de Portugal, levou o troco. O treinador brasileiro esqueceu a etiqueta e festejou o triunfo fazendo o popular sinal de "banana" na direção daqueles que o xingaram.
Além de mostrar que a intempestividade e outras marcas de seu sucesso profissional no Brasil estão conservadas além-mar, a cena dá uma pista do abismo que separa seu estilo da postura adotada por seu sucessor na seleção brasileira.
Scolari sempre se mantém na linha de frente das equipes que chefia. Busca carregar sobre seus ombros a responsabilidade mesmo quando está sob pressão. Era assim quando uma nação inteira pedia a presença de Romário na Copa de 2002 -ele não o convocou. Era assim quando todos achavam que um Ronaldo recém-saído de contusão não iria brilhar no Mundial -o atacante fez oito gols na edição do pentacampeonato.
E é assim agora, quando portugueses o indagam sobre a possibilidade de superar a melhor campanha dos país, terceiro em 1966. "Disse que tínhamos time para passar da primeira fase. Agora, é etapa por etapa. Caminharemos juntos."
O discurso vai em direção oposta ao que Carlos Alberto Parreira fez ontem, véspera do terceiro jogo do Brasil na Copa. Após duas atuações nas quais acabou questionado, o treinador minimizou sua influência.
"Acho que decisivo sempre é o jogador. O técnico tem sua participação na formação da equipe, na filosofia de jogo, na mudança do ritmo, nas alterações feitas, mas o papel fundamental sempre será dos jogadores", declara o campeão mundial com o Brasil em 1994.
Ele diz não acreditar que a harmonia entre comandante e comandados seja decisiva. Um claro choque com o estilo do antecessor, que fez do estilo "paizão" um dos seus segredos para a conquista do penta.
Em 2002, de tanto o gaúcho sair em defesa de seus jogadores e tomar atitudes para unir os atletas, o grupo ficou conhecido como "família Scolari".
Agora, Portugal vê algo parecido, o que produz cenas curiosas. Até a Eurocopa de 2004, quando levou Portugal ao vice-campeonato, por exemplo, o brasileiro não cantava o hino.
Mas percebeu que tal detalhe criava diferenças entre ele e seu grupo. Tratou, então, de aprender a letra. Ontem, entoou estrofe por estrofe, cena raríssima entre técnicos que não comandam seus países de origem.
Parece banal, mas são ações assim que têm arrancado elogios dos atletas. O capitão Luis Figo e outros companheiros já pediram para a federação renovar com Scolari até 2008.
Mais racional, Parreira em nada lembra o emotivo antecessor. É incapaz de fazer, por exemplo, o gesto que o gaúcho mandou para os mexicanos.
Estilos tão distintos ainda podem colidir durante o Mundial. Se vencerem seus duelos, Portugal e Brasil se encontram nas semifinais. (GUILHERME ROSEGUINI, EDUARDO ARRUDA, PAULO COBOS, RICARDO PERRONE E SÉRGIO RANGEL)


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