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FUTEBOL
Pontos corridos
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO
Há uma certa torcida espírito de porco para que o
Campeonato Brasileiro por pontos corridos não dê certo. Parte
dos que torcem pelo fracasso surfou em reportagem publicada pela Folha na semana passada, na
qual constatava-se o declínio de
público da competição.
O ex-deputado Eurico Miranda, por exemplo, paladino do
Vasco, aproveitou a deixa para
dizer que vai se empenhar pela
volta do formato anterior.
Engraçado. Fui conferir o público auferido pela agremiação
cruzmaltina no Brasileiro do ano
passado. Teve, em média, 5.234
pessoas em seus jogos. Foi a 21ª
média da competição.
Deve ser porque o Vasco não
participou do salvador mata-mata, certo? Provavelmente sim, mas
o Paysandu também não participou -foi o 20º colocado- e registrou a melhor média do campeonato, com 23.242 pagantes.
Como números servem para tudo, uma conclusão possível seria
dizer que a melhor saída para o
Brasileiro é ter clube "pequeno"
chegando nas últimas posições. Se
bem que o São Caetano, embora
"pequeno" , foi mal de público.
Bem, vai ver que é porque ele chegou ao desejado e redentor mata-mata -e em segundo lugar! Com
isso, acabou o campeonato apenas com a 25ª média (3.172).
O Brasileiro do ano passado teve o melhor público dos últimos
dez anos, mas a média não chegou a 13 mil. Em 2000 e 2001, o
público ficou abaixo de 12 mil. É
preciso refletir um pouco mais sobre as causas de médias tão baixas. Todas as fórmulas possíveis
de campeonato já foram testadas.
A constatação, óbvia, é que não
é o formato da competição, em si,
que determina o êxito de público.
O problema é estrutural. Do
ponto de vista da gestão da atividade, o que temos é um monumento à ineficiência, ao prejuízo
e à corrupção, que já não se autofinancia nem mesmo com a venda de seus últimos ovos de ouro,
os cada vez mais jovens talentos.
Para ser rentável, o futebol brasileiro precisaria organizar-se
empresarialmente, com regras
para atrair investidores e aumentar receitas. Isso significaria, entre
outras coisas, calendário decente
e melhores estádios, com público
de maior poder aquisitivo.
O campeonato por pontos corridos é apenas uma peça -importante- do calendário. É a fórmula mais justa e a que mantém os
times mais tempo em atividade.
No Brasil, ela ainda está no primeiro ano e incompleta, uma vez
que deveria incluir a disputa por
vagas para as copas continentais,
isto é, a Libertadores e a Sul-Americana -que equivaleriam à Copa dos Campeões e à da Uefa.
A CBF, escandalosamente, só
estipulou as vagas para a Taça Libertadores, reduzindo o interesse
do bloco intermediário do campeonato.
Quanto ao calendário, deveria
seguir as férias européias e não
concentrar Copa do Brasil e Libertadores no mesmo semestre
-já que os que disputam a segunda não podem participar da
primeira. Enfim, as coisas são
mais complexas do que gostar ou
não de mata-mata.
Troca-troca de técnicos
A média de troca de treinadores no Brasileiro é de cerca de
uma por rodada. Um verdadeiro festival, a demonstrar que o
futebol brasileiro não consegue
livrar-se dessa dinâmica ciclotímica. O mais curioso é que esse
troca-troca não tem, em geral,
nenhum efeito mais significativo ao longo do tempo. Trata-se
quase sempre de uma satisfação à torcida, diante da incapacidade de o clube melhorar o
elenco. Esse é o caso típico dos
três cariocas, Vasco, Fluminense e Flamengo, que estão precisando, mais do que tudo, de
planejamento e jogador. Com
esse elenco, fico me perguntando o que Oswaldo de Oliveira
conseguirá fazer no Flamengo a
mais do que Nelsinho, que foi
vice da Copa do Brasil. E o que
Joel fará no Flu, além de uma
bela retranca?
E-mail mag@folhasp.com.br
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