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São Paulo, terça-feira, 22 de julho de 2003

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FUTEBOL

Pontos corridos

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO

Há uma certa torcida espírito de porco para que o Campeonato Brasileiro por pontos corridos não dê certo. Parte dos que torcem pelo fracasso surfou em reportagem publicada pela Folha na semana passada, na qual constatava-se o declínio de público da competição.
O ex-deputado Eurico Miranda, por exemplo, paladino do Vasco, aproveitou a deixa para dizer que vai se empenhar pela volta do formato anterior.
Engraçado. Fui conferir o público auferido pela agremiação cruzmaltina no Brasileiro do ano passado. Teve, em média, 5.234 pessoas em seus jogos. Foi a 21ª média da competição.
Deve ser porque o Vasco não participou do salvador mata-mata, certo? Provavelmente sim, mas o Paysandu também não participou -foi o 20º colocado- e registrou a melhor média do campeonato, com 23.242 pagantes.
Como números servem para tudo, uma conclusão possível seria dizer que a melhor saída para o Brasileiro é ter clube "pequeno" chegando nas últimas posições. Se bem que o São Caetano, embora "pequeno" , foi mal de público. Bem, vai ver que é porque ele chegou ao desejado e redentor mata-mata -e em segundo lugar! Com isso, acabou o campeonato apenas com a 25ª média (3.172).
O Brasileiro do ano passado teve o melhor público dos últimos dez anos, mas a média não chegou a 13 mil. Em 2000 e 2001, o público ficou abaixo de 12 mil. É preciso refletir um pouco mais sobre as causas de médias tão baixas. Todas as fórmulas possíveis de campeonato já foram testadas.
A constatação, óbvia, é que não é o formato da competição, em si, que determina o êxito de público.
O problema é estrutural. Do ponto de vista da gestão da atividade, o que temos é um monumento à ineficiência, ao prejuízo e à corrupção, que já não se autofinancia nem mesmo com a venda de seus últimos ovos de ouro, os cada vez mais jovens talentos.
Para ser rentável, o futebol brasileiro precisaria organizar-se empresarialmente, com regras para atrair investidores e aumentar receitas. Isso significaria, entre outras coisas, calendário decente e melhores estádios, com público de maior poder aquisitivo.
O campeonato por pontos corridos é apenas uma peça -importante- do calendário. É a fórmula mais justa e a que mantém os times mais tempo em atividade.
No Brasil, ela ainda está no primeiro ano e incompleta, uma vez que deveria incluir a disputa por vagas para as copas continentais, isto é, a Libertadores e a Sul-Americana -que equivaleriam à Copa dos Campeões e à da Uefa.
A CBF, escandalosamente, só estipulou as vagas para a Taça Libertadores, reduzindo o interesse do bloco intermediário do campeonato.
Quanto ao calendário, deveria seguir as férias européias e não concentrar Copa do Brasil e Libertadores no mesmo semestre -já que os que disputam a segunda não podem participar da primeira. Enfim, as coisas são mais complexas do que gostar ou não de mata-mata.

Troca-troca de técnicos
A média de troca de treinadores no Brasileiro é de cerca de uma por rodada. Um verdadeiro festival, a demonstrar que o futebol brasileiro não consegue livrar-se dessa dinâmica ciclotímica. O mais curioso é que esse troca-troca não tem, em geral, nenhum efeito mais significativo ao longo do tempo. Trata-se quase sempre de uma satisfação à torcida, diante da incapacidade de o clube melhorar o elenco. Esse é o caso típico dos três cariocas, Vasco, Fluminense e Flamengo, que estão precisando, mais do que tudo, de planejamento e jogador. Com esse elenco, fico me perguntando o que Oswaldo de Oliveira conseguirá fazer no Flamengo a mais do que Nelsinho, que foi vice da Copa do Brasil. E o que Joel fará no Flu, além de uma bela retranca?

E-mail mag@folhasp.com.br


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